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   Às vezes eu fico triste.

   Não, eu não fico triste, eu acordo triste, eu passo o dia todo triste.

   Às vezes, eu sonho que estou afogando no meu próprio oxigênio. Sonho com palavras horríveis e com vozes altas, sonho com inquietude e sonho com um fim para tudo aquilo.

   Esses dias não são bons para ninguém – nem para minha mãe, nem para meu padrasto, nem para meus gatos, nem para mim. A cada passo que eu dou, sinto que eu vou torcer os dois tornozelos, sinto que vou cair e sinto que o ar vai prender na minha garganta. Nesses dias, sinto medo de esquecer como é respirar.

   Eu faço tudo certo, aguento tudo enquanto concordo com a cabeça, não implico, não critico, tudo para não fazer com que o dia fique pior e pior, mas não adianta, ele só derrapa. Passo o dia sem saber o que fazer, se devo fazer algo, em uma montanha-russa emocional na qual uma parte me faz esconder tudo com sorrisos e vídeos engraçados, e a outra só quer desabar e chorar e ficar por lá mesmo.

   Às vezes, sinto vontade de passar o dia todo na cama, sem fazer nada, queria não pensar em nada, mas não funciona.

   Às vezes ligo uma playlist no meu Spotify, fumo um par de cigarros e passo o dia tentando desenhar. Quebro lápis, rasgo papéis, até mesmo já quebrei uma tela, isso tudo porque eu não sou bom o suficiente e nem nunca vou ser.

   Às vezes, eu quero pedir socorro, quero gritar em plenos pulmões que não aguento mais, e que preciso de ajuda, mas minto dizendo que não a quero. A verdade, é que o medo de ninguém tentar nos socorrer é sempre maior do que a de pedir ajuda em si.

   Às vezes, passo o dia todo com enxaqueca, com dores no corpo, passo o dia em silêncio, e durmo assim que o sol se põe, porque minha mente está cansada demais para permanecer me auto-sabotando.

   Às vezes, eu me pergunto se essa é mesmo a vida, se todo mundo passa por isso, se é normal, ou se eu deveria buscar ajuda, porque ninguém merece se sentir desse jeito. Mas é como se minhas cordas vocais parassem de funcionar, minha garganta se congestionasse, como uma reação alérgica.

   Nessa sexta-feira, meu coração bate com dor. Meus ouvidos doem, e eu penso que talvez perder todos os sentidos e todos os resquícios da minha consciência fará com que eu me sinta melhor, então eu durmo.

   E durmo, e durmo e durmo.

   E a paz é tão boa que, por um momento, desejo nunca precisar acordar.

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