8. O CARA DE CAPUZ PRETO

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ENQUANTO CAMINHAVA para a casa da Tia Norma, minha mente se enchia de preocupações e meu corpo de calafrios, em partes porque não estava vestindo nada além das minhas calças de dormir e o sobretudo por cima, e outra porquê de fato não sabia nem uma minúscula parte da história na qual eu estava metida, tantas coisas que eu nem sequer imaginava ouvir um dia, e o pior, o que havia acontecido com o Clant? Nem sei se ele está bem.

Senti uma raiva de mim mesma por não ter questionado mais o meio vallir, ele deixou claro que existem coisas que eu não sei, mas que vou ficar sabendo em breve.

As ruas estavam calmas, e silenciosas pareciam em estado de ressaca pela noite anterior, mal havia chegado à casa e pude notar o carro do meu pai no jardim logo atrás estava meu irmão colocando as malas no fundo.

A frase "Você vai dar um jeito" que saiu da boca do Vallir mais cedo, ecoavam na minha cabeça repetidas vezes. Me aproximei de Greg e ele apenas apontou a mala no chão.

—Aí está você, pega aquela ali mana, a menor delas —ele falou com pressa.

Eu não podia voltar a minha cidade, mesmo que quisesse já não podia ser uma decisão minha. Entreguei a mala ao meu irmão e segui adentro, a sala estava vazia então subi direto ao quarto em que meus pais estavam instalados, a porta estava entre aberta, mesmo assim bati três vezes e entrei, encontrei minha mãe quase dentro do guarda-roupa.

—Greg? Sua irmã já voltou? —disse ainda com a cabeça no guarda-roupa.

—Sou eu mãe.

—Ah até que enfim, estava procurando minha boina azul...

—Mãe, eu quero ficar mais um pouco com a tia Norma.

—Você o viu por acaso? É azul-escuro e...

—Não Mãe —disse cortando. —Escutou o que eu disse?

—Ah, perdão filha. O que você dizia mesmo?

—Vou ficar mais um pouco aqui em Elora, ainda estou de férias, e vou fazer companhia a Tia Norma.

—Quer ficar mesmo?

—Sim

—Pela Tia Norma ou pelo seu amigo boa pinta?

—Mãe!!!—reclamei em partes pela suposição dela e em partes pela gíria pré histórica "boa pinta".

—Okay parei. Se vai ficar então saiba que no mínimo uma semana antes de acabar as férias quero você em casa. E nada de sair e voltar tarde. Sem festas e...

—Mãe, esqueceu que está falando de mim? Festas??

Ela sorriu descontroladamente e esperei ela terminar e pegar ar para continuar.

—Só quero aproveitar um pouco aqui. Mais calmo que na cidade.

—Certo, vou convencer seu pai caso ele pegue no pé. —disse piscando para mim. —Agora me ajude a achar essa boina.

Passei alguns minutos procurando a boina junto com ela, enquanto isso minha mente vagava entre os últimos acontecimentos, o meu suposto futuro, o desaparecimento sem prévia de Clant, misterioso meio Vallir que me confunde com outra pessoa, a ave azul, a terra de Slanfar, tudo parecia sem conexões. E se eu não for um meio vallir. Afinal de contas eu não sou essa tal de "Ahir". Se bem que Clant disse que eu sou a portadora.

Quando finalmente estava desistindo encontrei a boina da minha mãe, desci as escadas com um aperto no coração, me deixarem ficar com a Tia Norma por uns tempos é a prova de que confiam em mim.

Quando estava no jardim olhei atentamente a imagem em minha frente, meus supostos pais e meu irmão, era evidente que minhas características físicas não se assemelhavam com eles a ponto de ser da família, minha mãe ruiva com sardas espelhadas pelo rosto, que por sinal Greg havia herdado, e meu pai ela loiro e calvo. Evitei pensar nessa hipótese de não ser filha deles, não podia me abater, não antes de saber a verdade.

Meus pais se aproximaram de mim e me deram um breve abraço, nesse momento me enchi de incertezas, não sei se vou poder vê-los outra vez, ou quanto tempo ficarei aqui e até mesmo se vou sair viva dessa história.

Lutava em reprimir as lágrimas quando minha se Mãe se limitou a dizer "Não dê trabalho a sua Tia, não saia tarde, retorne antes das 11h, e se houver alguma novidade... loira de olhos bonitos..., me avise". Tive que rir e rolar os olhos no final e seguida de uma expressão de ânimo ela entrou no carro. Meu pai apenas disse beijando minha testa, "Quando quiser volta me avise querida" e meu irmão Gregor não muito acostumado a despedidas passou a mão na minha cabeça assanhando meu cabelo.

Tive a pior sensação. Eu acredito que não vou ver minha família por um tempo. Me senti estranhamente sozinha, sempre vivi com meus pais até então. Não que eu não fosse viver com eles novamente. Afinal minha vida inteira está em Toronto. Ao menos a vida que eu estava acostumada.

Observei o carro desaparecer por entre a pista nevada de Elora. Tia Norma, agora já consciente estava com uma mão no coração. Sempre uma pessoa bem sentimental.

—Vou sentir falta deles, ainda bem que deixaram você —disse ela com os olhos de gude preta fixos no carro já distante. Pensando bem ela me lembrava um guaxinim. Assenti com a cabeça.

—Tia! —ela se virou para mim para eu continuar. —Lembra do recado que me deu hoje pela manhã?

A observei franzir a testa como se isso a ajudasse pensar melhor.

—Não meu bem. Que recado?

—Nada, eu me confundi.

E assim passei meu dia usando meu cérebro para analisar as inúmeras possibilidades sobre como a minha vida seria. E pensar como em como vou fazer para descobrir sobre minha verdadeira origem, e agora que não tenho mais contato com Clant? Só me resta uma alternativa. O cara do Capuz preto.


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