4. ESTAMOS A SÓS NOVAMENTE

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"BEM, VOCÊ CONSTRUIU UM MUNDO, porque sua vida real é trágica. É, você construiu um mundo, se não é real, você não pode segurar em suas mãos, você não pode sentir com seu coração, e eu não vou acreditar, mas se é verdade, você pode ver com seus olhos. Oh, até mesmo no escuro. E é onde eu quero estar, yeah"

Estava finalmente voltando para casa e ouvir "Castelos de lama" da banda Blinck me fazia lembrar incansavelmente de Slanfar, posso dizer que essa letra combina com a minha real situação, exceto pela vida trágica. Não vou exagerar.

Ser liberada do hospital não foi tão difícil quanto eu imaginava, apenas fiquei algumas horas a mais no soro, recebi umas instruções. E é claro um pouco de sermão do meu pai por, possivelmente tentar nadar no lago gelado. Mas confesso que não liguei muito para todas as reclamações. Eu definitivamente não havia tentado suicídio. Algo estava mal encaixado.

Minha curiosidade para ver a ave supostamente enterrada era tanta que eu até tentei convencer meus pais a me deixarem na rua mais próxima do lago, já que havia ficado quase dois dias em coma. Então usei o pretexto de andar um pouco para exercitar, respirar ar puro, mas foi em vão. Será que estão pensando que virei suicida?

Minha tarde foi monótona. Na chegada à casa da Tia Norma tinham umas pessoas que souberam o que havia acontecido comigo e foram me visitar, já estava até imaginando o meu recente título "A suicida do lago Ness". Dei um cumprimento frio a todos e fui para o meu quarto de hóspedes. Não demorou muito e eu já havia arquitetado um plano para sair sem ser percebida, mas precisava esperar anoitecer, então tomei banho, guardei a mochila que estava com minhas coisas do hospital, deitei na cama e passei horas ouvindo música até adormecer.

Acordei às dez e trinta com o despertador tocando, peguei meu celular coloquei na minha mochila, vesti uma calça jeans azul escuro e um casaco preto por cima de uma blusa verde com mangas longas, já que não quis usar cachecol deixei meus cabelos soltos. Era o momento de esperar que todos fossem dormir, fui até a porta e ouvi vozes abri um pouco e eram meus pais conversando no corredor.

—Acho que não devemos ir e deixar ela dormir, ela deve estar cansada Tullio. Recebeu alta tem poucas horas.

—Está certo, então deixamos Gregor ir com o amigo dele.

Do que estavam falando? Pensei em ir perguntar, mas eles veriam minha roupa e meu disfarce seria descoberto. Peguei meu celular para ver o horário.

- Mas que droga! -murmurei um pouco mais alto do que devia.

Assim que olho para o celular vi a data em um canto, era o último dia do ano, em resumo as ruas iriam estar cheias e ninguém ia dormir cedo. O jeito era convencer meus pais a irem.

E assim foi como planejado, desci para as ruas frias e nevadas de Elora. Convencer meus pais não foi fácil, eles queriam ficar em casa me olhando, mas eu disse que ia dormir e não precisava que eles ficassem comigo. Por fim levaram os celulares para qualquer possível emergência eu ligar. No entanto ainda tive que lidar com a Tia Norma, eu não podia simplesmente sair pela porta da frente, quando deveria estar dormindo. A oportunidade veio quando as amigas dela apareceram. Sai discretamente dando a volta pela casa, passando pelas portas do fundo e seguindo em direção ao lago.

O caminho estava bonito e bem iluminado, havia nevado poucas horas atrás de modo que estava quase tudo branco. As árvores, os postes, bancos de rua, casas, todos repleto de flocos de neve. Um dos motivos pelo qual eu amo neve, é que ela padroniza todo o ambiente, não há diferenças entre as paisagens. Fica tudo harmonioso como se fossem criados pela natureza.

Alguns minutos depois de sair da casa tive a impressão de ver um vulto atrás de mim, olhei para trás e a única coisa que via era neve, caindo das árvores, ao menos não era meu irmão querendo me meter em problemas. Continuei seguindo e torcendo para não deparar com meus pais.

O Portal Para Slanfar - A DESCOBERTAWhere stories live. Discover now