XI Inverno de 1972

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— Clarisse, – meu pai segurou as mãos de minha mãe – tem algo errado acontecendo aqui. Eu não sei o que é, se é algum tipo de experiência do governo ou...

— Pare já com isso, Ramon. – Eu nunca a havia visto falar com meu pai daquela forma. – Não dá pra negar, Ramon, se existe o mal, também existe o bem. O que está ocorrendo aqui é sobrenatural. Não é deste mundo.

Meu pai a olhou com os olhos assustados e então concordou com a cabeça.

— Ore para o seu Deus, Clarisse, – ele disse – nós precisamos chegar até o heliporto. O diretor, o Raul, vai estar lá. Ele garantiu lugar pra nós, mas temos que chegar no máximo até às oito da noite. Temos apenas uma hora.

— E a Helen? Eu não vou deixar ela aqui. – Disse eu.

— Filho, – falou meu pai – nós nem mesmo sabemos mais quem é quem aqui. Talvez ela não seja mais ela.

— O velho Pessoa nos avisou e você não deu ouvidos a ele, agora você quer fugir daqui como um covarde e as pessoas que se danem?

— Artur não fale assim com seu pai.

— Não dá pra salvar todo mundo, filho. – Eu pude sentir a vergonha na voz de meu pai.

— Mas dá pra salvar ela, – falei e me levantei indo ao meu quarto.

— Nós já vamos sair, Artur, esteja pronto. – Falou meu pai abaixando a cabeça. Ele só queria o melhor para nós. Hoje eu o entendo.

Eu era jovem e impetuoso, não iria deixar a Helen pra trás. Abri a gaveta onde eu havia deixado o revólver que o velho Pessoa me dera, embaixo das minhas roupas. Durante os últimos dias eu havia me dedicado a aprender como aquela coisa funcionava. Descobri que não era lá muito complicado de utilizar. Coloquei-a às costas sob a camiseta, peguei um walkie-talkie e deixei o outro em cima da cama pro meu pai o encontrar depois e podermos nos comunicar. Enfiei uma lanterna na mochila e saltei a janela.

Sombreado estava mais escura que o normal, não havia luzes acesas nos postes e qualquer um que ainda não tivesse morrido e sido possuído pela coisa estava à flor da pele, portanto o risco vinha dos vivos e dos ressurretos.

Avistei a casa da Helen, as luzes estavam apagadas, espiei pela varanda e não consegui ver nada lá dentro. Contornei a casa pé ante pé. A luz do quarto de Helen estava acesa e eu aproximei os ouvidos da janela tentando ouvir alguma coisa, mas sem sucesso. Resolvi arriscar, saquei a pistola e a segurei com uma das mãos, com a outra dei três batidinhas leves na janela. Uma sombra se aproximou do lado de dentro e parou próxima ao vitral.

— Helen? – Sussurrei.

— Artur? – Ela respondeu.

— Eu vim buscar você, abre a janela.

— Não dá, tá trancada. Ele trancou a casa toda e me deixou aqui.

— E porque ele fez isso?

— Artur... Tem alguma coisa errada. Ele, aquela... coisa... disse que me daria a chance de fazer voluntariamente. Aquilo não é meu pai.

— Fazer? Fazer o quê?

De onde estava eu pude ouvi-la suspirar.

— Ele quer que eu me mate.

— O quê?

— Essa coisa no corpo do meu pai é sádica. Ele quer que eu me mate pra... eu não sei, Arthur... ele disse que eu vou ser melhor.

Helen começou a chorar.

— Eu vou tirar você daí, tem um helicóptero esperando a gente, mas nós temos apenas quarenta minutos.

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