— Clarisse, – meu pai segurou as mãos de minha mãe – tem algo errado acontecendo aqui. Eu não sei o que é, se é algum tipo de experiência do governo ou...
— Pare já com isso, Ramon. – Eu nunca a havia visto falar com meu pai daquela forma. – Não dá pra negar, Ramon, se existe o mal, também existe o bem. O que está ocorrendo aqui é sobrenatural. Não é deste mundo.
Meu pai a olhou com os olhos assustados e então concordou com a cabeça.
— Ore para o seu Deus, Clarisse, – ele disse – nós precisamos chegar até o heliporto. O diretor, o Raul, vai estar lá. Ele garantiu lugar pra nós, mas temos que chegar no máximo até às oito da noite. Temos apenas uma hora.
— E a Helen? Eu não vou deixar ela aqui. – Disse eu.
— Filho, – falou meu pai – nós nem mesmo sabemos mais quem é quem aqui. Talvez ela não seja mais ela.
— O velho Pessoa nos avisou e você não deu ouvidos a ele, agora você quer fugir daqui como um covarde e as pessoas que se danem?
— Artur não fale assim com seu pai.
— Não dá pra salvar todo mundo, filho. – Eu pude sentir a vergonha na voz de meu pai.
— Mas dá pra salvar ela, – falei e me levantei indo ao meu quarto.
— Nós já vamos sair, Artur, esteja pronto. – Falou meu pai abaixando a cabeça. Ele só queria o melhor para nós. Hoje eu o entendo.
Eu era jovem e impetuoso, não iria deixar a Helen pra trás. Abri a gaveta onde eu havia deixado o revólver que o velho Pessoa me dera, embaixo das minhas roupas. Durante os últimos dias eu havia me dedicado a aprender como aquela coisa funcionava. Descobri que não era lá muito complicado de utilizar. Coloquei-a às costas sob a camiseta, peguei um walkie-talkie e deixei o outro em cima da cama pro meu pai o encontrar depois e podermos nos comunicar. Enfiei uma lanterna na mochila e saltei a janela.
Sombreado estava mais escura que o normal, não havia luzes acesas nos postes e qualquer um que ainda não tivesse morrido e sido possuído pela coisa estava à flor da pele, portanto o risco vinha dos vivos e dos ressurretos.
Avistei a casa da Helen, as luzes estavam apagadas, espiei pela varanda e não consegui ver nada lá dentro. Contornei a casa pé ante pé. A luz do quarto de Helen estava acesa e eu aproximei os ouvidos da janela tentando ouvir alguma coisa, mas sem sucesso. Resolvi arriscar, saquei a pistola e a segurei com uma das mãos, com a outra dei três batidinhas leves na janela. Uma sombra se aproximou do lado de dentro e parou próxima ao vitral.
— Helen? – Sussurrei.
— Artur? – Ela respondeu.
— Eu vim buscar você, abre a janela.
— Não dá, tá trancada. Ele trancou a casa toda e me deixou aqui.
— E porque ele fez isso?
— Artur... Tem alguma coisa errada. Ele, aquela... coisa... disse que me daria a chance de fazer voluntariamente. Aquilo não é meu pai.
— Fazer? Fazer o quê?
De onde estava eu pude ouvi-la suspirar.
— Ele quer que eu me mate.
— O quê?
— Essa coisa no corpo do meu pai é sádica. Ele quer que eu me mate pra... eu não sei, Arthur... ele disse que eu vou ser melhor.
Helen começou a chorar.
— Eu vou tirar você daí, tem um helicóptero esperando a gente, mas nós temos apenas quarenta minutos.
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Sombreado
हॉररArtur Chagas é um adolescente nos anos 70 que se muda com a família para o vilarejo de Sombreado quando seu pai é transferido pela mineradora onde trabalha. Após um terrível acidente durante a explosão de uma das minas, uma força ancestral retorna...