V - Verão de 1972

11 8 13
                                    

Seriam, no mínimo, 24 horas para que uma equipe de resgate chegasse em Sombreado. Voluntários entraram no lago em uma tentativa fútil, mas honesta, de resgate no decorrer de todo o dia.

A noite caiu, como sempre, cedo demais.

Já era tarde quando conseguiram retirar Helen das margens do lago.

Roy Caniço se culpava, meu pai também.

Deixar Helen sozinha não era algo que eu aceitasse bem. É claro que havia um bocado de senhoras se dispondo a passar a noite com ela. Matheus Herrera era viúvo e agora deixava uma filha órfã. Eram onze da noite quando saltei pela janela do meu quarto e fui até a casa dos Herrera.

As luzes estavam acessas e do jardim pude ver pela varanda duas mulheres conversando e tomando chá na sala de estar. Me dirigi até os fundos e quando pensei em bater na janela do quarto de Helen, ela a abriu.

— Você demorou a chegar. – disse com os olhos vermelhos e a voz ainda naturalmente embargada.

— Bem, eu não tinha certeza se deveria.

— É claro que deveria, eu não vou ficar aqui enquanto meu pai pode estar lá precisando de ajuda.

Pensei em dizer algo que a trouxesse a realidade, mas seu olhar me fez mudar de ideia. Saímos, fomos até a beira do lago e nos sentamos à margem. A luz da lua cheia, tão alta quanto um lustre sobre nossas cabeças, impedia que a escuridão nos envolvesse completamente.

— Alguma coisa me diz que ele tá vivo, sabe? – Disse ela.

Abaixei a cabeça e me encolhi sem saber o que dizer. Helen pegou uma pedra e a atirou no lago, desta vez ele a engoliu sem maiores delongas.

— Essa merda de lugar. Talvez aquele velho tenha razão e isso aqui seja mesmo amaldiçoado – disse ela.

— Seu pai estava tentando salvar a vida de um homem, ele foi o cara mais corajoso que já conheci na vida.

— Não ouse se referir a ele no passado.

— Não foi o que eu quis dizer, eu só...

Helen enfiou a cabeça entre os joelhos e começou a chorar.

— Me desculpe. – Eu disse.

Ela me abraçou e eu a abracei de volta.

— Não, me desculpe você. – Ela falou - Tudo que eu quero, que tenho que aceitar, é pelo menos dar ao meu pai um enterro descente. Me promete que a gente vai achar o corpo dele.


Ficamos ali abraçados.

Helen chorava sobre o meu peito até que ouvi o som de águas se movendo.

Quando vi senti o coração entalar minha garganta.

Uma mão saltou para fora do lago como as mãos de um afogado pedindo ajuda. Helen sentiu meu corpo se retesar e também olhou. E viu.


SombreadoWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu