Não somos muitos.

Siria recolhe as roupas, com sua altura miúda, batendo em meus joelhos. Eu mesmo recolheria, mas eles foram feitos para nos auxiliar em tarefas simples.

As mais complexas são confiadas apenas à Espécie.

Segurança, saúde, ciência, arte e auxiliares. O trabalho vai de seis da manhã ás seis da tarde, durante os cinco dias da semana. Após as seis, seguem as atividades complementares, para manutenção da saúde e bem estar da Espécie.

Existe a parte segregada de indivíduos, que tem o turno oposto ao restante.

Eu não sou defeituoso o suficiente para fazer parte dela, mas faço o tratamento necessário para contenção das atividades anormais em meu organismo. Medicamento diário, supressores. Nada mais. Levo uma vida normal, igual aos outros indivíduos.

E os pequenos defeitos me renderam algumas características a mais. Eu poderia fazer parte de praticamente qualquer grupo, porque desenvolvi meu sistema mais que os demais. Não me lembro como aconteceu, mas aos poucos descobri que poderia aprender rapidamente qualquer coisa, e que consigo dar forma ás memórias da Espécie com perfeição.

Há um padrão, e desde que você o siga, o funcionamento de todas as coisas será correto. Aprender isso foi fácil também.

Desligo rapidamente a água, saindo do lavabo e me secando, vestindo. Era quase oito e trinta, o horário da Mensagem.

_Os sentimentos destruíram o homem. Amor é ódio. Ódio é não ter escrúpulos. E isso leva á morte. Mas o Olho salvou A Espécie, que se tornou um só. Você se tornou apenas você mesmo. Salve A Espécie. Mantenha sua mente blindada. Não tocar. Não sentir. Proteger. Isso nos faz fortes. O Olho vê você. O Olho é você.

Ela vinha acompanhada do hino da Espécie, imagens ilustrando o passado da humanidade. Era diária, pontual, infalível. Decorada por todos.

Assim que termina, desligo todos os aparelhos, decidindo descansar. Teria um longo dia pela frente.

As características dos artistas me incomodam um pouco. Me fazem ter o que o laboratório chama de "sonhos" com uma frequência considerável. Fecho os olhos, começando uma meditação para esvaziar a mente e evitar esses eventos. Foi o que os cientistas me recomendaram.

_Os supressores. _É a voz de Siria. Estico a palma e o robô deposita as cápsulas em minha mão. Coloco na boca, elas desintegram sendo rapidamente absorvidas. Num instante adormeço. No outro dia a rotina se inicia ás cinco da manhã, pontualmente. Levantar, comer, me lavar, vestir. Trabalhar. Comer. Voltar ao trabalho. Sair.

Abro os olhos com o som do despertador, sentando-me na cama. É hora de recomeçar.

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_Bom dia. _Falo ao chegar á sala. Jimin acena com a cabeça, respondendo baixo. Sua mesa é ao lado da minha. Ligo a tela. Ele está criando o céu. Apenas as formas. Elas podem ser preenchidas por diversas cores. Laranja, rosa, roxo, azul.

E leva tempo para criar um espaço como esse.

Ele é artista, no entanto é extremamente habilidoso. As memórias dele devem ser aprimoradas.

_Tem alguma coisa no meu rosto? _Ele pergunta sem olhar para mim, ainda concentrado em sua tela. Só então noto quanto tempo passei o observando, mesmo que minha própria tela já estivesse ligada, aguardando os comandos.

_Não. _respondo, voltando á minha atividade. Isso acontece ás vezes. Acabo pensando por longos espaços de tempo. Inatividade não é aceitável, então me apresso em voltar ao que fazia.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora