Tremor (Prólogo parte 2)

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Deve ser o cansaço, está me alterando.

_Me parece cansado.

_Vou bem. _asseguro-lhe, me voltando para a tela, agora ligada. Ele sempre trabalhou ao meu lado? Ou era Namjoon?

Namjoon está a minha frente, de repente não tenho certeza de que sempre foi assim.

A tela carregada mostra a palheta de cores. Seguro firme no metal, buscando apoio para tentar focar. Aperto os dedos. Sem bocejos. Posso esperar até a noite para dormir. Pisco algumas vezes, afastando qualquer pensamento, já que precisava focar para construir os arquivos.

Olho de soslaio para Taehyung, por apenas um instante. Os diálogos em geral eram simples, curtos e francos. Ou pelo menos pareciam ser. As pessoas tinham linhas curvas nos lábios, enquanto conversavam educadamente. Sempre cumprimentos, informações vazias. Vou bem. Adoeci, mas melhorei. Pergunta, resposta, sem réplica. Talvez todos fossem mesmo o Olho.

Vigiando todos.

Pego o pincel, começando o desenho. Há tanto a ser criado, aperfeiçoado e mudado... Não se pode parar, principalmente pelos pintores serem tão poucos. Há um mundo vazio lá fora, para ser organizado.

Eu quero ver cores nesse mundo.

Uma vez que começo, o tempo parece correr. Num instante o sinal baixo se faz ser ouvido, e me encaminho para o refeitório. Bebida essencial. Barra essencial. Hoje a barra tem o mesmo gosto dos tijolos de amanhã. Não experimentei os tijolos, mas é. O cansaço. Não sei se quero tudo, mas não importa muito. Porque é a rotina.

Terminando a refeição com algum esforço, deixo o local. Alguns minutos para retornar ao trabalho.

Caminho devagar de volta ao andar do prédio. Tevês ao longo dos corredores estão ligadas. Passam mensagens sobre o Olho, propagandas sobre o território e seu funcionamento. Vislumbres do mundo futuro. Paro ao sentir a cor que pintei dias atrás. Laranja. O céu é laranja.

Indivíduos da Espécie poderiam passar horas vendo imagens como essas. Porque eram hipnotizantes. Eram o acesso inexistente á memória que possuíam.

Por isso a maioria optava por ter uma tevê.

Abro a tela. Ainda há muito que fazer nesse ambiente. São árvores totalmente diferentes de todas as outras, com certeza me levará semanas a fio.

Continuo meu trabalho, tentando firmar as têmporas. Fim do expediente.

Me encaminho para sair da sala, entrando na fila, havia distância entre um indivíduo e outro, ninguém tinha pressa. Eu não leria hoje.

Preciso dormir. Abrir os olhos apenas para a Mensagem. E dormir novamente.

Ler demais talvez esteja me atrapalhando em meu desempenho. Diminuir a leitura é a resposta. Vou pelo corredor, passando antes pelo banheiro. Brancos, com cabines pequenas. Portas cinzas. Espelho retangular, cumprido sem detalhes. Azulejo branco. Piso branco. Eu branco. Estou pálido.

Lavo o rosto, ficando um pouco ali. Só precisaria me apressar na volta, para cruzar o caminho com uma pequena folga de tempo, como sempre.

Seco as mãos, saindo do lavabo. Eles passam. São invisíveis, porque preto não é cor no sistema. Roupas pretas. Um parado.

Passo por ele, mas paro um pouco á frente, sem me virar de volta para a sua figura. Ele está olhando a tela laranja. Me levou mais de uma época para concluir.

Estava na Televisão.

Me viro devagar, para verificar sua aparência. Mas ele já seguiu seu caminho. E eu sigo então o meu, contrário.

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Where stories live. Discover now