PRÓLOGO (parte 1)

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A última frase era: A comunicação destruiu a humanidade.

E esta era uma palavra que de fato, só se encontrava nos livros. O que fazíamos nas reuniões, os cumprimentos diários, eram esquema de praxe para que continuássemos existindo.

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Crachás. Uso crachá em todos os lugares. Ele vem de um ponto de luz em meu pescoço, a imagem é projetada com minha foto, nome e ocupação. Ás dezenove horas ele se apaga sozinho, quando já estou no meu apartamento.

Posso citar o nome de cada indivíduo em toda a cidade. Desde que me lembro estou aqui, vivo assim. Me lembro deles.

Mas não existe nenhum "nós". Os humanos adoravam essa palavra, e só lendo os livros compreendi o que ela significava para eles.

Porque ela foi extinta também.

É uma palavra perigosa, afinal.

Minha boca se mexe sozinha. Bom dia Sunhee. Bom dia Taehyung. Bom dia. Bom dia.

Eu dormi, acordei ás cinco. Me troquei. Comi. Ás seis a contagem inicia. Passo pela minha porta, contagem Um. Passo pela porta do prédio em que meu apartamento fica. Contagem Dois. Entro no prédio em que trabalho. Contagem Três. O muro.

O muro branco cerca tudo, mas há bastante verde ao meu redor. Nenhuma espécie, todas foram infectadas com a Grande Extinção, depois dos bombardeios e das guerras. Mas há sons do que aprendi serem pássaros, soando artificialmente próximo ás árvores, porque essa é a memória que A Espécie mais sentiu falta.

Humanidade no passado. A Espécie hoje. Não uma espécie.

Bom dia. Bom dia.

Minha mesa.

Abro a tela, que disponibiliza uma palheta de cores, as quais A Espécie não veste. Temos preto. Cinza. Branco.

É outro lembrete, de que as cores novamente só serão vistas, reais e palpáveis, quando tudo se aperfeiçoar.

Quando cada um depender apenas de si mesmo, mesmo que viva em conjunto. Um conjunto completamente desarticulado, separado. Mas os outros estão logo ali, ao alcance de minha voz.

Bom dia.

Jungkook, pintor. Vinte e uma épocas, o que os humanos chamavam de "anos". São épocas. Cada época significa deixar para trás os erros do passado, não repetir, manter a sobrevivência.

Apenas uma pequena porcentagem de nós poderia ocupar o cargo de Pintor. A porção cerebral em que nos humanos funcionavam os sentimentos, nos Pintores funcionam lembranças deles, transmitidas inevitavelmente de geração a geração. Apenas pintores têm acesso a essas memórias. Os demais possuem a memória inerente, mas não conseguem acessar.

E fisiologicamente, essa parte do cérebro fica adormecida.

Aos poucos os pintores mínguam. A troca genética laboratorial para reprodução não é precisa em manter o funcionamento fisiológico das lembranças dos sentimentos, até aonde eu sei. Se eu realmente sei. É confuso tentar pensar demais sobre algumas coisas.

Mas de qualquer forma, são apenas lembranças. De algo que nunca vi.

Quando seleciono o pincel, que se projeta instantaneamente em meus dedos, e o seguro como deveria fazer caso os lápis ou canetas ainda existissem, as imagens vêm à minha mente.

Cores, todas as cores. As florestas. Os sorrisos. Barulhos. Tudo isso aprendi com as Memórias.

Mas jamais poderia pintar todas elas.

Pintores recriam o futuro mundo da Espécie. Árvores de diversas cores e tamanhos, diferentes do padrão do Olho. Águas livres, azul, verde, marrom. O céu não é apenas cinza, não é.

Laranja, rosa, roxo, azul.

Pintores são intensos e tem o trabalho mais importante do sistema. Porque desenham o futuro, com um vislumbre do passado.

Mas não são os mais importantes, porque todos são iguais.

Bom dia.

Vista branco de dia, cinza á noite. Durma de cinza. Reflita a luz do dia, não seja luz á noite. Durma sem cor.

Acorde, repita o processo.

Eu tenho a memória de um sorriso, mas ele não é meu, são apenas memórias.

Eu poderia ir além das dezenove, pintando, colorindo, lembrando e descobrindo. Sempre que eu tocava o pincel, uma nova memória era lembrada, ou revivida.

Do Dia Um ao Dia Cinco da semana. Não existem dias de folga, do um ao cinco a mesma rotina. Até o cinco, recomeço pelo um. Vendo tantas coisas, lembrando de todas elas como se fossem minhas, o expediente termina. O Olho está em toda parte, nas roupas, nas paredes, no sistema. O relógio em meu pulso toca, distribui avisos.

Hora de comer. Uma caixinha, com um líquido essencial. Uma barra nutritiva, essencial. Silêncio, exceto porque falam "Boa tarde". Mas eu aprendi os barulhos nas Memórias. Havia vozes.

Estou cansado de novo, os pensamentos saem de controle quando me canso. Fecho os olhos por um instante. Eles conferem as salas. Não respondem nenhum Bom dia, Boa Tarde ou Boa Noite. Ninguém lhes dá Bom Dia, Tarde ou Noite. Eles são invisíveis, não são iguais. Os olhos dele encontraram os meus?

Estou cansado.

Abro os olhos, cheguei novamente ao prédio. Ligo a tela.

Jungkook, pintor. 21 épocas, informa o crachá no meu peito.

O mar será assim, como era antes, não quero mudar nada nele. Uma imensidão azul. Aqui todas as cores existem.

Desligo a tela, o Olho se despede para me ver no próximo dia, ele aparece na tela antes que eu a desligue.

Boa noite Lee. Boa noite Taehyung. Boa Noite Namjoon.

Uma caminhada até o apartamento, ele deve ficar o mais distante possível do prédio onde trabalho, preciso caminhar diariamente, é essencial também. No dia cinco carrego os tijolos para aumentar o muro. Tijolos grandes, pesados e brancos, como placas, com metade da minha altura. Todos carregam.

O muro não tem fim, mas precisa ser aumentado.

Até que o mundo seja recriado.

Contagem Dois. Contagem Um. Estaca zero. Banho, refeição. Leitura. O Olho no vidro.

Boa noite.

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OLÁ eu disse que faria, e decidi betar NÓS. Betar vai significar corrigir erros de ortografia, colocar travessões, mas também corrigir erros no enredo da história, e quem sabe dar mais atenção para algumas partes.

Aos leitores novos, não se desesperem, leiam os três capítulos de prólogo para saberem se querem continuar, porque antes disso garanto que é impossível saber algo sobre a história com certeza total.

DÊEM UMA CHANCE. <

Obs: a narração do primeiro capítulo é cortada, de maneira quase sufocante, mas é proposital. No FIM DA HISTÓRIA vocês vão entender absolutamente tudo. (ainda aos leitores novos)

NÓS | Jikook [CONCLUÍDA] (BETANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora