Não ia funcionar. Brenda estava em paz com aquilo. Ao contrário do que absolutamente todas as pessoas pensavam, Brenda ainda era Brenda, mesmo sem a ginástica olímpica. Aquilo não a definia, e não a limitava. Estava bem resolvida com o fato de que não era mais a mesma pessoa, e não eram as tentativas desesperadas de Tainá para fazê-la se sentir mal com isso que a fariam acreditar no contrário, ou se sentir péssima a respeito.

Ao contrário de certas pessoas, Brenda não tinha vergonha de quem tinha sido.

"Só estou me perguntando se uma delas é a garota que eu estou procurando", mentiu, de maneira pouquíssimo convincente. É óbvio que não estava procurando uma garota de doze anos. A filha de Mika e Thales não devia ter nem um ano completo.

"É o que vamos descobrir", Tainá jogou junto, tentando abusar de algum gatilho emocional que Brenda talvez tivesse. "Mas antes, eu preciso ver o dinheiro."

Brenda abriu a bolsa com indiferença e mostrou algumas notas altas. Pela expressão vazia em seu rosto, nem dava para dizer que aquele era seu último dinheiro, centavo por centavo. O valor do montante não era estimável a olho, mas Tainá sabia que tinha muita grana ali.

"É o bastante?", Brenda perguntou, satisfeita por causar espanto.

"Mais que isso, é...", Tainá se adiantou, estendendo as mãos sem tirar os olhos da bolsa.

"Não quero saber", Brenda fechou o zíper abruptamente. "Pode ir guardando seus dedinhos ansiosos. Você só vai ver a cor dessa grana quando me der o que prometeu."

Tainá deu de ombros. Brenda podia ser muitas coisas em sua opinião, mas uma garota sem palavra não era uma delas. Quando a maluca promete, ela cumpre.

"Aos arquivos, então."

As duas adentraram uma sala pequena, com armários de segunda mão em todas as paredes. Tainá meteu o dedo no interruptor, e a luz branca machucou os olhos de Brenda. O ar condicionado estava no máximo, provavelmente para preservar os papéis importantes que se guardava ali. Papéis que continham a identidade de garotas despersonalizadas, jogadas de volta para o mundo por aqueles que as deram à luz.

Era deprimente para um caralho. Mika perderia a cabeça ali, Brenda pensou consigo mesma. Por outro lado, era a primeira vez que não pensava em sua própria vida como uma grande tragédia em muito tempo. Podia ser muito pior.

"Ela tinha... um nome?", Brenda perguntou, em hesitação. Não conseguia visualizar como Tainá encontraria num arquivo uma criança recém-nascida, sem qualquer registro, sem que ela tivesse um nome ou alguma referência.

"A Cretina queria que ela fosse registrada com o nome da mãe dela. Santana, eu acho. Mas as crianças sem nome são adotadas mais rápido, por alguma razão. Acho que os pais adotivos têm mais facilidade de se conectar com a criança assim."

Por casais egoístas que encaram a criança como um objeto inanimado, cuja existência e única função gira em torno de satisfazer seus ideais de felicidade. Casais que passaram todo o período estúpido e apaixonado pensando em como eles seriam completos quando fossem pais de uma criança.

Brenda nunca teria filhos. Jamais submeteria outro ser humano a corresponder suas expectativas daquela maneira.

"Esse é o arquivo dela", Tainá puxa uma pasta muito menos empoeirada do que Brenda esperava do arquivo. Não tinha passado tanto tempo assim. Ela indicou a ficha na capa da pasta, que não estava preenchida, e explicou: "Está em branco, o que significa que foi uma adoção fechada. Os pais adotivos não querem que os pais biológicos tenham contato com a criança."

Problema é deles.

"Não tem nenhuma forma de acessar essas informações?", Brenda perguntou. O fato de que não estava exatamente perguntando sobre uma forma dentro da lei de obter as informações estava implícito.

"Só se o juiz do caso permitir. Ou quando a criança atingir a maioridade."

"Serão dezessete anos até isso acontecer, Tainá", Brenda pontuou o óbvio com impaciência.

"Isso se ela quiser saber quem são os pais. Pode levar muitos anos mais."

Brenda levou uma das mãos até a raiz dos cabelos. As coisas eram muito mais fáceis quando podia simplesmente acionar Silvia e hackear alguma coisa para conseguir o que precisava.

"Achar essa menina vai ser impossível", ela desabafou em voz alta, mais para si mesma do que para Tainá.

"Não sou eu quem faz as regras", a outra respondeu, com um sorriso invertido. Então, enfiou a pasta de volta para o arquivo de qualquer jeito, passando a chave. "E antes que você tenha... ideias... o arquivo está em branco. Não adianta arrombar o armário."

"Eu não ia..."

Não tinha utilidade em mentir.

Brenda bufou, contrariada. Olhou para Tainá de soslaio, e enfiou a mão na bolsa. Fim da linha. Não tinha por que estender aquele momento nem mais um segundo. Queria acabar logo com aquilo.

"Brenda... não precisa."

"Como assim, não precisa? Você pediu dinheiro pela informação, aqui está."

"Você queria encontrar a filha de Mika e Thales. Eu não ajudei com isso."

Brenda apertou os olhos para Tainá. Não conseguia decifrar em seu rosto se estava falando sério ou não.

"Qual é, Tainá. Vai ter um surto de consciência agora?"

"Só não me parece certo. Eu me aproveitar do seu desespero. Do desespero da Mika."

Brenda franziu o cenho, desconfiada. Tirou a mão da bolsa e passou o zíper. Tainá não se moveu. Aparentemente estava falando sério, e a julgar pelo olhar piedoso que franzia suas sobrancelhas encaracoladas, ela não ia cobrar por isso.

Era irritante. Brenda não se importava com o dinheiro. Se importava com encontrar a droga da criança que Mika teve, não com dinheiro.

Quando colocou os pés no pátio, as garotas ainda estavam lá. Dando cambalhotas em colchonetes gastos, sem qualquer disciplina. Sem postura. Sem objetivo.

Exceto, talvez, por uma garotinha magricela, no canto do pátio. Depois de uma reversão aterrissada em ponte, ela tentava retornar, sem sucesso, pelo mesmo caminho que desenhara até ali. A falta de êxito não parecia ser o bastante para que ela desanimasse, no entanto. Seguia, firme e forte, tremeliques à parte, na tentativa de reverter.

Brenda não conseguiu se segurar. Disparou pelo pátio até a garota e colocou a mão direita em sua lombar contorcida.

"Encolhe o abdômen", ela ordenou.

"O-o quê?"

"Encolhe o abdômen. Contrai o bumbum. Agora", a garota permanecia sem entender, o tremor se intensificando. Ela não ia desistir. Brenda não ia deixá-la desistir. A pirralha tinha dois joelhos bons e doze anos de idade, por Deus do céu. Qual era a dificuldade?

Quando ela finalmente obedeceu, Brenda continuou:

"Agora, volta. Com calma. Devagar", ela orientava enquanto a garotinha se desdobrava, retornando da reversão e posicionando-se de pé, debaixo dos aplausos das outras órfãs.

Como se tivesse entrado em uma cápsula do tempo, voltando para o passado, Brenda assistiu a garotinha erguer os braços e cumprimentar a banca invisível de jurados, tal qual ela costumava fazer.

Como se tivesse entrado em uma cápsula do tempo, voltando para o passado, Brenda assistiu a garotinha erguer os braços e cumprimentar a banca invisível de jurados, tal qual ela costumava fazer

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Menina MalvadaWhere stories live. Discover now