Capítulo Quatro

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O adolescente de cabelos escuros agora se encontrava descendo as escadas, passos fundos e silenciosos eram dados nos degraus daquela casa, podia avistar a sua irmã e o seu amigo ali... Aparentemente felizes.
Ah, se ela soubesse o que havia acontecido.
Ele jurou a si mesmo, ser a última vez em que ele pensava sobre aquilo mas isto estava fora de possibilidades, ele sempre se lembraria. Tal fato agora fazia parte da sua história, da sua trajetória e vinda ao mundo.
O garoto andava calmamente, equilibrando os seus passos e tirando forças da onde não possuía. Clara, sua irmã, o via passar para o quintal, retirou coragens de onde não havia e o olhou com seus cabelos em seu rosto.

- Kleber... - a garota dizia de forma manhosa. - Eu quero ir para casa.

A expressão facial da sua irmã o destruía por dentro, era como se o seu coração se partisse em mil pedaços e ele não pudesse fazer nada, apenas inventar desculpas e mais desculpas.

- Nós não iremos voltar para casa, Clara. Eu já lhe deixei isto bem claro. - Kleber dizia de forma seca, enquanto caminhava para o quintal.

Clara abaixou a sua cabeça e com olhar cabisbaixo podia ver o rosto de Enzo.

O garoto se aproximou, e a abraçou enquanto a menina segurava o presente que acabara de receber há poucos segundos atrás.

- Vai ficar tudo bem. - o menino dizia, enquanto passava mão sobre o braço da amiga.

Um homem ensanguentado corria pela estrada, com os seus olhos marejados e roupas totalmente destroçadas. A sua esperança seria encontrar alguma alma que o pudesse ajudar, estava só, completamente.

Caminhava em direção a pista, que se encontrava repleta de veículos em alta velocidade.
Corria, aumentava o ritmo de seus passos enquanto respirava fundo.

O homem tocou a sua calça, sentindo o seu bolso e lá não se encontrava nada. Apenas rasgos e rasgos, sua aparência era totalmente irreconhecível e assustadora.

Era como se o homem acabasse de se levantar dos mortos, com sangues por toda a parte e aparência completamente suja, reencarnado talvez...

Estava anoitecendo, a cidade de Mellen reduzia os seus habitantes e as estradas ali agora eram desertas.

Clara, que se encontrava dentro da casa de seu amigo, estava deitada sobre o tapete extenso da sala.

Fechava os seus olhos, e em sua visão observava a sua mãe, a mulher que a carregava no colo todos os dias e a contava histórias para dormir. Quando teria isto novamente? Ela estava louca para tal coisa.

Clara queria poder dar beijos molhados na bochecha da sua mamãe, a abraçar como se fosse a última vez de sua vida e a dizer que a ama para todo sempre.

Kleber, que agora estava em seu quarto, retirou da mochila que carregava uma linda foto.

Era toda a família, que aos olhos de todos apresentava bom estado e aquilo acontecido jamais possuiria possibilidade. Vinícius, a pequena Clara, Clarice e ele. Passava os seus dedos sobre a foto e sobre a estética de sua mãe, todos os dois ali estavam sofrendo por aquilo.

As lágrimas escorriam pelo rosto delicado do maior, que deitava sobre a cama e fechava os seus olhos lacrimejando.

Clara adentrou o quarto, onde dividiria com o seu irmão e o mesmo rapidamente escondeu a foto que carregava.

Limpou os seus olhos, que agora estavam bastante avermelhados e assim, somente ficou em silêncio.

- Você já vai dormir, Kleber? - a garota dizia tímida, cabisbaixa e de modo suave.

Vidas Feridas (Repostando)Where stories live. Discover now