Capítulo 28| Dor

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 Callum havia exagerado,ele explodiu totalmente,ele estava certo em me defender mas errado em espancar o Othon.

Durante toda a viagem até a casa do Marcus ficamos em silencio,eu fui atrás e pude observar Callum imóvel no banco da frente.  A casa de Marcus era relativamente espaçosa,ficava um pouco afastada da cidade e era bem iluminada,assim que entramos na sala Callum me olhou.

— Abbie.....— Ele chama meu nome e eu o olho.

— Scott.— Marcus trisca em seu ombro.— Deixa ela tomar um banho,descansar e digerir essa historia,depois vocês conversam.— Callum acena com a cabeça e eu agradeço Marcus mentalmente,dito isso Marcus me leva pro quarto de cima,ela um comodo aconchegante e tinha cheiro de lavanda.

— Obrigada,mesmo.— Falo para Marcus assim que ele me entrega uma roupa e toalha.

— Não tem que agradecer.... e sobre o Callum,sei que ele agiu errado,mas,ele não pode controlar isso.— O moreno diz e eu sorrio fraco.

— Não pode controlar quase matar alguém?— Pergunto com desdem.

— Você não sabe?— Ele pergunta,confuso.

— O que?— Indago.

— O Scott tem TEI.— Marcus responde.

— O que é TEI?

— Nossa..pensei que ele tinha te contado....— Ele parece pensativo.— TEI é um Transtorno Explosivo Intermitente,ou seja,quem tem TEI São indivíduos que pela incapacidade de gerenciar seus impulsos agressivos, são levados a ter comportamentos agressivos, ataques de fúria, completamente desproporcionais. Qualquer que seja a natureza da agressão é comum o paciente sentir arrependimento, vergonha, culpa ou tristeza após a explosão. Ele tá tentando controlar isso,por você.— Eu paraliso. O que?

— Eu....eu... não sabia,meu Deus.— Coloco a mão na boca.

— Ele desenvolveu isso desde a infância,ele não age assim porque quer Abbie,é algo além dele.

— Obrigada por me contar isso,eu não fazia ideia....

— Nós nunca sabemos o que de fato realmente acontece com a pessoa...

Assim que abro o chuveiro a água quente cai sobre meu rosto,fecho meus olhos e flashbacks dessa noite rondam meus pensamentos,não parece que toda essa merda realmente acontece,essa revelação de Callum não saia da minha cabeça,ele nunca me falou isso,ele lidava com isso sozinho.....

 A roupa que Marcus me emprestou era uma bermuda e uma blusa um pouco larga,após me aprontar desço as escadas e vejo Callum no sofá com Marcus conversando,Callum está com uma bolsa de gelo na mão.  Assim que Marcus me vê levanta e diz:

— Vou deixar vocês conversarem.— Após ele sair me aproximo de Callum que continua em silencio.

— Callum....— Sussurro seu nome e ele encara o  chão.

— Me perdoa.— É a unica coisa que sai de seus lábios.

— Você quase matou ele Callum... você pode ser preso ou sei lá.— Minha voz sai em um tom doce e ele continua encarando o chão.

— Quando vi você daquele jeito...desesperada,com a blusa rasgada,meu mundo desabou. Eu voltei a anos atrás,quando entraram na minha casa e violentaram minha mãe,naquele dia eu não pude fazer nada mas hoje eu pude,da forma errada é claro.  Mas Abbie,eu não consigo controlar isso,você é a unica pessoa que me trás pra realidade,que faz eu querer ser melhor....quando eu vi você daquela forma eu surtei,perdi o controle do meu corpo... — Callum diz e eu vejo lagrimas saindo de seus olhos. 

Ele estava chorando,ver aquela cena acabou comigo.

— O Marcus me contou,sobre seu TEI,Callum,eu não fazia ideia,eu sei que seus surtos não são culpa sua,eu.....

— Eu consegui me controlar todos esses meses porque tinha você,porque com você do lado eu não conseguia sentir nada de ruim.  E,todas as vezes que a gente brigava e eu sumia era porque eu não queria surtar perto de você nem perto de ninguém.  Você me tornou alguém melhor....—  A voz de Callum era tremula e eu não sabia o que fazer.

— Você é minha felicidade Callum,você é uma pessoa incrível,temos que lidar com isso,com sua doença,porque você não merece viver assim,sem conseguir controlar sua raiva.— Digo e ele me olha.— Só não esconde nada de mim.

— Minha vida toda eu perdi pessoas,minha mãe,Nícolas.... não podia perder você mas essa merda de raiva fez eu perder...

Quando Callum fala o nome de Nícolas meu coração gela.

— Você não me perdeu Callum...— Me aproximo.

— O Nícolas era meu melhor amigo,quase um irmão.— Callum começa a falar e meu coração pula.— Depois que eu sai da prisão ele foi o único que continuou flanado comigo,ele era que nem você,via o meu lado bom.  O que mais gostávamos era corridas,todos os finais de semana fazíamos rachas e a gente descolava muita grana.  Uma certa noite topei fazer um racha contra um filha da puta da cidade,Nícolas sentou no banco do passageiro e eu pilotei,a cada segundo que passava eu acelerava mais,mas,o cara adversário trapaceou e bateu o carro na gente,eu perdi o controle e bati em um poste,o acidente foi feio,passei uma semana no hospital e o Nícolas morreu na hora.— Callum faz uma pausa e respira fundo.— Aquilo acabou comigo,meu melhor amigo morreu do meu lado,eu sobrevivi,ele não,como minha fama já era terrível,assim que sai do hospital a família do Nicolas começou a me culpar pela morte dele assim como toda a cidade,tem noção de como é horrível você ser culpado pela morte de alguém que ama?as crianças da cidade corriam de mim,as pessoas me evitavam e me olhavam torto,até que meu pai decidiu me pagar uma grana pra meter o pé,e vim pra cá.— Após dizer isso Callum começa a chorar sem parar,é como se só agora ele colocasse pra fora tudo o que guardou esses anos.

Eu estou chocada com essa historia e não sei o que fazer,apenas o abraço ele aperta minha cintura forte.  Jamais pensei ver Callum chorando,ainda mais igual uma criança,ele tinha desabado bem na minha frente.

— Não foi sua culpa,eles estavam errados.— Falo em seu ouvido.— Eu amo você— Digo e ele levanta a cabeça me olhando,seus olhos estavam vermelhos .

— Eu vou ser alguém melhor,você é tudo que eu tenho.— Ele diz fraco e eu o beijo.

 Não ligo pra mais nada,só quero ficar com quem eu amo,aquela noite ruim sumiu da minha cabeça e eu só conseguia sentir os doces lábios de Callum.

Callum me beijou de uma forma tão terna e gentil,o beijo era uma mistura de saudade e tristeza,parecia que naquele beijo conseguíamos dizer tudo o que estávamos sentindo.

Suas mão apertavam minha cintura e eu acariciava  seus cabelos.

Após aquele beijo ficamos em silencio,apenas deitei minha cabeça em seu peito e adormeci assim como ele, senti a paz voltar pro meu corpo. 

Callum era tão meu quanto eu era dele.

O que sentimos era muito além do que alguém pode contestar e pensar.

não queria pensar no dia de amanhã,apenas ficar ao lado do meu universo: Callum

Crazy about Callum Vol. 2Where stories live. Discover now