14.

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O telefone tocou por volta das quatro da manhã e ela achou muito estranho, já que tinha certeza de que não tinha mudado o horário em que seu alarme deveria tocar, mas não pensou muito sobre o assunto.

Abriu os olhos, sonolenta, o aparelho apitando sem parar ao seu lado. Tomou seu tempo para se espreguiçar na cama e bocejar uma, duas, três vezes antes de realmente se levantar.

Foi só quando o celular parou de tocar e então começou de novo que ela percebeu que aquilo não era seu alarme.

Correu para atender à chamada, preocupação crescendo em seu âmago ao ver o contato de sua mãe na tela.

— Alô? Oi, mãe. A senhora 'tá bem? Aconteceu alguma coisa? Mãe, por que você 'tá chorando? Mãe, calma, respira fundo e fala devagar, eu não consigo entender nada, eu...

As palavras que vieram do outro lado da linha a atingiram de uma forma desconhecida até então. Sentiu as pernas fraquejarem e, quando viu, estava sentada no chão, paralisada, ouvindo sua mãe falar, mas sem realmente processar qualquer coisa.

— Eu... — finalmente disse, com a voz falha, desesperada demais para chorar, para gritar, para se mexer. — Eu já estou indo para aí, tudo bem? Eu vou... Eu vou pegar um ônibus, ou um Uber, ou um táxi, ou qualquer coisa, eu... Eu não sei, eu vou dar um jeito, tudo bem? Eu chego aí em algumas horas, só me espera, por favor, me espera. Obrigada.

Desligou a ligação. Queria se levantar, mas não conseguia, e tinha a leve impressão de que poderia passar mal a qualquer momento.

Sentindo-se a pior pessoa do mundo, voltou a encarar o celular, que tremia junto com suas mãos. Mesmo com a visão embaçada, desbloqueou o aparelho e deu um jeito de entrar na sua lista de contatos. Colocou o telefone perto da orelha, a respiração falhando, e esperou.

Alô? Mavi? 'Tá tudo bem? Por que você 'tá me ligando essa hora?

Abriu a boca para falar, mas nada saiu. Pigarreou.

— Rafael, você pode vir pro meu apartamento? Eu... Eu preciso de ajuda.

elevador • [r.l.]Where stories live. Discover now