quarenta e um

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O céu ameaça um tempo chuvoso e Hansol observa pelo vidro da  janela, em cálculos simples de quanto tempo seria necessário para que conversasse com Kyungwon, deixasse a lanchonete e corresse para a universidade sem nenhuma gota de chuva. Bom, aquilo era provavelmente improvável.

— Oi... Hansol? Com licença.

Uma garota se aproxima da mesa, sorrindo. Se senta no banco a sua frente, colocando a mochila de lado. Tinha cabelos castanhos, e usava uma touca muito bonita.

— Sou eu sim. Yuha te mandou e não vai poder vir?

— Não. Ela está vindo, mas disse para que eu viesse na frente pois ela irá se atrasar. — Coloca as mãos sobre a mesa, e sorri baixo, evitando olhar para ele.

Ambos ficam constrangidos e em silêncio. Então Hansol tosse baixinho, e coça a nuca.

— Então... Seu nome...?

— Yebin.

— Sim, sim. Yebin. O meu é Hansol, mas você já sabe... por que chegou e já o disse... É.

Ela apenas concorda com a cabeça, e o garoto não faz ideia do que fazer agora. Boa situação que me colocou, Yuha, como irei dialogar com uma pessoa desconhecida e ainda mais sobre minha vida pessoal?

Começa a chover.

— Porra. — Hansol diz ao ouvir o trovão, notando a presença da garota silenciosa ali. — Ah caralho, me desculpe. Digo... — Coloca a mão na boca.

— Não tem problema... Garotas também falam palavrão. — Ela fala baixinho e ri.

Hansol acaba por rir junto, achando isso uma cena cômica. A água do lado de fora não para de cair, então, decide utilizar dos meios mais favoráveis a si. Suspira consigo mesmo, observando a garota a sua frente olhar o cardápio simples que eles serviam, na página de bebidas. Ela chama a atenção de um garçom do lugar, pedindo um café preto. Hansol, perdido em pensamentos, parecia "acordar" assim que o homem uniformizado lhe pergunta quanto ao que desejaria comer ou beber, escolhendo o mesmo que a garota. Ela ainda mantém um olhar distante, entretida com o barulho da chuva lá fora.

— Imagino que ela não vá vir. Você se importaria em... me dar uns conselhos?

— Conselhos? Claro, por quê não?

— É sobre um garoto...

Hansol pensa sobre o que falar ou até mesmo como continuar aquela frase iniciada, mas percebeu o quanto era difícil se abrir quanto aos sentimentos. É difícil transformar em palavras algo que está cravado em você, algo do qual você não pode fugir e vai se moldando às suas ações. Sua insegurança torna-se gagueira, e a garota ouvia tudo aquilo com sombrancelhas unidas:

— O g-garoto, ele estuda... comigo. Ele é a pessoa m-mais doce, mais... pura, bondosa, e linda de todas. Ele estuda comigo e... Eu amo ele.

— Isso é adorável, Hansol. — Ela sorri, e logo os cafés chegam. Coloca duas pequenas colheres de açúcar e mexe o líquido, assim, olha para o garoto. — E que mal há em amá-lo?

— Ele está bravo comigo, por que eu fui um idiota. Eu menti pra ele algumas vezes, e ele parece ter percebido isso. Além do mais eu fiz algumas coisas que parecem erradas.

— Erradas?

— Eu... Ele não sabe; Mas eu o gravei algumas vezes, eu fiz isso por que gosto muito de... Gosto muito do que efeito que ele causa em mim. — Seus olhos se mantém fixos a mesa da madeira.

— Você se sente bem com isso. Acha que ele se sente também?

Hansol olha para a garota, que toma o café tranquilamente sem entender o peso daquela pergunta. Se soubesse, Seungkwan se sentiria bem?

Ele se sentiria bem?

— Yebin... Não. Ele não se sentiria.

A garota levanta os ombros, carregando uma feição que dizia perfeitamente ao garoto "então, você já conhece o seu erro e trate de dar um jeito nisso". Hansol bufa, voltando-se ao seu café.

O dia passa vagaroso para todos, a manhã e tarde chuvosa prosseguem causando monotonia, contudo a noite é calma e apenas traz ventos refrescantes. Toda a universidade permanece num silêncio mortal, já passado o período de aulas e iniciando-se a madrugada. Kim Mingyu bate forte diversas vezes na porta que não era de seu quarto, evidentemente bêbado o suficiente para permanecer estando lá ainda que ignorado.

— Alguém aí acordado?

— E você ainda acha que alguém consegue dormir com essa porra na porta? Vá atendê-la, Hansol.

— Não vou atender nada, você está mais perto.

— Exatamente, Wonwoo, você está mais perto. — Minghao diz com a voz abafada pelo cobertor.

Wonwoo resmunga algum palavrão enquanto se levanta, coçando os braços e bocejando.

— Aproveitando que já estou de pé, querem que eu traga alguns bolinhos para o chá da meia-noite? Massageie os pés ou coisa do tipo?

— Massageie as minhas bolas, por favor.

— Tudo bem, eu massageio a esquerda e o Junhui a direita? — O moreno diz e Hansol, ouvindo, cai na risada em sua cama.

Num caminhar apressado até a porta, Wonwoo abre-a, a fechando da mesma forma. Mingyu o interrompe, segurando a porta com a mão e o cheiro de álcool já era possível de ser sentido pelo mais velho.

— Wonwoo, o que eu tenho que fazer para você me perdoar? Eu sou um cara... bom.

Assim que ele começa a falar, os dois garotos reconhecem a voz e riem cada vez mais alto em decorrência daquilo. Minghao se abana com as mãos, e Wonwoo suspira, contando até dez antes de lhe dirigir a palavra.

— Eu preferia receber a visita de Satanás em minha porta.

— Eu te amava... e te amo. — O garoto consegue que a porta se abra por completo, passando a mão pelo braço de Wonwoo.

— Sem essa história, Mingyu. Você é um cara comprometido, inclusive deve ter virado um galão inteiro para conseguir engolir o seu orgulho e vir dizer isso. — Ele explica devagar para que fosse clarividente. — De qualquer forma, não é verdade, tenha uma boa noite.

— É verdade! É verdade! O quê eu tenho que fazer? Apenas me diga...

— Calem a porra da boca. — Uma voz do quarto da frente, possivelmente a de Jeonghan.

— Wonwoo está tarde, já estão reclamando. Deixa esse cara falar sozinho. — Hansol se senta em sua cama, coçando a nuca e com os olhos irritados pela luz do abajur.

— Mingyu, você não pode ficar aqui. Você está gritando.

— Não interessa, eu quero uma resposta! Não suporto que você fique com raiva de mim, eu não quero isso! — Bate com as mãos nos beirais da porta.

— Deixe, eu vou com ele. Eu o acompanho até seu quarto, Wonwoo, fique por aqui ou esse cara vai nos causar mais problemas.

Hansol veste rapidamente uma camisa, andando rápido até a porta. Segura, calmamente, no ombro e braço de Mingyu, convencendo-o de que conversem outra hora, ainda que este proteste sem se mover dali. Seungkwan deixa seu quarto, parando em frente ao mesmo.

— O quê está acontecendo aqui? Vocês estão falando alto demais.

— Eu só estou ajudando aqui, vá dormir.

— Eu sabia que você deveria estar envolvido numa merda dessas. — Seungkwan cruza os braços, agora observando Mingyu que chegava a chorar. — "Vá dormir".

Hansol pela última vez tenta pedir para que Mingyu se movesse, e o mesmo começa a andar junto de si. Eles caminham devagar e o loiro não consegue controlar a vontade de dar mais uma espiadinha no garoto castanho que acabara de acordar, carregando um rosto inchado e impaciente.

Seungkwan ficava tão lindo quando fazia cara de bravo.

— Seungkwan.

Chama-o, carregando um pequeno sorriso debochado. O outro garoto, por sua vez, volta para dentro do próprio quarto, batendo a porta. Ali, sentia-se bravo e envergonhado.

E apaixonado.

moans [verkwan]Onde histórias criam vida. Descubra agora