✥ㅡ MEDO FURIOSO ㅡ✥

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   Um estremecimento involuntário passa pelo meu corpo quando o vento forte passa pelos arbustos de plantas, fazendo algumas rosas e violetas se desprenderem de seus caules e se jogarem ao chão, perfeitamente amassadas. Seguro a faca com mais força contra o peito quando sinto a mesma presença maligna que senti há nove anos quando aquela coisa veio me visitar. O mesmo arrepio na nuca me avisa que ele não está longe.

   Me ergo lentamente da cama e fico em posição de ataque na frente da porta, preparada para qualquer ataque surpresa que ele resolva fazer.

   E nada acontece.

   Fico assim até o relógio bater 4 da manhã. E ainda um pouco depois disso.

   Mas ele não vem.

   E é com esta certeza cravada no fundo da mente que me deito novamente na cama e adormeço assistindo o sol saindo por entre as grandes árvores da Floresta Negra.

✥ · ✥ · ✥

   ㅡ Você não pode sair!

   A voz esganiçada de Grant chega até meus ouvidos e eu solto um suspiro, baixando a faca que tinha erguido da mesa. Encaro o rosto apavorado do meu irmão e reviro os olhos.

   Ele segura meu braço com força quando não lhe dou ouvidos e saio mesmo assim da portinha da cozinha em direção à saída.

   ㅡ Asterin! Você não pode sair de novo. Sabe que está desobedecendo às ordens do patrão.

   Dou um tapinha na mão que ele agarra meu braço e ele me solta, dando vários passos para trás e arregalando os olhos de medo. Maldito covarde que não sabe viver as aventuras da vida. Grant coloca a mão na boca e aponta para trás de mim, dando um ganido de medo. Quando viro, vejo Kennai parado bem atrás de mim com os braços cruzados e aquela máscara de neutralidade de sempre, mas sei que por dentro deve estar querendo me matar.

   Ele está com roupas de treino e com hematomas espalhados pelo rosto e peito exposto quando descruza os braços e se aproxima de nós. Se aproxima de mim, quero dizer. Grant já sumiu há muito tempo. Como fumaça.

   Eu posso entender esse medo dele. Desde que me viu estraçalhada no quintal há tantos anos com o pé perfeitamente distorcido, tem vivido tentando me proteger de tudo e todos. Sua natureza de irmão mais velho nunca vai desvanecer, sei disso. Mesmo que muitas vezes corra para longe com o medo, jamais vai parar de me observar.

   ㅡ Aonde pensa que vai, Asterin? ㅡ Kennai pergunta, a voz falsamente doce e com a sobrancelha erguida.
 
   Finjo não ouvir sua voz e arrumo a bolsa de viagem que estava enfiando as coisas dentro antes que Grant me interrompesse. De modo discreto e ágil, enfio a faca da bolsa no bolso de meu manto mais rápido do que Kennai perceba. Se eu encontrasse hoje uma pessoa que não está armada naquela vila ficaria surpresa, afinal, nenhum de nós se sente seguro aqui desde que a muralha enfraqueceu no decorrer dos anos.

   E agora, bem menos. Depois que algumas criaturas resolveram aparecer aqui para simplesmente matar nossos moradores, as armas começaram a ser mais fabricadas e distribuídas às pessoas que tinham dinheiro para comprá-las. E quem não tem, morre.

   ㅡ Não vê a sacola a sacola que estou carregando? Vou levar tudo isso para a vila e ver o que consigo. ㅡ respondo, ignorando-o por completo. Sei que isso o irrita profundamente.

   ㅡ Para si mesma? ㅡ Pergunta, a voz grave.

   Lhe dou uma boa olhada antes de meus lábios formarem um sorriso irônico.

   ㅡ Me diga, príncipe Kennai. Quando, na minha vida, eu tive algo para mim mesma? Algo que eu pude realmente considerar meu?

   Ele não diz nada, e eu acharia que estivesse paralisado caso seu rosto não tivesse ficado mais escuro. Seu olhar predador em minha direção é sem nenhuma misericórdia, e por isso sei que ele não me deixará sair. Ou, se deixar, com certeza vai comigo.

A ƑILHA ƊO ƑOƓO - A MALƊIƇ̧ÃO ƊO SOLSƬÍƇIOOnde histórias criam vida. Descubra agora