12 - Safari-Cola

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O caracolinhos tinha mesmo razão, eu estava a congelar, o vento era forte e já me sentia toda arrepiada. O bar deve ficar algures na Cochinchina é que já me dói os pés de tanto andar. É que eu não faço a mínima ideia do que vou fazer para lá, já estou mesmo a ver o degredo que vai ser…

“Oh Harry mas ainda falta muito?!” Perguntei já a bufar por todo o lado.

“É já ali à frente.”

“Oh… isso foi o que tu me disseste à MEIA HORAS ATRÁS!” Exclamei.

Harry vira-se pra Kiko. “Para a próxima lembra-me de trazer um açaime.”

Parou a meio da rua e coloco as minhas mãos nas ancas. “MAS TU PENSAS QUE EU SOU ALGUM CÃO?”

“Cão não diria, agora cadela é outra conversa.” Gozou Harry e ele e o Kiko começaram-se a rir que nem duas almas deslavadas.

Continuei a andar em passo pesado e de braços cruzados. Eu não quero ir a um bar, aliás deve ser a primeira vez que eu vou a um! Nunca fui a “senhora sociável” da escola e 99,9% dos meus amigos são rapazes. Quando saiamos era para irmos ver um jogo de futebol, ou então íamos para a estação de metro ver a banda a passar. Eu chamava-nos os “Renegados”… isto antes de eles entenderem que têm um membro inferior e que querem usá-lo e então começaram a entrar na fase onde dão uso à mão e eu afastei-me deles: acho que ninguém deve querer saber quem é a professora que tem o rabo maior.

Avistei uma placa ao final da rua que dizia “Second Imperial Pub”, que já contava com grupos de adolescentes à porta. O que caralho era isto? Um albergue ou um bar? Aquelas gajas vão agora para um desfile de nudismo? As cuecas da minha avó são maiores que aqueles vestidos, por amor da santa.

Alguém me explica porque é que os gajos estão todos com o puto do cap a tapar-lhes os cornos? GENTE, É QUASE MEIA NOITE, O SOL JÁ SE FOI À MUITO! Acho que ainda vou a tempo de ir embora.

“Harry, diz-me por favor que não é aqui o bar…”

Ele sorriu e as minhas suspeitas confirmaram-se: ele quer doar-me pra prostituição e veio-me trazer a um bar de alterne, foi isso… daqui a nada chegam os velhos com os pelos do peito besuntados de óleo Johnson e de cuequinha de tanga e aí eu piro.

Estava um bruta montes à entrada com cara de aborto revoltado com a vida. A entrada desta noite era grátis para as mulheres e os homens tinham que pagar dois euros cada. E se quisesse entrar um travesti, como é que ia ser? Pagava ou não? Esta gente devia ser mais específica com a tabela de preços.

A música estava alta e eu até teria ficado afetada por ela se já não estivesse habituada a ouvir os berros da minha vizinha logo pela manhã a maltratar o marido. Isto parecia uma parada gay, só se via luzes às cores… daqui a pouco aparece alguém vestido de unicórnio e começa a chover algodão-doce.

 Estava à pinha, as pessoas roçavam-se umas nas outras a andar. As miúdas estavam com o traseiro empinado no baixo-ventre dos rapazes. Que pouca vergonha vem a ser esta? Foda-se entrei na casa dos segredos ou no Big Brother?! É só touras loiras!

“O que é que queres beber?” gritou Harry ao meu ouvido.

“Água-das-pedras, mas com as pedras à parte.” Respondi.

Ele revirou os olhos. “Vou trazer uma rodada de safari-cola.”

“Que é essa merda?!”

Safari-cola?! Mas há uma bebida chamada safari? Eu pensava que safari eram aquelas expedições em África onde eles vão num jipe pelo meio da savana, com aqueles chapéus à turista e com a pele queimada e onde eles tiram fotos aos leões. Estou tão desatualizada no mundo da adolescência.

Footballer ||h.s||Onde as histórias ganham vida. Descobre agora