1.11: bianca

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Artur olha para o teto enquanto seu personagem agoniza na tela, com meu golpe final

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Artur olha para o teto enquanto seu personagem agoniza na tela, com meu golpe final. Eu estava bem irritada por ter gastado minha mesada com um jogo de videogame novo, achando que isso ia animá-lo. Não fez nem cócegas, literalmente, em seu mau humor. Ele estava insuportável desde que teve (mais uma) uma briga por motivos imbecis com a namorada e o melhor amigo.

Eu expiro todo o ar dos meus pulmões, para ver se ele percebe a minha desolação. Não funciona.

O tédio do meu irmão já chegou a um nível muito perigoso. Não posso desistir dele, porque geralmente é quando ele se enche de tédio que começa a fazer merda.

Ele apoia os pés na parede, e as costas na cama, olhando para a tela de cabeça para baixo.

– Ainda não quer falar sobre? – pergunto, na milésima tentativa de fazê-lo conversar sobre a tal discussão com Matheus e Sofia. Desconfio que ele seja o errado, porque se estivesse certo não estaria hesitando em contar sua versão com riqueza de detalhes.

– Nope.

Ele me dá um golpe no videogame, me isolando para fora da moldura do jogo. Ai.

Ouço o som de uma nova mensagem. Com o susto, ele escorrega da cama e cai de costas. Ele levanta, ansioso, e pega o celular. Pela cara de decepção que ele faz, não é Sofia e nem Matheus. Deve ser só um grupo que saiu do modo silencioso, e a mensagem devia ser um vídeo engraçadinho que um dos colegas metidos a comediantes do Artur enviam para ele.

– Tanta gente querendo falar comigo e eu não acho uma pessoa para conversar. – ele desabafa, deslizando o dedo pela tela do celular. Deve ter um milhão de mensagens das pessoas perguntando se ele está bem, o que aconteceu, por que ele desapareceu. Nenhuma delas quer saber realmente se ele está bem ou não. Só querem saber algo sobre o Rei Artur, para poderem fofocar pelas costas e se gabar de sua amizade com o garoto popular do colégio. O que era patético. Artur nunca mais pisaria no colégio.

Estou tão desacostumada a ver Artur se abrindo, mesmo comigo, que até sinto um arrepio percorrer minha espinha. Me esforço para não demonstrar a minha empolgação. Ele vai perceber e se fechar automaticamente de novo.

– Eu estou bem aqui. – aponto para mim mesma. Ele solta uma risadinha sem humor e cheia de culpa por me excluir de sua lista de pessoas com quem ele gostaria de conversar.

– As duas pessoas com quem mais quero falar só respondem minha mensagem duas horas depois. Quando respondem.

– Matheus e Sofia?

Ele acena com a cabeça. Sei que é inútil perguntar o que aconteceu entre eles, então nem tento. Do contrário, decido fazer um esforço para que ele se sinta melhor.

– A Ana disse que Sofia surtou quando não passou para nenhuma faculdade do estado. – comentei. Ana, uma amiga em comum com Sofia, era a rádio fofoca do colégio. Acho que ela tem informações até sobre pessoas que já se formaram há cinco anos. – Já entrou em uma pira de estudos, nem esperou as festas de fim de ano.

ParentescoWhere stories live. Discover now