1.13: artur

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Às onze e meia, Tamara finalmente passa pela portaria do prédio vestindo uma blusa branca de mangas compridas e uma calça jeans

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Às onze e meia, Tamara finalmente passa pela portaria do prédio vestindo uma blusa branca de mangas compridas e uma calça jeans. Ela está linda, difícil não ficar, mas fico um pouco desapontado. Estava esperando algo mais... como posso dizer sem parecer cachorro?

Vulgar. Bem mais vulgar. Um vestido colado ao corpo com um decote generoso. Mais no estilo que ela sempre se orgulhou de ter e nunca fez questão de esconder. Algo como na primeira vez em que ficamos.

Nunca a vi tão feliz. Sorri como uma tonta ao me ver. Nada parecido com o sorriso afetado que ela costumava usar para debochar da perfeição de Sofia e do efeito que ela sabia que causava em mim.

Me sinto um canalha, prestes a quebrar o coração de uma menina doce e pura. Aí, me lembro que essa garota com esse ar de inocente é Tamara, que de pura não tem nada. Me lembro de todas as artimanhas para me atormentar e fazer com que minha fidelidade fraquejasse. Essa nova abordagem deve ser mais uma das suas tentativas para me seduzir.

– Nossa, você tá linda!

– Obrigada. – ela diz, evitando meus olhos.

Ela afasta depois de me cumprimentar com dois beijinhos na bochecha. Como uma amiga. Sem parar de alisar uma mecha dos seus cabelos com as mãos. Mesmo sendo impossível que fiquem mais lisos. Quase digo isso a ela. Mas é uma brincadeira que pode deixá-la mais tensa.

Nunca imaginei vê-la nervosa. Ou ela está me enganando muito bem, ou está realmente apaixonada por mim. Eu acreditava que ela só me queria como um prêmio, para vencer Sofia na disputa muda que corre entre elas (e que Sofia sempre ganha, não só quando a corrida é até mim).

É ainda pior. Sou duplamente mau-caráter. Estou torturando as duas. Sofia e Tamara. E, logo, vou despedaçar o coração de ambas.

Estou fazendo tudo errado. É óbvio que só porque eu vou terminar com Sofia, não quer dizer que automaticamente vou começar a namorar a Tamara. E claramente é isso que ela espera. A coisa certa a se fazer seria acabar com as esperanças dela. Agora, logo de cara. Antes que seja ainda mais tarde. Deixar claro que eu não estou procurando outro relacionamento.

O que me falta é a coragem de magoá-la, depois de vê-la tão feliz. Depois de tantas semanas em que ela foi praticamente a única pessoa que quis saber de mim. Eu sei que essa covardia minha vai engolir a pouca paz que me resta. E que eu vou me arrepender. Eu sei.

– Você não trouxe um capacete pra mim? – ela olha para o chão e pergunta com a voz baixa. – O outro é o da Barbie, não é?

– Você usa o meu, por enquanto. – respondo e ela assente – Até que eu comprar um pra você.

Seu sorriso retorna. Minha culpa se alarga. De todas as coisas que deveria fazer, alimentar as suas esperanças é a última.

– Aonde quer ir? – pergunto.

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