1.06: bianca

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Eu, obviamente, acordei Artur naquela manhã aos berros

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Eu, obviamente, acordei Artur naquela manhã aos berros. Histéricos mesmo, do tipo que se ouve de longe por meio segundo, mas se aproxima depressa. Ele abre os olhos, a dor de cabeça chegando antes da compreensão.

– Maldita ressaca? – pergunto, com a voz um pouco mais baixa.

– Maldita irmã. – ele responde, amargo, enfiando a cara no travesseiro – Por que está gritando tanto numa hora dessas?

Pego o celular do meu irmão sobre o criado-mudo e esfrego no nariz dele. Oito e quinze da manhã. O horário nem era abusivamente tardio, mas ouvi Artur chegando em casa aos quatro da manhã. Tomei o cuidado de deixar a porta destrancada, para que o eventual estardalhaço que ele fizesse chegando não acordasse o papai.

Assim que confiro as horas, vejo uma mensagem enviada às quatro da manhã. Ao contrário do que eu imaginava, o remetente não era Sofia, e sim Tamara.

"Chegou bem?"

Tamara. Perdi as contas das vezes que Artur me garantiu que não queria saber dela. Aparentemente, ele tinha mudado de ideia.

Olhei para o papel que eu trazia nas mãos, e me lembrei o motivo da invasão no quarto de Artur. Como boa irmã mais nova, é óbvio que eu estava me roendo de vontade de saber o que uma mensagem de Tamara estava fazendo às quatro da manhã no celular de Artur. Mas eu tinha assuntos mais urgentes para tratar.

Empurro meu irmão na cama, balançando todo seu corpo. Ele se esforça pateticamente para disfarçar a ressaca, mas o fedor de álcool que exalava de seu corpo e impregnava toda a atmosfera do quarto o entregava.

– Sai do meu quarto, Bianca. Me deixa dormir.

– De jeito nenhum. – eu abro um largo sorriso.

– Quanta felicidade para uma hora dessas.

Artur leva a mão à boca. Certeza que tinha segurado o vômito. Decido puni-lo brevemente pelo que quer que significasse aquela mensagem de Tamara no celular dele, e continuo balançando-o. Ele não reage. Eu pulo da cama, e antes que ele sinta qualquer alívio, abro as cortinas.

– Numa escala de zero a dez, qual a intensidade da sua ressaca?

– Não é da sua conta.

– Vou entender isso como um sim. – eu jogo o cabelo por sobre o ombro, extasiada por ter o poder de torturar Artur, nem que seja um pouquinho – E pare de ser tão ignorante comigo. Você está me devendo uma por ter salvado a sua vida.

– Como assim?

– Ontem depois que você saiu. – saboreio a o merecido desespero de Artur enquanto o olho com indiferença – Sofia me ligou perguntando de você, e eu disse que você saiu.

A cor desaparece do rosto do meu irmão. Consigo ver a culpa queimando por trás de seus olhos. De repente, torturar meu irmão não é mais tão divertido.

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