⊱ CAPÍTULO IV ⊰

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Por fim, saiba que sou grato pela sua amizade em todos esses anos, pois não era como você me devesse alguma coisa. Mas, se continua a sentir que deve, faça-me um favor: faça aquilo que você faz de melhor, você sobrevive.

Edward."

Depois, apenas esperou pacientemente em sua janela pela chegada da sombra da morte. E, devo dizer, quando o sino acima de sua porta soou indicando a chegada de um visitante, Ed sentiu muitas coisas, mas surpresa não foi uma delas.

– Confesso que foi difícil encontrá-lo – uma voz um tanto quanto aguda cortou o ambiente. Era estranho pensar que muitos deles ainda deveriam ser jovens, mas que já carregavam em suas mãos o peso de muitas mortes.

– E eu nem ao menos estive fugindo – Edward respondeu, tranquilo, virando seu corpo para fitar sua morte nos olhos.

Tratava-se de um jovem franzino, parecia perdido em uma confusão de tecido negro, couro, fivelas e rasgos. Em seu pescoço, exibia um colar com penas de aves selvagens de difícil caça. Havia uma grossa faixa de tecido negro amarrada em sua nuca, cobrindo parcialmente seu rosto na altura do nariz. Sua boca e seus olhos estavam perfeitamente a vista, mas Edward se recusava a memorizar qualquer um de seus traços, pois não queria morrer com aquele rosto gravado em suas pálpebras.

– Ajoelhe-se – ele ordenou, o tom demonstrava tédio.

– Não diante de um assassino – Ed rebateu, andando vagorosamente para trás de seu balcão e sentindo os olhos do outro seguirem cada um de seus movimentos – Chá?

– Não das mãos de um pecador.

Sheeran riu baixinho, apoiando os cotovelos em seu balcão e o queixo nas próprias mãos. Muito embora sua situação fosse trágica, ele não conseguia não achar cômico que existissem pessoas que acreditavam que Deus se agradaria do mal praticado em nome do bem.

Ao ouvir o som da risada do ruivo, o cavaleiro negro atravessou a sala agilmente e com fúria ardendo em seus olhos. Quando Edward deu por si, o homem estava diante dele, do outro lado do balcão e o puxava pelos cabelos alaranjados até que seu corpo batesse contra o móvel.

– Sabe porque sou eu aqui nessa espelunca, pecador? Porque dentre todos os meus irmãos, eu sou o melhor. A sorte de Deus sorri para mim – disse entre dentes. – Você sabe o que procuro, então pulemos os joguinhos.

– Temo te decepcionar, cavaleiro, mas não sei o que um mero ourives possuiria que pudesse interessar à sua causa.

Sheeran mal havia encerrado sua frase quando seu rosto bateu fortemente contra a superfície de mármore do balcão de sua loja. Ele próprio sabia que seu nariz havia quebrado sem precisar checar e resmungou enquanto sentia o ardor no local e o sangue escorria em direção aos lábios, que ainda sorriam.

– Onde estão as pedras da lua? – berrou o garoto em resposta, próximo ao seu rosto.

Edward se preparava para fingir desentendimento, mas sentiu seu rosto bater novamente contra o mármore – a força empregada quase o levou à inconsciência dessa vez.

– É de nosso conhecimento o fato de que você possui um estoque delas, então pulemos também a parte em que você nega e diz que são raras e que não mais podem ser encontradas na natureza.

– E-eu n-nunca c-contarei a v-você – respondeu em agonia, o sangue agora escorria pelo seu queixo e pingava no mármore claro.

O cavaleiro negro o soltou, apenas para retirar a espada de sua bainha e apontá-la para o pescoço do ruivo agilmente, como quem fazia tal movimento com frequência.

– Você, Edward Christopher Sheeran, o leal, me contará exatamente o que preciso saber. Afinal, sua lealdade para com o jovem Josh, de dezessete anos, que está nesse momento a duas ruas de distância daqui e acompanhado somente pela mãe, nunca permitiria que ele se machucasse. Estou certo?

Ed apertou o maxilar. Foi a única vez que o sorriso deixou seu rosto naquela ocasião.

– A caixinha de música, dentro da vitrine.

O jovem jogou o ruivo no chão.

Seguiu até o local indicado sem desviar seus olhos de Edward e apanhou a caixinha de música rosa e incrustada em diamantes nos detalhes, conferindo seu conteúdo rapidamente. Era realmente um bom esconderijo, admitiu mentalmente – ninguém procuraria um tesouro dentro de outro quando ambos estão bem diante da vista.

– Oh Sheeran, devo mencionar que admiramos seu trabalho, em verdade. Nenhum outro ourives recentemente localizou uma dessas preciosidades no mundo – seu tom de voz voltara a transmitir tédio.

O cavaleiro caminhou uma última vez até o ruivo, suas expressões indecifráveis tais como estiveram desde que ele adentrou o ambiente – era sinistro estar diante de alguém que expressava raiva em seu tom de voz, mas permanecia ainda com as expressões faciais vazias.

– Sabe, você é um homem de sorte – continuou a falar. – Cabelos laranja? Independentemente da linhagem de seus pais, seria o suficiente para que o mal tomasse seu corpo se tivesse nascido mulher. Sua vida foi poupada quando Deus o fez homem – o jovem ergueu a espada, apoiando a lâmina no pescoço de Ed novamente. – Mas você subestimou sua sorte, então sua vida não será poupada por uma vez mais. Eu, na qualidade de soldado do Céus, com a autoridade a mim investida para erradicar o mal, o sentencio à morte por ser cúmplice na fuga de dezenas de bruxas durante a Santa Inquisição em Salem. Traiu seu próprio Reino, mas acima de tudo, seu próprio Deus. Peça perdão agora, enquanto ainda pode, para que o Senhor não renegue sua alma quando chegar ao Paraíso.

Sheeran soltou uma risada zombeteira para o homem. Sabia que não sairia vivo daquele encontro, então estava na hora de seu grande final.

– A época de vocês acabou. O ser humano está evoluindo através da arte, da filosofia, da ciência. Agora são apenas vocês, escoceses retrógrados, a levantar suas espadas em prol de uma mentira criada pelo homem em nome daquilo que é divino – ele cuspiu no chão, aos pés do outro.

Ed soube que havia tocado em um ponto sensível quando sentiu o jovem visualmente se enrijecer e recebeu um chute na altura do estômago como resposta.

Edward se apegou ao pensamento de todas as vidas que conseguiu salvar até aquele momento. Dessa forma, a expressão em seu rosto ainda era risonha, mesmo quando sua cabeça foi brutalmente separada do corpo pela espada, partindo músculos, carne e osso.

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N/A: Bellatrix voice: eu matei Ed Sheeran! Eu matei Ed Sheeran!

Beijinhos no coração,

Bê.

Mystical (l.s)Where stories live. Discover now