Capítulo 7

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Estavam em silêncio fazia tempo demais. Sentado na cama, com uma lata de gim tônica nas mãos, Celso parecia arrasado e Lucas não sabia o que dizer. Estava sentado do outro lado, com o estado de espírito nenhum pouco melhor, embora estivesse intimamente contente pelo fato de que o homem ainda não tentou arrancar suas roupas.

Seu desejo mais profundo era poder estar em casa enchendo a cara e lidando com seus sentimentos, absolutamente sozinho.

— Quer conversar? — Celso se virou na cama e colocou a lata com a bebida intocada sobre a mesinha ao lado. Lucas balançou a cabeça em uma negativa, sem olha-lo de fato. — Bem, eu preciso falar um pouco ou vou enlouquecer.

O GP se virou a contragosto, tirou os tênis e arrastou-se para o meio da cama, cruzou as pernas e repousou as mãos, unidas em conchas, entre elas.

Celso não sabia por onde começar, as expressões cansadas.

— Sempre tive que aprender a ser homem muito cedo. Meu pai morreu quando tinha quinze anos, minha mãe fugiu de casa com um cinquentão antes disso e tive que ir morar em uma casa onde era maltratado e abusado diariamente por minha tia. — Ele parecia atordoado com o que dizia enquanto Lucas o encarava sem expressar sentimentos. Seu telefone começou a tocar, mas por sorte estava no modo silencioso. — Eu poderia ter ficado por aí choramingando e reclamando da sorte, mas ao invés disso estudava quando deveria estar dormindo e trabalhava quando deveria estar estudando. Quando terminei o ensino médio já tinha uma bolsa integral para estudar em Harvard. Alguns anos depois, montei a minha construtora. Sempre tive ótimas referências no mercado, mas nunca tive coragem de sair do armário. Como um bissexual não assumido, tenho esposa e filho, uma vida muito confortável e negócios muito bem sucedidos, porém confesso que não sou feliz.

A voz de Celso falhou, Lucas engoliu em seco.

— Você é feliz com a vida que têm?

— Eu vivo o que tenho que viver — esclareceu Lucas, simplesmente. — Não posso ficar me lamentando o tempo inteiro ou nem conseguiria dormir à noite, pelo que faço ou o que vivo.

— Eu não consigo mais dormir à noite. — Celsos confessou. — Tenho que tomar remédios para ficar dopado porque não consigo ficar conversando com a mulher que me ama. Ela me procura todas as noites e eu sempre tento fugir disso porque estou apaixonado por um homem que é garoto de programa e não quer nada comigo.

— Isso é mentira! Eu estou aqui, só não quero de você o que o mesmo que quer de mim. — Lucas não se esforçou para mentir.

Se olharam.

— Não estou reclamando da minha vida, nem nada disso, contudo não consigo mais ser feliz com o que tenho e às vezes os problemas parecem me sufocar. Não consigo lidar com meu filho direito, minha mulher anda frustrada e não a culpo, não sou um bom marido e durante as noites só sinto vontade de dar o cu para outro homem quando deveria ama-la.

Lucas não queria ter que ouvir nada daquilo, contudo sabia que o dinheiro fazia valer a pena. Nem estava se preocupando em calcular o tempo, já que com Celso não era preciso, ele sempre pagava o que fosse necessário para estar com ele. Era até mais do que Lucas esperava a essa altura.

Seu celular tornou a vibrar insistentemente e novamente o ignorou.

— Nunca quis ser pai, não tenho aptidão para isso. Meu filho está crescendo e estou me perdendo no caminho, sabe? — Lucas assentiu, embora não soubesse o que é isso. Todavia, de pai que não tem aptidão para a paternidade ele entendia. — Eu sei que minto para todos que amo e me sinto péssimo com isso. Além de que, mentir não me ajuda muito, pois faz com que me sinta corrompido.

VIDAS DEPRAVADAS (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora