Capítulo 1

766 52 58
                                    


Ficar de pau duro era a solução para a maioria dos problemas de Ícaro. Nada exclusivamente relacionado aos vinte e um centímetros que carregava na cueca, embora houvesse muito narcisismo, promiscuidade e egoísmo envolvidos, fazendo com que não sentisse nenhum remorso e, ao invés disso, se orgulhasse por ouvir tantos elogios que inflamavam seu ego. O modo como os olhos dos outros caminhavam pelo seu corpo esculturalmente sarado e gostoso, e de como as mãos nervosas apalpavam o volume gritante que se estufava em suas calças quando estava preparado para a ação.

O que fazia com que essa decisão se tornasse ainda mais relevante era o fato de saber que a sua beleza lhe renderia bem mais do que o prazer e, às vezes, um orgasmo no final da transa.

Negócios para ele sempre era consumado na cama com uma boa gozada, nem sempre sua, exatamente como havia acabado de acontecer naquele instante.

Ícaro se afastou quando seu parceiro momentâneo derramou todo seu prazer com gemidos altos e ecoantes. Virou-se de barriga para cima, contente por chegar ao fim, tratou de arrancar a camisinha que lhe apertava e jogou-a no chão ao lado da cama.

Não gozou dessa vez, porém não estava louco para chegar lá. Assim que estava fora do corpo ao seu lado, seu membro já estava se recolhendo lentamente, o que era o reflexo de uma foda ruim. O outro se recuperava de seu orgasmo com as costas viradas em sua direção. Nada de conversas nesse momento, o que era ótimo.

Tudo que se ouviu naquele quarto era a respiração ofegante dos amantes que nem sequer se conheciam.

— Se importa se eu acender um cigarro? — perguntou Ícaro. Sua voz alta era como o rugido de um leão após tanto silêncio.

— Não! — Apesar de ter acabado de recebê-lo dentro de si, houve certo tom de hostilidade na resposta do sujeito, descartando assim qualquer possibilidade de outro tipo de intimidade entre eles.

Ícaro assentiu, pouco se importava com aquele tipo de atitude, mas ao invés de se levantar passou os braços por trás da cabeça e encarou seu membro desanimado.

O homem ao seu lado se levantou e, sem pronunciar sequer uma palavra, se vestiu e saiu do quarto como se estivesse sozinho. Só então Ícaro se levantou, contudo, optou por acender o cigarro em outro momento; ao invés disso, foi se preparar para sair dali também.

Pegou a camisinha do chão e jogou-a no lixo do banheiro, onde tomou um banho para livrar-se do suor daquela trepada. Vestiu-se de pressa e olhou as horas no relógio caro quando o pegou no suporte ao lado da cama, antes de deixar aquele lugar de uma vez. Ainda tinha algum tempo de folga.

Quando alcançou o ar puro de uma tarde fria de setembro, pegou o maço de cigarros e um isqueiro no bolso do casaco, arrancou um, acendeu e começou a fumar tranquilamente.

Seu carro estava estacionado do outro lado da rua, todavia se encostou em um poste e encarou o céu enquanto se aliviava de seu vício.

Nada melhor que um cigarro depois de uma foda ruim! Era o seu lema. Claro que ele sabia haver feito o seu melhor, mesmo assim nem sempre isso significava satisfação para ambas as partes.

Enquanto fumava, puxou o celular no bolso das calças apenas para ler as mensagens que se acumulavam a espera de uma resposta.

Eram 15h40 quando finalmente terminou o que estava fazendo e se encaminhou para o seu Fiat Argo prateado. Pegou uma balinha de canela no porta-luvas, ao entrar, e ligou o rádio em sua playlist.

Take Me Home, da cantora britânica Jess Glynne, começou a tocar.

Aumentou o volume enquanto saia e seguia seu caminho.

VIDAS DEPRAVADAS (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now