Capítulo 5

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Depois que Claiton foi embora, Ulisses se sentou na calçada e ficou ali por um tempo. Não queria entrar em casa. Apoiou os cotovelos nos joelhos e ficou encarando o movimento na rua por algum tempo, enquanto tentava reprimir a sensação ruim que o puxava para baixo cada vez que se lembrava das palavras de Daniel.

Ainda não havia se conformado de como tinha sido tão estúpido em esperar que ficaria tudo bem depois de tanto tempo sendo ignorado.

Magoado ou não, havia acabado.

Pescou o celular e digitou uma longa mensagem para enviar para Lucas, todavia mudou de ideia antes de concluir e ao invés disso mandou apenas um frio e curto "cheguei".

Lucas não estava online, então supôs que deveria estar fazendo algo mais interessante.

Era 12h20.

Guardou o celular e se levantou, não podia mais continuar se lamentando. Secou as lágrimas enquanto pegava a chave e abria o portão.

A casa estava tranquila e sabia que isso se devia à ausência do sujeito que sua mãe tinha como marido.

Teresa estava na cozinha e o cheiro no ar era ótimo. Lucas foi até lá e, ao ver o filho, ela largou o que estava fazendo e correu para aninha-lo em seus braços. Era como se soubesse do que o rapaz precisava.

— Que bom que está em casa, meu filho, estava angustiada.

— Está tudo bem, mãe. — Não soou convincente.

— Não se preocupe, eu sei que você vai conseguir outro emprego muito em breve. — Segurou o rosto de Ulisses, obrigando-o a encarar suas expressões cansadas. Ela estava com blusa longa de gola até o pescoço. — Estava chorando?

— Não, claro que não! Só estou cansado.

— Oh, meu amor, não fique assim.

— Vai ficar tudo bem. — Teresa o soltou e voltou para a tarefa que tomava seu tempo antes da chegada do filho.

Ulisses foi até o armário, pegou um copo, o encheu com água do filtro que havia sobre a pia e foi se sentar em uma das quatro cadeiras na mesinha no canto do cômodo.

Sua mãe não era a mesma mulher que ele se lembrava da sua infância. Agora sempre séria e cabisbaixa, não cuidava da aparência e vivia com roupas largas e longas. Ulisses se perguntava se aquilo era consequência de sua depressão.

— Você está bem? — quis saber.

— Estou.

— Tomou seu antidepressivo?

— Tomei. — Deu um sorrisinho amarelo em direção a ele. — Não dormi muito bem a noite passada, só isso. Estou ótima.

— Ele bateu em você de novo, não foi?

Teresa olhou para o filho como se estivesse surpresa por ouvir aquilo.

— Não! — Sua voz saiu baixa. Virou o rosto para o outro lado. — Ele não fez nada.

— Mãe, não minta para mim, por favor.

— George é um homem bom. Criou você como se fosse filho dele.

— Eu o odeio, sabe disso. — Ulisses estava cansado de dizer aquilo.

— Ele não faz mais essas coisas.

Meio assustada, Teresa engoliu em seco.

— Mãe, não pode permitir que esse homem continue fazendo isso. — Ele se levantou e foi para perto dela. — Não podemos continuar nessa casa.

VIDAS DEPRAVADAS (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now