i. aneurysm

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É por volta de duas da tarde quando Harry começa a despertar. O interno em atividade percebe sua movimentação e se apressa para tentar acudi-lo, impulsivamente estendendo a prancheta que vem sendo sua companheira por algumas horas para os olhos recém abertos e curiosos do paciente, formando uma barreira insignificante contra a claridade do quarto.

Harry não faz ideia do porquê está acamado, com um IV em seu braço e um oxímetro conectado a seu dedo. O jovem de jaleco a seu lado o dirige um sorriso amarelo e parece não perceber que sua boa ação absolutamente não está ajudando, mas ele decide não questionar. Se a experiência para si está sendo caótica, imagina para o pobre rapaz, observando um homem que por pouco não é maior que o leito, com tinta pelo rosto, muito blush, batom delineando uma boca que vai de orelha a orelha e cabelos coloridos artificialmente com dois coques.

— Oi — ele finalmente diz, fazendo menção para retirar a prancheta. Harry acena que sim. — Me chamo Daryl. Sabe onde está?

— Eu posso jurar que estava rodeado de crianças e… se hoje for terça, quinta ou sábado, essa probabilidade cresce ainda mais. Posso sentir a maquiagem grudada no meu rosto.

— E eu posso vê-la — respondeu gentilmente. — Você está no St. Mary. Consegue se lembrar do que aconteceu?

— Muita dor de cabeça e ânsia de vômito. Oh, por favor, me diga que não vomitei em ninguém!

— Bom, Harry Styles Warnock... Posso garantir que não há ressentimentos da parte atingida.

Choramingando, estendeu o braço livre para o rosto pintado, fazendo um drama. Daryl riu de sua péssima encenação e releu algumas informações contidas na ficha do paciente.

— Estou esperando um bebê? — Harry quebrou o clima, olhando-o com grandes olhos verdes e gargalhando logo após.

— Terá que tentar mais um pouco, ok? Mas não desista! Ouvi dizer que a ala neonatal conta com um frigobar abarrotado e tevê a cabo.

— É um sonho!

— Kate Middleton que o diga! Continuando, preciso fazer algumas perguntas, tudo bem? Quer água ou usar o banheiro antes?

— Não, tudo certo.

Três batidas suaves na porta anunciam a entrada de uma mulher, padronizada com o uniforme da recepção e segurando uma prancheta parecida com a do interno. Ela acena rapidamente e Daryl se aproxima, retornando em pouco menos de dois minutos.

— Seu esposo foi contatado pelo número na lista de emergência — informou.

— Esqueça, ele está em York, não vai aparecer tão cedo — Harry usa um tom duro, enquanto sua feição cai um pouco. — Será que podem ligar para minha mãe?

— Ele estará aqui o mais rápido possível, Harry.

— Veremos — respondeu seriamente, com a cara emburrada. — 'Tô só brincando — abriu um grande sorriso. — Podemos começar?

O interno folheou algumas páginas do documento em sua mão, procurando o lugar exato para alimentar com informações dadas pelo paciente.

Harry comentou que seus enjoos eram raros e que seu nariz nunca sangrou na vida. A coisa do nariz não era realmente relevante. Ele nunca desmaiou e achava que as dores de cabeça frequentes eram resultado de seu trabalho como educador. Sem diagnósticos de fotofobia, confusão metal e hipertensão.

Daryl salientou que uma simples cefaléia — súbita ou frequente — pode esconder algo muito maior por trás, e por isso a importância dos exames de rotina. Sempre positivo, Harry se mantinha calmo. Ele não acreditava ser algo sério ou que mudasse drasticamente sua rotina dali em diante. Os últimos dias haviam sido desgastantes e estressantes e o sistema precisou ser reiniciado. Só.

aneurysm • lwt+hesWhere stories live. Discover now