19 - O amor dói

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"Eu teria lhe dado todo meu coração,
mas há alguém que o dilacerou.
E ele levou quase tudo que eu tinha.
Mas se você quiser, tentarei amar novamente."

The First Cut Is The Deepest
Sheryl Crow


Taylor cogitou dar meia-volta e retornar ao abrigo seguro de sua fazenda. Mas não havia mais qualquer sistema de segurança que o protegesse. Maya era o invasor que quebrara os vidros de sua proteção, entrara em sua casa, revirara os seus móveis, bagunçara as suas gavetas e vedara os seus olhos com os dela.

Contrariando o bom senso, aproximou-se do casarão dos Evans devagar, como se evitasse pisar sobre cacos de vidro.

Manuela quase não reconheceu o homem que encontrou prostrado em frente à porta. Não soube desvendar a expressão que os olhos claros espelhavam, algo entre desejo e saudade, muito de pedido e urgência, havia também tristeza. Mas não era apenas isso. Era muito mais que isso. Era o diabo loiro, ali, no jeans surrado, na camiseta de algodão puída, nas botas de vaqueiro. O chapéu que não escondia o cabelo claro, despenteado, por sobre a nuca, roçando-lhe os ombros em mechas irregulares, queimado, um amarelo vivo sobre a cor do trigo.

Demorou um pouco para se recuperar da surpresa de vê-lo ali, tão aparentemente vulnerável.

- Você não tem o direito de vir atrás dela. Não depois de tudo que disse. Não depois da forma como fez a minha amiga sofrer. Qual é a sua, hein?

- Eu sei que não sou bem-vindo, Manuela. Sei que ela não quer me ver! - ele respirava rápido demais, forte demais. Parou um instante, buscando o fôlego. - Eu preciso falar com ela. Por favor. Eu preciso!

Havia algo na maneira com que ele falava. Um desespero latente. Um brilho febril nos olhos azuis tão profundos. Uma intensidade que a comoveu. Aquele era um homem apaixonado, soube reconhecer.

- Eu não devia te falar nada, mas amo a minha amiga e acredito que ela estará mais segura com você do que com o próprio pai.

- Pai? O que está me dizendo? A Maya voltou para a Fazenda Duncan?

Manuela viu quando os olhos do caubói se arregalaram surpreendidos. Mais do que isso. Ele realmente se desesperou.

- Ela voltou pra casa sim. Voltou para o pai. Mas ele a levou a força! Ela não queria ir, Taylor. - esclareceu.

O caubói tinha agora o olhar azul-fúria, as órbitas oculares avermelhadas e os lábios crispados. Calado durante um bom tempo, a única coisa que ele pensava era em alcançar o pescoço do filho da puta e rasgá-lo fora a fora.

Manuela leu o que se passava na cabeça dele.

- Taylor, por favor, tenha cuidado. Charles não está sozinho. Seus homens estão armados até os dentes. Ele não vai permitir que ela saia daquelas terras novamente. Se alguma coisa acontecer com você... ela... Maya jamais vai me perdoar se alguma coisa acontecer.

- Eu é que não vou me perdoar pelo que estou fazendo a minha menina passar. - Manu sentiu a dor dele penetrá-la de forma devastadora. -  Nada disso teria acontecido se eu não fosse um covarde de merda! Um homem feito que não tem coragem de assumir que ama uma mulher.

- Você... meu Deus... – a menina levou as duas mãos à boca ao perceber que os sentimentos de Taylor eram reais.

- Manuela, você precisa me prometer.... Prometa que se alguma coisa acontecer comigo você dirá a ela que eu a amo. Eu amo aquela menina e a criança que ela carrega dentro dela. Ela precisa saber.

APENAS UMA NOITE (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora