Unlocked

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  Dante parou seu carro na frente da escola e meu olhar foi até a janela do meu lado. Adolescentes infelizes, adolescentes sorridentes, adolescentes idiotas, todos os tipos. Erguendo uma de minhas sobrancelhas, meus lábios formaram um bico e então meu olhar foi até a mochila.

Pegando o fone de ouvido, coloquei cada um em seu respectivo lado e fechei o bolso da frente. Antes que eu conectasse no celular, o mais velho diminuiu o volume do rádio e respirou fundo.

Meus lábios se esticaram, em um sorriso, e não demoro muito para que nossas mãos se encontrassem dando início ao nosso aperto secreto. Combinações idiotas com caras idiotas para dois garotos idiotas que querem dominar o mundo, mas ele era diferente de mim.

Ele se afastou, arrumando a gravata e, após encaixar o pino na entrada do eletrônico, deixei com que a música começasse a tocar. É, talvez eu fosse um burguês safado por ter Spotify, mas eu prefiro dizer que eu era um hacker burguês safado. Afinal, eu não pagava pelo aplicativo, foram apenas combinações de códigos e o resultado foi um plano família grátis. Um gênio.

  Tudo bem, estávamos no século vinte e um, a maioria dos jovens escutavam alguma música indie, de sadboy, eletrônica ou não faço ideia dos nomes. Eu escutava? As vezes. Mas eu preferia ficar nas músicas clássicas e antigas. Não para pagar de diferentão da turma, mas por achar que aquela energia de antigamente era tão gostosa e contagiante. UAU. Michael Jackson tocava no último volume.

Assim que desci do carro, Dante fez algo louco e o ronco do motor fez com que todos olhassem para nós. Ou será que eles estavam olhando para minha jaqueta holográfica prata? Não me importava.

Caminhando, eu mantinha meus olhos concentrados na porta. Escutei sim alguns comentários idiotas, como por exemplo os caras do time perguntando se eu roubei aquilo do meu grupo de amigos. Algumas meninas davam um sorrisinho chamando pelo meu nome acompanhado de um oi, adolescentes do ensino médio só pensam em transar. Minhas mãos empurraram a porta e logo a visão do corredor cheio me fez ficar atordoado, eu odiava multidão. Penso que talvez eu devesse me isolar, mas lembro que já sou isolado e que só tenho quatro melhores amigos. Ou quase quatro, tenho que decidir.

As batidas de Billie Jean faziam com que eu movimentasse a cabeça de um lado para o outro, meus olhos rolavam também. Deslizando de um lado pro outro na multidão, finalmente consegui chegar até o meu armário.

"Billie Jean is not my lover, she's just a..."

Antes que eu pudesse terminar de cantar minha música, alguém tirou o fone de ouvido e eu pude escutar aquela voz familiar completar a melodia em um tom quase certo. Quase.

"He's just a boy who claims that I am the one."

  Thomás deu um sorriso de lado, ao finalizar, e eu retribui enquanto tirava o fone do outro lado. Enfiei minha mão no bolso do meu jeans e pausei a música.

"Prefiro dizer que Billie Jean era apenas alguém, não vamos colocar gêneros. A criatura pode até mesmo ser um alienígena disfarçado querendo apenas fazer experiência com humanos."

Disse, de forma divertida, para o rapaz que estava ao meu lado. Thomás Black era o meu melhor amigo, desde infância. Ele era negro, algumas vezes assumia seu cabelo afro e outras vezes raspava, era o cara mais estiloso do mundo e não tinha medo algum de assumir para os sete ventos sobre sua sexualidade. Mais precisamente, ele era gay. Sempre foi e sempre vai ser. Algumas vezes aconteciam umas tretas por isso, intolerância e preconceito era o que cercava nosso grupo.

Uma vez, quando entramos no ensino médio, um grupo de meninas chegou no Thomás por uma integrante delas querer ficar com ele. As pessoas têm um tabu na cabeça achando que todo negro é bem dotado, então o que elas mais queriam era abrir as pernas para ele. Óbvio que o rapaz não quis, elas insistiram e insinuaram que a cura para o que ele era estava bem na sua frente. Foi então que ele perdeu a paciência e quando tudo começou.

A hacker's gameWhere stories live. Discover now