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As noites sempre foram complicadas para mim, desde criança. Quando deitava minha cabeça no travesseiro, milhares de pensamentos surgiam e eu sempre precisei de uma pequena ajuda para dormir. Costumavam dizer que, para uma criança, eu tinha o cérebro muito acelerado.

No começo, quando meus pais me levaram ao médico, era um xarope tendo maracujá em sua composição. Mas, conforme eu fui crescendo, aquele gosto enjoativo me deixava tão agoniado que questionei ao doutor se não poderíamos trocar. Afinal, eu não tinha mais seis anos e eu queria remédios de verdade. Foi nesse momento que ele me ofereceu pílulas coloridas para que eu pudesse morrer na cama.

Não, não morrer de parar em um caixão. Mas morrer de não sentir nem ao menos se me tocassem. E se alguém estivesse assaltando a casa? Eu com toda certeza não saberia, nem se colocassem fogo em todos os móveis. Mas, isso não vem ao caso.

O despertador finalmente tocou, para minha infelicidade. Levei minha mão até o Mario, sim, meu despertador era uma pequena réplica do Mario, e então bati em sua cabeça para que aquele barulho irritante parasse. Virando para o outro lado, coloquei o travesseiro por cima do meu rosto e fechei os olhos, odiava pensar que em alguns segundos Dante estaria batendo na porta para me acordar.

Dante era um cara legal. Na verdade, um dos caras mais legais do mundo. Quando nasci, ele tinha exatamente cinco anos, lembro de minha mãe me contar que ele ficou tão feliz por termos alguns traços parecidos que ele mesmo escolheu meu nome. Não, ele não colocou Dante segundo, colocou o nome do personagem preferido dele de HQ.
Oliver.

Não demorou cerca de quinze minutos para que os barulhos de batidas, quase um espancamento, na porta do meu quarto começasse. Eu estava no ensino médio e ele na faculdade. Como era próximo, entre aspas, ele me oferecia carona e eu agradecia por não precisar caminhar até a escola.
Menos uma coisa para fazer durante o dia.

"Todo santo dia você enrola para levantar dessa cama, Oliver, minha mãe está chamando pra tomar café!"

O mais velho exclamou sem paciência. Tirando o travesseiro do meu rosto, virei para o outro lado da cama observando a luz passar pelo pequeno vão da persiana.

"Você escutou o que eu disse? Eu tenho a droga de uma entrevista de emprego antes da faculdade, não posso me atrasar dessa vez ou o papai vai comer meu cu."

Ele deixava sua reclamação matinal, como sempre, e eu estava apenas concentrado na claridade.
Foi então que escutei a maçaneta girando e meu irmão entrou com os passos firmes, puxando o edredom que cobria meu corpo e envolvendo meu tornozelo com sua mão.

"Eu juro, Oliver Cross Cresswell, eu vou te arrancar da cama te puxando pelo pé se você não falar uma palavra. Tô tão cansado que da vontade de esganar você."

Erguendo uma de minhas sobrancelhas, levei meu olhar até o dele enquanto ele estava prestes a abrir a boca. Antes mesmo que ele pudesse rir, e eu sabia o motivo, semicerrei os olhos.

"Se você falar que meu pé é esquisito mais uma vez, vou floodar seu chat enquanto você estiver vendo seus vídeos pornos de madrugada."

Dante prendeu a risada e largou o pedacinho mais bizarro do meu corpo, o pedacinho que acabava com minha elegância. O famoso caso do adolescente que era lindo até chegar nos pés.

Levantando da cama, procurei meu celular mas não estava na mesa ao lado da cama. Meu irmão passava a tela para cima e, no mesmo momento que percebi que ele estava vendo minhas coisas, joguei o travesseiro em sua direção.

"Qual o seu problema? INFERNO!"

Questionei, irritado, com a vontade imensa de jogar gasolina e fogo no corpo daquele idiota. Sim, eu disse que ele era o cara mais legal do mundo, mas isso não quer dizer que ele não pudesse ser um idiota.
Irmãos mais velhos...

A hacker's gameWhere stories live. Discover now