─ Solana, eu e a sua mãe estávamos pensando no divórcio antes mesmo de tudo acontecer. Sebastian sabia, ele sempre soube.

─ Ah, tenha paciência. ─ levanto-me. ─ Não é desculpa, não pode ser essa a sua explicação.

─ Filha, você precisava entender a morte do Bastian foi o precipício para mim.

─ EU E A VIOLET AINDA ESTAMOS VIVAS. ─ Gritei, jogando copo contra a parede.

─ Eu estava sofrendo, você não entende a dor de perder um filho.

─ Mas entendo a dor de perder um irmão, um amigo, a minha inspiração. Ele também fazia parte da minha vida.

─ A sua mãe afastou todos nós, foi ela…

─ Já chega; ─ eu sabia que a crise estava prestes acontecer, eu sentia os movimentos dos meus braços esvair como se eles não fizessem parte do meu corpo. ─ Você precisa parar de culpar a minha mãe, para tentar diminuir o arrependimento.

─ É hora do parabéns!

Alguém gritou, pessoas se aglomeram ao redor da Bruna. Uma vida perfeita, uma família, amigos, sem problemas e dores em seu coração. Meu pai proporciona um mundo maravilhoso para essa garota, nos deixando para trás no Rio de Janeiro como se eu e a Violet tivéssemos morrido junto com o Sebastian naquela tarde.
Eu precisava causar dor, eu precisava me defender… E foi o que eu fiz!
Sem pensar direito avancei em direção da multidão, meu pai ainda teve a coragem de protestar. Porém, ignorei.
Estou irritada, magoada, completamente despedaçada. Ninguém vai recolher meus cacos no chão, eu sou afiada. Corto todos que se aproximar, não me importando com nada! Bruna estava rindo alegremente, enquanto o seus amigos da Universidade, meus familiares, os funcionários da fazendo todos a parabenizavam. O bolo era lindo, grande, com babados e uma cobertura divina. Não vou me arrepender, não vou chorar… Não vou sentir. E com um único movimento, empurrei a mesa com o bolo. E tudo foi parar no chão. Um silêncio assustador pairou, só ouvia o barulho da noite. A multidão a minha volta, todos ficam me encarando pasmados, alguns até se afastam para longe.

─ Solana, você ficou louca? ─ Trovejou meu pai.

─ Ela não ficou, ELA É UMA DOENTE. Veja o que ela fez com o meu bolo. ─ Lamuriou Bruna.

─ Eu odeio essa fazenda. ─ berro. ─ Eu odeio todos vocês. E a maneira de agir normalmente, fingindo uma vida perfeita enquanto a minha família no Rio de Janeiro passava até mesmo dificuldades. Eu tenho… ─ Olhei para meu pai, depois minha avó e por último Tia Nana. ─ Nojo de vocês!

─ Se odeia tanto essa fazenda porque continua aqui? ─ Rebateu Bruna.

─ Vai para o inferno!

Controle a crise, saia daqui o mais rápido possível. Corra para longe… Era o que a minha mente gritava, mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo. Tudo começou a escurecer, não conseguia enxergar as luzes ou as pequenas lanternas nas mesas. A escuridão foi assustadora.

❁ ❁ ❁

─ Eu avisei. ─ uma voz grossa ecoou dentro da minha cabeça. ─ Ela não está bem, a sua filha precisa se encontrar, precisa superar e não é uma conversa sobre arrependimento que vai melhorar tudo de uma única vez. É o tempo, Sérgio!

─ Você está perdendo a cabeça garoto. Não use esse tom comigo.

─ Solana, vai ficar aqui. Até ela melhorar completamente. Espere até que esteja pronta, quando tudo se encaixar, quando ela compreender tudo que está acontecendo com ela. Solana vai lhe procurar.

─ Isso está passando dos limites! Quero que para o tratamento, quero você longe da minha filha.

─ O QUÊ? Vocês estão ouvindo isso?

Levanto-me da cama, não estou no meu quarto. Estou em outro lugar, em um quarto mais pequeno e singelo. Nada de extraordinário, apenas um quadro na parede. Era uma pintura incrível, foi impossível não se encantar. A pintura retrata uma um crânio feminino, com uma escadaria ao redor, várias pessoas descendo e subindo. Algumas bem vestidas e outras, completamente destruídas. O nome do quadro: A mudança da mente.
A cores eram frias e um pouco sombrias, quem foi o artista? Deslizo os dedos lentamente pela tela.

─ A tela é de um artista e também psiquiatra Shadon Neville. ─ Simon chegou no quarto, assustando-me. ─ É uma boa réplica, a legítima vale milhões. Conheci essa obra na Universidade, achei incrível e consegui encontrar uma réplica barata na internet. ─ ergueu os ombros, totalmente despreocupado.

─ O que aconteceu comigo?

─ Você desmaiou, depois de destruir o bolo de aniversário da Bruna. ─ conta-me, com um meio sorriso.

Respirei fundo, recordando da noite, das palavras da minha tia e do meu pai.

─ Eu sinto muito, perdi o controle. Simon, com quem você estava discutindo? ─ Questiono.

─ Venha; ─ segura em minha mão e puxa-em direção a cama. ─ Sente-se, precisamos conversar.

Meu coração estava completamente disparado, eu não conseguia pensar e chegar em uma conclusão.

─ Sol, eu gosto muito de você!

Meu corpo está queimando, Simon me faz sentir uma sensação estranha. Me faz querer sentir mais, desejar e querer provar dele, provar o seu beijo, o seu toque, até mesmo… Oh, eu quero muito esse homem. Eu estou incondicionalmente apaixonada por ele.

─ Eu também;  ─ diga que o ama, diga que quer ficar com ele. ─ você se tornou ótimo amigo.

─ Eu estava conversando com seu pai…

─ Era com ele que você estava discutindo?

Simon afirmou com a cabeça.

─ Por que? O que houve?

─ Hmm, quero contar o porquê Shadon Neville pintou esse quadro.

─ Está bem, pode contar. ─ resmungo.

─ Shadon trabalhava em uma clínica psiquiátrica em uma cidade pequena na Itália. Ele conheceu uma mulher linda, perfeita, inteligente e extrovertida, essa mulher era sua paciente, que estava internada há dois meses, resultado da sua quarta tentativa de suicídio.

Engulo em seco, como Simon conhece essas histórias?

─ Shadon lutou, insistiu e não desistiu da sua paciente. Mesmo errado e não respeitando o código de conduta profissional, ele se relacionou com a mulher. Os dois tiveram uma bonita história de amor, se casaram e dessa união nasceu duas crianças. A depressão é uma doença traiçoeira, temos que ser fortes para lutar contra ela.

─ A esposa de Shadon se matou? ─ adianto-me.

─ Sim, ele fez o quadro que retrata a menta da esposa. E a sua mente, é um pouco parecida.

─ Simon, eu sei que preciso de ajuda. Mas estou com receio! ─ ele segurou a minha mão e levou até os lábios.

─ Você conseguiu desenhar?

Sorri orgulhosa.

─ Consegui, posso mostrar os desenhos para você.

─ Sol, eu estou indo embora da fazenda…








Girassol (Até 20 Agosto) Where stories live. Discover now