Capítulo Dezoito

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Enquanto os mais velhos voltaram a discutirem entre si sobre o que poderia ter causado o desmaio de Drelk, sentado na poltrona da sala e querendo um pouco de silencio, Drelk apoiou seus cotovelos sob o joelho e com as duas mãos tapou os ouvidos.

Ele ficou ali imóvel por alguns minutos com o olhar fixo num ponto qualquer do chão, um assoalho de madeira maciça cuidadosamente lustrado. Naquele momento, tinha a cabeça a mil por hora sob as mãos, elas amenizavam a sensação de a cabeça querer desprender-se de seu corpo e sair rolando pelo centro da sala.

Drelk não percebeu Vayla sentar-se do seu lado. Quando ela o tocou com sua mão de seda, num suave afago em sua face, ele assustou-se e levantou a cabeça olhando fixamente em seus olhos, um encantador azul acinzentado. Diante da iniciativa de Vayla, ele respirou profundamente. O suspiro não foi apenas de satisfação ou gratidão por ela estar ao seu lado, mas também como um prelúdio do que iria pergunta-la a seguir.

— O que houve com ele? — quis saber Drelk, tentando ser o mais direto possível.

— Com o meu irmão? ⸻ respondeu Vayla, assumindo quase que a mesma posição de Drelk, a cabeça apoiada sobre as duas mãos.

— É...! O que aconteceu para que o Ayron ficasse assim? — olhando para o amigo, deu uma breve pausa e prosseguiu: — Desse jeito; numa cadeira de rodas?

— Eu também sei muito pouco... — Vayla baixou o semblante antes de começar a lhe contar o que sabia. — Há quase um ano numa noite como outra qualquer, Ayron deitou-se em sua cama e não acordou mais, simples assim! Desde este dia, ele parece estar dormindo em um sono profundo. Meu pai procurou por vários médicos, mas ninguém soube explicar exatamente o que causou esta doença. Eram um bando de aproveitadores!

⸻ Quem?!

⸻ Os médicos, sempre inventando tratamentos alternativos e exames infindáveis com preços absurdamente caros. O pior era que nem sempre os exames eram realizados na região. O coitado do meu pai gastou rios de dinheiro com viagens e consultas, mas infelizmente não deu em nada, nenhuma resposta concreta. Meu pai sofreu ainda mais com essas promessas evasivas.

— Nossa; sinto muito... — desculpou-se Drelk por tê-la deixado nitidamente num baixo astral, ela agora tinha um triste semblante no rosto.

— Não se preocupe! — disse Vayla ao perceber que Drelk também se entristecera com o assunto.

— E seu pai como ficou?

— Bom, meio que a contragosto, parece que agora aceitou a situação. Após ele ter gasto quase toda a fortuna da família sem que obtivesse nenhum resultado positivo; se conformou... — continuou ela, ora olhando para o irmão na cadeira de rodas, ora olhando o chão de madeira que quase lhe refletia com perfeição. ⸻ Certo dia meu pai decidiu não dar mais ouvidos aos charlatães que aos montes o cercava com propostas de tratamentos infundados, eles estavam sempre dispostos a lhe dar a cura, desde que fossem bem pagos... Na verdade, meu pai chegou a uma triste, mas verdadeira conclusão, esse bando de abutres estavam apenas se aproveitando de sua ingênua fragilidade.

— Sinceramente, nem sei o que dizer! Pelo que eu estou vendo, tiveram que passar por coisas muito desgastantes, tanto para seu o pai, como também para seu irmão. E até você...! — comentou Drelk chateado por ela. — Deve ter sido muito difícil pra vocês.

— E ainda é...! Meu pai e eu, nós, ainda sofremos muito... — afirmou ela. — Não pelo trabalho que temos com o meu irmão, mas pelo que ele deve estar sentindo, preso naquela cadeira de rodas.

Vayla não se importava de ter que sacrificar o seu futuro para cuidar do irmão, faria tudo novamente se fosse preciso. Na época em que tudo aconteceu, ela morava com uma tia enquanto estudava agronomia, assim que soube do acontecido, voltou imediatamente para o sitio do pai para ajudá-lo a cuidar do irmão.

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Where stories live. Discover now