Capítulo sete

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Era uma tarde de sexta-feira muito fria quando Drelk desceu na rodoviária de uma pequena cidade, se é que podia chamar aquela minúscula parada de ônibus de rodoviária. Ele havia dormido todo o percurso, já que na noite anterior não havia conseguido dormir direito.

Com ele, desceu mais dois passageiros que logo sumiram no meio duma ventania insuportável.

Não demorou muito para que o ônibus que permanecera parado por apenas dez minutos, também partisse. O ônibus ficara o tempo suficiente para que o motorista procurasse um local apropriado e descarregasse sua bexiga.

O motorista com aproximadamente uns sessenta e poucos anos de idade e sustentando com orgulho uma avantajada barriga, desceu brigando com o vento para que não lhe roubasse seu quepe azul marinho.

Vestindo uma calça também azul, e camisa branca impecavelmente passada, ele desceu rapidamente e deu a volta por traz do ônibus, entrando num cubículo de pouco mais de um metro quadrado, coberto com telhas de barro vermelho toda incrustada com limo verde escuro.

Minutos depois o motorista saiu, mas desta vez, exprimindo uma escancarada sensação de alivio na cara.

O gorducho, abriu a porta do sofisticado ônibus prata com faixas azuis e vermelhas, virou-se para o Drelk que o observava com as malas no chão, e o cumprimentou com um breve aceno, pressionando o quepe na cabeça para não voar.

Como o veículo permanecera estacionado com o motor em funcionamento, ele apenas: subiu, sentou, fechou a porta do ônibus e saiu acelerando. A poeira levantada pelo ônibus, rapidamente foi espalhada em todas as direções pela intensa ventania.

Drelk olhou de um lado para o outro com os olhos entreabertos protegendo-os da impetuosa tempestade de vento, enquanto ela o surrava com as partículas de areia extraída das ruas de terra batida.

Com a velocidade que as partículas de grãos de areia se chocavam contra o seu rosto, com certeza, além de arder muito, possivelmente, lhe deixaram marcas.

O lugar estava deserto, não havia mais ninguém na rua além de Drelk. Parecia que era o único ser vivente naquele fim de mundo. Todos haviam procurado um abrigo seguro. Drelk, porém, não tinha pra onde correr.

A "Vila", como era conhecida aquele vilarejo, antigamente era uma pequena e promissora cidade bem movimentada, mas agora, estava parada no tempo. Perdera toda a sua imponência quando os agricultores trocaram as plantações de grãos de suas propriedades por pastagens. Os velhos silos da cidade, que outrora, viviam cheios de riquezas em forma de grãos, hoje, não serviam para outra coisa a não ser juntar poeiras e abrigar uma grande quantidade de roedores.

Este pequeno vilarejo, abrigando cerca de dois mil habitantes, era formado por pouco mais de três dúzias de ruas expostas paralelamente. Com cerca de um quilômetro de extensão, cada uma. Elas eram divididas ao meio por outras cinco ruas, com aproximadamente três quilômetros, sendo a do meio a maior de todas e, considerada a avenida principal da antiga cidade. A única com pavimentação asfáltica. As demais, eram revestidas com paralelepípedos.

Continuando nesta mesma avenida, alguns barracões antigos e abandonados, reminiscências de quando a Vila ainda era um grande polo comercial de grãos, servia como comércios que abasteciam os sitiantes dos arredores, e os poucos moradores da cidade. Além dos barracões e dos velhos silos, também havia uma escola com uma quadra esportiva cercada com telas de arames entrelaçados, mais parecendo uma penitenciária, onde os poucos jovens que ali viviam, costumavam encontrar-se para se divertirem.

No final desta avenida, onde terminava o asfalto e compondo a parada de ônibus, estava uma surrada guarita com alguns bancos feitos com troncos rústicos e tabuas de madeira e um casebre que servia de banheiro. Este era o local onde agora Drelk esperava por seu tio Yousef, que estava atrasado para encontrá-lo.

Drelk olhou para o celular que estava sem torre e verificou sua caixa de entrada. Relendo a última mensagem de sua mãe, recebida minutos depois de ter embarcado: - Eu já avisei seu tio Yousef. Disse que você chegaria no último ônibus. Beijos e se cuida meu filho.

A mensagem estava cheia de corações, o que fez Drelk deixar escapar um breve sorriso com um aperto no peito. Ele Não queria admitir, mas já estava com saudades da mãe. Drelk não imaginava que sentira saudades dela tão rápido.

A tempestade de areia que parecia ter sido passageira, logo parou. Preocupado por seu tio não aparecer, ele olhou para o banco da parada de ônibus, e pensou em sentar-se enquanto esperava. De repente, uma tristeza o apunhalou. Era exatamente ali, há onze anos, o último lugar em que viu o seu pai com vida pela última vez.

Para distrair-se, Drelk começou a olhar as casas que ainda eram quase todas feitas de tábuas. Algumas bem conservadas exibindo pinturas de cores vivas, outras de tons acinzentadas, desbotadas pelo desgaste do tempo. Mesmo se segurando, ele não aguentou. Um fio de lágrima desceu quente no canto de seu rosto, antes mesmo que conseguisse enganar a sua mente com o agora.

Devido aos ventos e chuvas constantes, muitas destas construções tinham seus alicerces todos chamuscadas de vermelho-terra. Alguns casarões estavam completamente abandonados e tomados por morcegos, que naquele momento já despertavam com tamanha algazarra anunciando o início da noite. Aquele cenário fez com que Drelk deixasse a tristeza de lado, dando lugar ao medo. Um grande sentimento de pavor o fez tremer por inteiro, fazendo com que deixasse de lado suas tristes lembranças instantaneamente.

Quando criança ouvia os mais velhos comentarem a respeito de fatos assombrosos ocorridos naquela região. Por mais que não quisesse recordá-los, agora, estes contos surgiam em sua mente como relâmpagos, ganhando vida em sua imaginação. Era como se não tivesse o controle dos seus próprios pensamentos.

Os últimos raios de sol denunciavam o início de mais uma noite fria. Drelk que já havia passado da fase dos arrepios e tremedeiras, começou a ser sufocado pelo descompasso de seu coração. Que se pudesse, fugiria de seu peito, deixando-o a mercê de sua própria sorte para enfrentar os medos e temores de uma imaginação tão fértil como a dele.

Passava das dezoito horas e o vento havia dado uma trégua. Mas, a furtiva noite, despejava impiedosamente sobre aquele lugar, seu denso manto negro. Consumindo qualquer iluminação que ousasse enfrentá-la.

Aos poucos a escuridão reclamava seu espaço, exigindo o seu lugar por direito. Mais uma vez o tempo com a sua engrenagem em movimento contínuo, marchando no ritmo do tick-tack, presenciava o início de mais uma interminável batalha entre o dia e a noite.

Naquele ambiente de densa penumbra, onde a escuridão expulsara toda a claridade natural, resistiam, insistentemente, apenas alguns pontos de fracas luzes artificiais. Elas estavam fixas em velhos postes retorcidos feitos com troncos de eucalipto. Seu brilho oscilante, tocado por um enorme gerador movido a diesel, não chegava a iluminar nem mesmo o pé dos secos e velhos postes que as sustentavam.

Olá!

Espero que gostem.

Por favor votem e comentem, só assim poderei saber se ainda estou no caminho certo.

Obrigado e até o próximo capítulo!

Dramagerom "Herdeiro Guardião"Onde as histórias ganham vida. Descobre agora