Capítulo 04 - O Diário: Elisabeth

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— Como assim, almas gêmeas? — quase gritou, tomada de surpresa. — O Felipe disse-me que, pela pesquisa dele, eu poderia ser sua descendente. Isso é bem diferente de sermos almas gêmeas.

Ela olhou para o namorado em busca de ajuda para explicar aquela afirmativa, mas ele deu de ombros e apenas sorriu.

— Minhas pesquisas estão corretas, tenho certeza quase absoluta. Vocês são parentes, mesmo que distantes, pois seus DNA são muito próximos para não serem parentes. O percentual não compatível é pequeno, portanto a margem de erro é pouco provável. Vocês têm algum parentesco, sim.

O homem olhou-a com carinho e segurou suas mãos com delicadeza, levou-as até os lábios, beijando-as com ternura. Yara o olhou com dúvida, mas aceitou seu carinho, embora seu corpo não emitisse calor, podia sentir seu toque de energia concentrada. Sentiu uma paz enorme quando encarou seus olhos, como se algum dia já os tivesse visto assim, de tão perto.

— Eu vou contar minha história, depois você tira suas conclusões, está bem? — ele conduziu-a pela mão até a cadeira mais próxima e se sentou na outra. Felipe estava em pé, encostado na parede, mas observava tudo com atenção e interesse, é claro, mais científico do que simples curiosidade pela história que continha aquele diário ambulante. Sorriu ao mentalizar a figura de um enorme livro com pernas, andando a esmo pelos corredores da estação.

Ela olhou-o atentamente, enquanto o holograma começava a contar sua história de forma serena:

— Eu tinha trinta e cinco anos, quando conheci uma pessoa que foi muito especial para mim. Estávamos em 2060 e trabalhávamos num jornal digital. Nos últimos vinte anos tinham acabado praticamente todos os últimos jornais impressos. Quase todos agora eram digitais. A quantidade de funcionários não era tão grande como na época dos impressos, mas o nosso era considerado um grande jornal, com quase cento e cinquenta anos de existência, chamava-se Terra News.

Enquanto o holograma falava, o pequeno aparelho em forma de maçã ia projetando as imagens narradas no meio do alojamento. Elas eram perfeitas e reais como se um filme em 3D estivesse se desenvolvendo ali, na frente deles, ao alcance de suas mãos. Parecia que o quarto agora estava cheio de gente. Yara ficou impressionada com a nitidez das cenas e a movimentação. Deu uma rápida olhada em Felipe, pois sabia que esta parte também devia ser coisa de sua mente criativa. Seu amado conseguira fazer com que a narrativa detalhada no diário fosse convertida em imagens 3D hiper-realistas. Yara notou que ele estava sorrindo quando o encarou. Aquele sorriso a teria deixado excitada, se não estivesse agora tão focada em ouvir o relato.

— Tínhamos invejável tradição e audiência na grande rede digital. Eu trabalhava na Editoria Econômica e ela passou a integrar a Editoria de Turismo e Lazer. Até algumas semanas antes, fizera parte da equipe de um jornal menor, O Mochileiro, especializado em viagens, turismo e lazer, e que nossa organização havia comprado há mais de dois anos, mas que continuou como uma empresa independente até aquele mês. Agora fora incorporado em definitivo à nossa empresa, e seus funcionários passaram a trabalhar no mesmo prédio em que trabalhávamos. Aquela era a primeira semana que trabalharíamos no mesmo andar. Já a conhecia de alguns eventos organizados em conjunto por nossos jornais. Seu nome era Bárbara Luz. Uma linda mulher, muitíssimo parecida com você, Yara. Tinha vinte e cinco anos quando nos conhecemos. Era negra, com uma tonalidade que lembrava um caldeirão de chocolate derretido, se bem que esta é uma comparação bem simplória, reconheço.

Yara pôde ver as imagens de Bárbara, sentada em sua mesa, digitando alguma matéria num terminal de computador. Era muito bonita, a pele da mesma tonalidade que a sua, cabelos negros, cacheados e mantidos em estilo afro, desciam até os ombros, assim como os seus. Tinha olhos também cor de mel, bem vivos, que se destacavam em qualquer ambiente. Aquela mulher parecia uma cópia sua, ou melhor, Yara é que parecia ser a cópia quase exata dela. Era impressionante. Seria outra pegadinha do Felipe? Olhou para ele, que não demonstrava estar se divertindo com seu embaraço, pelo contrário, parecia também bastante surpreso com a semelhança entre as duas. Bárbara era alta, tinha 1,80m de altura, apenas uns cinco centímetros mais baixa que o holograma... "Engraçado... qual era o nome dele?", pensou Yara. Não pensou duas vezes e o interrompeu:

Amor Infinito  (Degustação: 21 capítulos)Where stories live. Discover now