Capítulo 16 - Explicações

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  • Dedicado a Marlene Guimarães
                                    


— Gegê?

— ...

— Gegê? Está tudo bem com você?

— Ahn? O que disse?

— Está tudo bem com você? Você estava tomando o café e, de repente, ficou parado, com o olhar tão distante...

— Está tudo bem, sim, mãe. Fica tranquila.

— Tranquila eu sempre estou, mas você não esteve aqui por alguns minutos. O que está te perturbando?

Eu olhei para ela ainda tentando voltar à realidade. Na verdade, eu me ausentara por alguns minutos, meus pensamentos estavam em outra pessoa, que naquele momento, com certeza, estava sofrendo. Meu peito apertava. Mais do que o normal, já que há algum tempo vinha tendo estes sintomas em ocasiões especiais.

Estávamos tomando café da manhã numa aconchegante cafeteria perto do meu trabalho, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mamãe me ligou cedo, pois ela e o namorado resolveram mudar sua programação e iniciar o dia de maneira diferente. Saíram de seu condomínio em Vargem Grande e vieram fazer a caminhada matinal em volta da Lagoa. Percorreram uma boa distância, agravada pelo trânsito àquela hora da manhã, pois era o fluxo normal de quem vinha para o trabalho na Zona Sul e Centro da cidade. Mas, como ela me disse depois, achara minha voz estranha quando nos falamos na noite anterior e resolveu mudar seus planos, vindo encontrar-me logo cedo. O namorado foi caminhar em volta da Lagoa, mas ela me convidou para tomarmos café da manhã juntos, como não fazíamos há muito tempo.

Nunca me cansava de admirar sua beleza. Os anos pareciam não passar para ela, e ela não dava a mínima. Tinha sua filosofia de vida, procurava não se estressar, curtia muito cada momento vivido, namorava como se ainda fosse uma mulher de trinta anos, procurava sempre ajudar o próximo e cuidava de sua família como uma tigresa. Papai costumava dizer que ela era sua segurança particular, sempre pronta a partir para o ataque ao menor sinal de que ele precisava de ajuda. Amaram-se intensamente até a morte dele. E continuava a amá-lo até hoje, embora tenha resolvido aproveitar a vida de maneira intensa. Dizia que esse era o compromisso deles. Quando um se fosse, o outro deveria continuar tocando sua vida da mesma maneira como faria se estivessem juntos. Ela disse-me várias vezes que sabia que o meu pai continuava cuidando dela, lá de onde estava agora.

Quando me fez o convite para o café da manhã, eu aceitei de pronto, pois já tinha pensado em passar na sua casa para podermos conversar mais à vontade. Se havia alguém com quem eu poderia falar sobre estas minhas novas inquietações era com ela, pois seguia o kardecismo desde mais nova. Sempre achava alguma explicação espiritual para nossas aflições, por mais malucas que elas pudessem parecer às vezes.

— Algum problema com Elisabeth?

— Não. Com ela está tudo maravilhoso, mesmo estando à distância — tomei um novo gole de café, enquanto ela continuava olhando-me, perscrutadora.

— Também não faz tanto tempo assim que vocês estiveram juntos. Ninguém morre de saudades por um afastamento tão curto. Ainda mais com tantos recursos tecnológicos disponíveis hoje em dia.

— O que está me afligindo é outra pessoa... — ela levantou a sobrancelha direita e ficou ainda mais atenta. Seu sentido de mãe protetora havia disparado.

— Outra pessoa? Não é aquela sua amiga, Bárbara, da qual você já havia comentado antes, é?

— Sim.

Ela deu um suspiro e por alguns segundos desviou o olhar para a grande janela que nos mostrava a linda vista da Lagoa. Depois tornou a olhar para mim, sem demonstrar nenhuma contrariedade.

Amor Infinito  (Degustação: 21 capítulos)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora