cap. 11 | morte ao pênis

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Qual o melhor tipo de sapato para chutar as bolas de um homem?

Meu vestido branco com babados na altura das coxas é perfeito. Minha bolsa carteira da mesma cor com um botão prateado em formato de coração também. Mas aqui estou eu de pé, parada de frente a um jogo de prateleiras com uma enorme variedade de sapatos de bico fino.

Pego um Louboutin estilo glitter. Ele é grande, poderia ser bem proveitoso... Mas espera, tem esse par aveludado da Versace que também ficaria ótimo, e a ponta dele... Ah! Mas eu não posso esquecer do famigerado Armani que se adéqua a qualquer situação.

É tão difícil!

Por fim não tenho mais tempo. Acabo optando por uma sandália Nudist já que ainda eram nove da manhã, e claro, eu estava indo para uma festa branca – Onde, para quem não sabe, as pessoas geralmente só usam branco... E são brancas.

Nem toda a raiva que eu estava concentrando sobre o tio pedófilo de Pérola me faz esquecer da tentativa de beijo falha com Cazinho. Assim que passo pelas enormes portas da minha enorme casa, ele está lá de pé, aguardando de mãos juntas para me levar ao meu destino pedofiliano.

– Bom dia. – Ele cumprimenta como sempre.

É uma viajem silenciosa. Quando não estou pensando em imagens minhas esfaqueando o pedófilo Rafael, estou olhando disfarçadamente de rabo de olho para Cazinho ao meu lado. Geralmente nossas viagens são em sua maioria silenciosas, mas depois daquele dia era praticamente como viver em uma cena eterna de suspense. O monstro nunca aparecia para me pegar no final das contas.

– Eu só quero que você saiba... – Falo, do nada. – Aquele dia que eu tentei beijar você, eu não estava querendo brincar com você ou algo do tipo. É que a Xuxa ficou me pressionando, sabe? Ela é bem caipira e maluca as vezes. E acho que eu estava meio drogada também.

Não sei porque abro minha boca, mas quando dou por mim já falei toda aquela bobagem. Cazinho assente com a cabeça.

– Tudo bem, você não precisa me dar explicações.

É, eu não precisava mesmo. Mas eu meio que queria.

– Sei lá, talvez você tivesse ficado magoado. Ou achasse que eu era uma pessoa horrível.

– Não, tudo bem. – Cazinho direciona seus olhos para mim, pela primeira vez naquela manhã, e logo depois os desvia para frente novamente. – Eu entendo.

Mais uma coisa quer sair da minha boca. Duas palavras. Sinto um formigamento estranho no meu peito ao mesmo tempo. Por fim, não acabo falando mais nada. Apenas dou um sorriso radiante.

A casa de Pérola é cristalina – Grande, branca e cristalina. É estranho (até mesmo vergonhoso) para algumas pessoas chegar em um lugar novo, onde não se conhece ninguém. Não para mim. Mesmo sem a companhia de Sheron – que tinha um ensaio na boate – e de Xuxa – que sabe-se lá o que estava fazendo agora que não entregava mais panfletos – caminho tranquilamente até o portão onde um dos empregados está plantado de pé. Ele também está todo trajado em branco.

– Senhorita Bárbara, é um prazer ter você na residência da família Vitti. A confraternização está acontecendo no salão principal. Pérola está ansiosa a sua espera.

Ele me dá olhadas estranhas enquanto me leva até o salão pelos corredores brancos. Tenho certeza que é um Barbitch enrustido.

– Barbie! – Pérola vibra assim que apareço.

Tenho uma visão ampla assim que atravesso o arco de entrada. Uma sala extensa e bem iluminada por janelas enormes de vidro, apresenta várias pessoas com taças de champanhe ou algum aperitivo nas mãos. Pérola apressa o passo até onde estou e me dá um abraço. Ela esta usando branco como todos os outros. Blusa de mangas compridas e saia justa. Na cabeça sua boina branca parisiense.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora