cap. 1 | deus usa juliet

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Como é maravilhoso acordar rica e bonita em Paris!

O leve toque do lençol contra minha pele macia é prazeroso. Abro bem os braços aproveitando toda a dimensão do colchão cem por cento de plumas, enquanto minhas pernas delicadas deslizam de um lado para o outro preguiçosas. Quando meu corpo se eleva para cima, dou de cara com um espelho prateado que eu mesma posicionei ao pé da cama – Que reflexo meus amores! Que reflexo!

Eu estava no auge dos meus vinte e quatro anos. Era uma mulher bem resolvida, jovem e bonita. Em pleno começo de fevereiro eu ainda aproveitava minhas preciosas férias francesas. Era verdade que uma vez eu havia dito que os franceses eram chatos, mas isso não queria dizer que a França não fosse FANTASTIC.

Caminho em minha camisola branca extremamente sexy – que eu usava mesmo sem ninguém para poder apreciar – até o meu banheiro. Enquanto escovo os dentes admiro meu rosto intacto contra o espelho sobre a pia. Era incrível como eu já acordava assim, praticamente pronta para uma festa de gala. Uma pele naturalmente aveludada, olhos azuis bem charmosos e cabelos vermelhos em ondas que caiam sobre as costas – Detalhe: Naturais.

Eu sei que você deve estar pensando: Essa garota é uma metida! Mas não, vocês precisam saber que a minha vida não é só um mar de rosas.

Há exatamente um mês, meu melhor amigo do mundo Oliver se casou com seu namorado Luca em uma cerimônia de contos de fadas no Brasil. Claro que eu fui a madrinha junto com o meu namorado – ops! Ex-namorado – o Felipe. E também foi há exatamente um mês que tivemos uma discussãozinha boba.

Tudo começou quando eu faltei no velório da avó dele para comprar sapatos – É melhor não me julgar antes de saber a história toda.

A velha que já tinha uns oitenta e oito anos faleceu de repente um dia depois do casamento. Felipe ficou bastante triste, e eu o consolei muito – o que foi bem cansativo... – Enfim, no dia em que ela seria oficialmente velada eu recebi uma notificação importantíssima no meu Instagram onde sou praticamente uma sub-celebridade – Tenho três milhões, setecentos mil, quatrocentos e cinquenta e dois seguidores (a história sobre a minha fama ainda não vem ao caso). Eu quase caí morta como a própria avó de Felipe quando vi que era uma mensagem de um dos meus estilistas exclusivos da Escandinávia.

A mensagem era praticamente um alerta divino. Um par dos sapatos do próximo lançamento da Prada estava disponível um mês antes de chegarem ao Brasil, e ele conseguiu os separar para mim por poucos dias, então eu teria que ser rápida. Quando dei por mim já estava em um avião, mas eu juro que meu coração estava naquele velório junto com meu namorado fofinho – Até mandei uma coroa de flores imensa toda detalhada em cravos brancos.

Resultado: Ele ficou com raiva. Precisei vir passar as férias em Paris sozinha como consequência, hospedada em um dos melhores hotéis da cidade. Foi tudo muito difícil.

[Caixa de mensagens]

Felipe: Eu não acredito que você não veio no velório da minha avó! Você sabia como ela era importante para mim.

Barbie: Tá, eu sei! Mas você também sabia como esses sapatos eram importantes para mim. Como você pode ser tão egoísta?

Felipe: Eu? Egoísta? Você só pode estar brincando! Quer saber, eu não estou no clima de passar as férias em Paris.

Barbie: Você não se atreveria!

Felipe: Acho que você não vai se importar, não é? Que presença melhor que a sua própria durante um mês inteirinho.

Barbie: Ai Felipe, você sempre estraga tudo!

E depois disso não nos falamos mais. Eu meio que sentia que estava sendo um pouco egoísta, mas eu não conseguia simplesmente voltar atrás com as minhas palavras. Então, enquanto Oliver e Luca passavam sua lua de mel sabe se lá onde, eu tive que vir para a capital da moda sozinha. Abandonada. Deixada de lado. Largada as traças.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora