Um reflexo no espelho

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- Hye Lin, o que vai fazer esse domingo? - Ximen perguntou se sentando ao lado dela em um dos bancos da área externa.

- Voce sabe, o mesmo de sempre: nada. - ela riu fechando seu bloco de anotações.

- O domingo é o único dia que não temos nada planejado pelos médicos, e toda vez você fica pintando e escrevendo.

- Eu gosto de fazer isso. Me sinto calma e relaxada. Não é como se tivesse mais maneiras de passar o tempo por aqui...

- Mas tem. Ganhamos a liberação para ir até o chalé. Algumas pessoas vão pra lá cantar na fogueira, por que não vem?

- Que horas vocês vão?

- Vamos sair as 16h para ver o pôr do sol na montanha.

- Ok.

- O que está fazendo agora? Desenhando ou escrevendo?

- Escrevendo - ela sorriu.

- Voce deveria fazer um desenho para mim. - apoiou o cotovelo no encosto do banco e olhou para longe, despreocupado.

- O que quer que eu desenhe?

- Seu rosto - ele a fitou.

- Meu rosto?

- Sim. - ele sorriu - assim vou poder olhar para você quando estiver me sentindo mal e me lembrar que posso vencer isso.

- Você pode, Ximen. Todos nós podemos com um pouco de força de vontade e paciência.

- Voce faz parecer simples, Hye Lin.

- Eu preciso pensar assim. Eu preciso me curar por completo rápido para sair daqui.

- E ainda tem alguém te esperando - ele riu parecendo triste e encarou o chão - Voce tem sorte.

- Mas eu não tenho casa para morar. Não sei onde vou ficar quando sair daqui.

- Seu namorado não vai te deixar na rua.

- Mas não quero depender dele, Ximen. Quero pela primeira vez fazer as coisas por mim mesma, ser independente e conquistar meus próprios sonhos.

- Vai conseguir, eu tenho certeza.

- Nós vamos. Vamos ser amigos depois que sairmos daqui, não vamos? - ela tocou o ombro dele com ternura.

- Com certeza!

Enquanto não deu o horário das atividades os dois ficaram conversando ao ar livre.

Hye Lin gostava de se sentar ali e lembrar que existia um mundo enorme esperando por ela depois dos grandes portões da clínica.

Quando tudo parecia estar difícil demais para prosseguir era disso que ela lembrava, assim como o sorriso de Wonwoo ao dizer "eu vou te esperar".

Aquela frase havia se tornado seu mantra, e o chaveiro que ele tinha dado á ela era seu companheiro de todos os momentos, já que a jovem o pendurava no cinto das calças que usava, ou apenas o levava na mão, como um amuleto.

Depois de uma hora de terapia com a psicóloga, Hye Lin seguiu para a fila de pesagem, onde as enfermeiras lhe davam seus remédios e marcavam seu peso atual.

Conforme se aproximava da balança o nervosismo crescia dentro de si. Uma parte dela torcia para engordar e atingir seu peso ideal, mas a outra se recusava a ver as gramas que apareciam.

Como a alimentação e os exercícios físicos eram controlados, perder peso significava que você tinha quebrado alguma regra e pulado refeição ou forçado o vômito. Já se engordasse em excesso era porque estava boicotando a dieta e comendo escondido.
Cada grama de diferença, seja para mais ou para menos, contava, e isso pressionava Hye Lin de várias formas possíveis, assim como mexia com todos os internos.

Trauma (Jeon Wonwoo)Where stories live. Discover now