CAPÍTULO 14 - Inconveniente Poliana

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Eu não podia ficar no banheiro pra sempre. Me troquei com muita dificuldade, e penteei meu cabelo. Olhava no espelho e não me reconhecia. Meus olhos estavam fundos, meu cabelo quebradiço, eu não tinha nenhuma expressão facial, nem de cansaço, nem de tristeza, nem de angústia. Era simplesmente... vazio.

Quando saí do banheiro, Poliana estava sozinha no meu quarto. Encostada na beira da minha cama, ela revirava todas as minhas fotos com o Pietro, pegou uma camisa dele e cheirou, pegou minha bolsinha e jogou pra longe, dizendo "que brega". Mas fiquei totalmente fora de mim quando a vi pegar o meu porta-retrato azul e cuspir em cima dele, aquilo me encheu o peito de fúria.

– O que você está fazendo? Eu nunca deveria ter aceitado que você entrasse na minha casa. Se o Pierre estivesse aqui, com certeza ele diria para eu não permitir que isso acontecesse. Se afasta das minhas coisas! - Tomei o porta-retrato da mão dela. - Cadê a Bonnie? Bonnie! - A chamei.

– É engraçado o seu desespero. Eu te deixo tão insegura assim? - O tom de ironia dela me levava aos níveis mais altos de ódio.

– Até parece que me sentiria insegura por conta de uma coitada como você. - Rebati. - Bonnie!

– Você nunca se perguntou por que o Pietro se esforça tanto pra te manter longe de mim?

– Porque eu não sou a única que vê o quanto você não vale nada.

– Coitadinha. - Ela gargalhou alto. - Nunca percebeu por que o Pietro sempre ficou longe de mim?

– Porque ele te detesta.

– Você é cega mesmo.

– Do que você está falando?

– Ah, coitadinha, você não sabia mesmo.

– Você vai ficar aqui fazendo eu perder tempo?

– Não acredito que Pierre nunca te contou sobre nós.

Eu não estava gostando do rumo daquela conversa.

– Do quanto nós éramos incríveis na cama. Você sabia que a primeira vez dele foi comigo?

Eu estava estatizada e sem reação.

– Por isso ele nunca quis que você se aproximasse de mim, para não descobrir toda a verdade, e manteve distancia de mim, porque sabia que nunca conseguiria resistir ao nosso fogo.

Eu me esforçava para ter uma reação, mas não conseguia, era como se algo me mantivesse paralisada.

– Várias vezes ele me disse que era a melhor das garotas que ele mantinha em sua cama. O oral dele é sensacional! Mas eu também o enlouqueço com minha boca. - Ela disse mordendo o lábio inferior.

– Já chega, Poliana. – Finalmente consegui gritar. – Não me importa o que aconteceu entre vocês. Porque ACONTECEU, no passado, não acontece mais. Você foi uma dentre várias, e ele nunca deixou ninguém pra ficar só com você. Advinha só, Poliana, o Pietro te largou, e largou todas as outras, há quatro anos, e olha que eu não dava se quer um selinho nele. Ele não escolheu meu corpo, não escolheu meu beijo, e não escolheu minha transa. Entre todas as outras, inclusive você, o Pietro simplesmente me escolheu. Escolheu a minha companhia, o meu abraço, o meu gosto para filmes, a minha inteligência, e toda a minha complexidade e dificuldade para lidar com pessoas. – Eu havia acabado de tirar de mim um fardo de 80 kg. – E quer saber o que mais, Poliana, eu tive que suportar você aqui por muito tempo. Sai da minha casa agora!

Segurei firme em seu braço e saí a arrastando escada a baixo.

– Ah, querida. Você é tão boba. Não percebe que tudo o que eu queria era seu stress?

Eu fiquei tonta. Olhei para aquele quadro na parede, e parecia que a pintura tinha ganhado vida. O castelo parecia vivo, e de repente, parecia que as nuvens estavam mexendo.

Balancei a cabeça, achando que já estava delirando, por muito tempo sem comer direito, desde que o Pietro sumiu, esfreguei os olhos e olhei para a pintura novamente. Continuava tudo ali. Vivo.

O redemoinho foi aumentando, se aproximando, eu podia até sentir o vento forte, quando eu menos esperava, aquela droga saiu do quadro, e me sugava para si.

Bonnie chegou na hora. Gritava em desespero. Meus pés já estavam presos pelo redomoinho, e ela me puxava pelas mãos.

Sem sucesso.

O Mistério de Emma SueWhere stories live. Discover now