CAPÍTULO 13 - Presságios

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Finalmente em casa. Comecei a limpar tudo de alto a baixo. Cada canto da minha casa, as paredes, as cantinhos atrás das peças, dentro das peças, em cimas das peças, reorganizei minha gaveta de calcinhas e minha gaveta de meias por cor.

Arrumei meu material de trabalho, coloquei todas as minhas letras de músicas e poemas que estavam em folhas avulsas dentro de uma pasta só, em ordem cronométrica.

Tudo isso ouvindo Charlie Brown Junior, porque Clarice Falcão seria minha sentença ao suicídio naquele momento.

Eu estava exausta, estava quente demais pra tomar um chá, ou chocolate quente. Queria um chá gelado, e o lugar mais próximo que vendesse, era a Subway. Não estava muito a fim de sair.

Sentei a mesa de minha cozinha contentando-me com um suco de laranja que já estava na geladeira.

Na parede a minha frente havia uma pintura. Pietro nunca havia gostado dela, sempre dizia que o trazia arrepios, e eu sempre dizia ser bobagem dele, mas na verdade é que eu nunca tinha parado para prestar atenção. Só que agora, eu não conseguia deixar de olhá-lo.

Era um castelo grande e antigo, com muitos prédios, muitas escadas, em meio há muitas montanhas. E havia o azul. Impossível não notá-lo. Aquilo me matava tanto, me sufocava. Azul sempre fora a nossa cor e vê-lo daquele jeito, naquele momento, me trazia medo, angustia, terror, saudade. Bem, eu já estava sentindo tudo isso, mas aquele quadro triplicava todos os sentimentos sufocantes, e mal sabia eu que o quadro era exatamente quem estrava trazendo toda essa falta de ar.

Um medo terrível de nunca mais encontrar o meu querido Pietro me tomou o peito, até parece que eu já tinha o perdido, que ele já tinha morrido, que já havíamos o velado e enterrado, e eu estava naquele momento de torpor pós cemitério em que não havia mais lágrimas para derramar, mas de alguma forma, elas caiam pra dentro. Sim! Era exatamente isso. A dor era tão grande que eu nem tinha mais forças de jogar as lágrimas para fora, por isso elas caiam insuportavelmente dolorosas dentro de mim. Saí do meu torpor quando Bonnie me tocou o ombro. Sim, ela tinha acesso livre à minha casa, principalmente agora.

Eu não podia me mostra fraca. Ainda sentia medo, muito medo, pelo ocorrido na noite anterior. Mas a irmã do Pietro estava na minha frente, e em sua ausência, eu precisava cuidar dela.

"Não fraquejar, não fraquejar, não fraquejar", era o que eu repetia na minha mente como um mantra, mas, francamente, quando Bonnie desmoronou em meus braços, eu não tive saída.

Aquelas lágrimas insuportáveis caíram para fora, aliviando um tantinho, quase nada, da dor massacrante de dentro.

Senti uma coisa ruim, é, outra coisa ruim, como um presságio, eu não sei explicar bem, eu não sou muito boa em descrever sentimentos, mas algo estava muito errado ali. Algo muito ruim estava prestes a acontecer.

Levantei a cabeça e vi Poliana, ah, claro, como não ter um mau presságio? Bonnie notou minha mudança de humor e logo começou a se explicar.

– Desculpe, Verô...

– Eu sei que não somos maiores fãs uma da outra - Poliana interrompeu a Bonnie, - mas ela precisa das duas agora.

Eu só concordei com a cabeça porque se eu fosse dar uma cena naquele momento, com toda a certeza, machucaria a Bonnie, mas dentro de mim eu gritava: "sai daqui agora. Saia da minha casa". Precisei me calar pela Nie.

Mas aquele clima estranho, ah, ele ainda estava lá, e quanto mais eu olhava pra Poliana, mais aquilo aumentava. Parece rixa minha, eu sei, mas, eu juro que aquilo aumentava, piorava, é como se meu pisca alerta pra perigos enlouquecesse vendo ela tão perto.

– Trouxe chá gelado. - Bonnie tentou esfriar aquele clima pesado. Ahh, ela sabia o que fazia.

– Tira ela da sua casa, Verônica. - Eu ouvia a voz do Pietro tão clara quanto na noite anterior. - Você viu o que deu quando não me ouviu ontem a noite.

Estava começando a ficar preocupada com isso. Me perguntava se deveria contar a Tia Yara que ouvia a voz do Pietro nitidamente. Estaria ficando louca, meu Deus?

Sendo ele ou não, eu realmente não queria aquela menina na minha casa, mas eu não podia fazer uma cena agora, isso machucaria a Bonnie, e ela já estava machucada demais. Precisei engolir.

– Agora, Verônica!!!

– EU NÃO POSSO!

Gritei com a voz na minha cabeça, eu não suportava mais aquilo. As meninas me olhavam sem entender.

– Não pode o que, Vê? - Bonnie perguntou confusa.

– Nada Nie, não é nada. - Respondi friamente e subi as escadas correndo, foi a única reação que pude ter, e a última que eu deveria ter tido.

– Desce lá agora, tira a minha irmã de lá, tira aquela mulher daqui, Verônica!

– EU NÃO POSSO, PIETRO. EU NÃO POSSO. JÁ TA DIFÍCIL SEM VOCÊ AQUI, AÍ VOCÊ AINDA FICA APARECENDO NA MINHA CABEÇA E FALANDO ESSAS COISAS. ASSIM PIORA TUDO, PIETRO! ME DA UM TEMPO, TA LEGAL?!

- Verônica ... - As duas estavam na porta me encarando. - Por que você está chamando pelo meu irmão assim? - Céus. O que eu fiz? Eu havia deixado a Bonnie ainda mais confusa. Como explicar isso agora? -Tina, você está bem?

– Não se preocupe, Bonnie. - Me apressei em responder. - É só que a falta dele tá ficando insuportável. - Bonnie me abraçou e voltamos a chorar.

Entrei no banheiro do meu quarto pra tomar um banho de pé a cabeça, eu estava exausta, e provavelmente, enlouquecendo.

– Você precisa confiar em mim, Fire Hair. Precisa tirar essa garota daqui.

Sentei no chão e comecei a chorar baixinho.

Precisava me recompor, levantei, terminei o meu banho e vesti a roupa. Lá estava ele no meu armário do banheiro, o que restava do chaveiro-tsuro depois daquela noite.

O Mistério de Emma SueWhere stories live. Discover now