CAPÍTULO 6 - Malu (capítulo in memoriam)

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Crianças novas chegavam ao orfanato todos os anos, era uma coisa comum, mas aos meus sete anos, chegou uma menininha especial. O nome dela era Malu e ela tinha um ano. Seus pais haviam morrido num acidente de carro que ela também estava, e nenhum parente seu fora encontrado.

Mesmo não falando com ninguém, eu sempre estava por perto da Malu. Quando ela chorava a noite, eu ia até o berço dela, e ficava segurando a sua mão até ela se acalmar. Quando isso não funcionava, eu a pegava no colo e ficava cantarolando um "hmmm hmm hmmmm" até que ela dormisse outra vez.

O tempo foi passando, nós fomos crescendo, e mesmo quando eu ainda era "muda" Malu não me deixava, nunca saía do meu lado.

Quando eu comecei a falar, na primeira vez que dei bom dia a Tia Yara, Eu também comecei a falar com a Malu. Eu tinha dez anos e ela quatro. Eu nunca vi aquela criança tão feliz na minha vida.

Agora Malu tinha a idade que eu tinha quando ela chegou a ao orfanato, eu não era lá tão velha assim, mas para mim, ela era a minha menininha. Não conseguirei falar muito sobre ela e peço que me desculpem, mas ainda é insuportável lembrar, me dilacera por dentro. O detalhe mais importante é que eu a amava incondicionalmente.

Quando cheguei da escola naquele dia e corri para a minha cama, ela foi me perguntar o que tinha acontecido comigo e tudo que eu consegui responder foi "me deixa sozinha, Malu". E talvez eu tenha sido um pouco ignorante aqui.

Ela correu pra fora do quarto chorando. Okay, Lu, eu sei que pedi pra ficar só, mas meu dia já estava ruim demais pra te ver chorar. Aquilo realmente partiu meu coração.

Logo depois Malu começou a brincar. Fiquei da janela do quarto vendo-a no jardim com as outras meninas.

Tudo aconteceu do nada, muito rápido. Eu vi um carro passando na rua adjacente, meio desgovernado.

Eu desci correndo pra tirar as meninas da rua, mas não deu tempo, foi tão horrível.

Eu vi tudo.

Assim que cheguei na entrada no jardim, vi a Malu correndo para o meio da rua pra pegar a bola que elas estavam brincando, o carro desgovernado apareceu do nada, e a atingiu de cheio. Corri para o meio da rua vi a minha menininha jogada no chão com o rosto muito inchado e seu corpo todo ensaguentado. Me ajoelhei ao seu lado chorando desesperadamente.

As outras meninas correram para dentro pra chamar as monitoras e cuidadoras.

– Me desculpa, Vê, eu não queria te irritar quando você chegou da escola. - Ela falou com muita dificuldade.

– Não precisa se desculpar, meu amor, você não me irritou, eu já estava chateada. Não fala mais nada, não faça esforço. - Percebi que ela estava ficando branca, cada vez mais branca, seu corpo estava esfriando. Eu não conseguia conter meu desespero. - Só não me deixe, Malu.

– Eu chorava muito implorando pra ela não me deixar. Minha Maluzinha estava morrendo, e eu estava lá, assistindo a tudo.

– Ta tudo bem, Ti... Eu vou encontrar a mamãe e o papai...

Foram suas últimas palavras.

As cuidadoras e a diretora do orfanato vieram correndo, mas não tinha mais jeito, ela já havia partido.

Ela já havia partido!

Malu era minha única família. Era tudo o que eu tinha na vida. Agora eu não tinha mais nada. Ela era tão pequena, meu Deus, tão pequena.

Eu não conseguia parar de me culpar. Aquilo não teria acontecido se eu estivesse ao lado dela, se eu não tivesse pedido pra ela sair de perto de mim, quando tudo que ela queria era um pouco de minha atenção.

O Mistério de Emma SueWhere stories live. Discover now