“Boa noite, Andrea, Fábio, Ally.” Ela cumprimentou, acenando com a cabeça.

Eu me aproximei rapidamente dela e fiz seus olhos me encararem. “O que aconteceu?” Perguntei imediatamente.

Ela suspirou. “Acho que precisamos conversar.” Ela disse, olhando para seu chinelo havaiana.

Percebi que ela usava um calção que eu sabia ser de seu irmão e sua camisa estava com os botões tortos. Ela não usava chapéu. Algo muito grave estava acontecendo.

Engoli em seco e assenti, tentando entender o que estava acontecendo. Eu fiquei um dia longe dela, o que pode ter acontecido em um dia? Minha mãe passou pela gente e abriu a porta, deixando a gente entrar primeiro. Levei Demi direto pro sofá, onde ela se sentou e voltou a segurar sua coxa direita com uma mão. Meus pais entraram e sentaram nas duas poltronas que haviam lá.

“O QUE ACONTECEU?” Repeti, sentando ao lado dela e beijando seu ombro.

“Bom, eu aproveitei que você ia sair com seus pais hoje e fui pegar os resultados dos últimos exames que fiz. Lembra? Acho que faz um mês mais ou menos.” Eu balancei a cabeça em acordo. Se isso estava indo para onde eu acho que está... “ENTÃO.” Ela respirou fundo. “As dores na perna direita que eu venho sentido...”

“NÃO.” Cortei-a.

Ela suspirou e acenou com a cabeça. “Os médicos pensaram que o câncer estava subindo, mas ele desceu.” Demi mordeu o lábio com força. Ela não queria chorar. “Tomou conta de todos os tecidos para baixo do meu joelho. Absolutamente toda minha perna acendeu quando ele me mostrou os exames.”

“Você vai voltar aos seus remédios iniciais?” Meu pai perguntou.

Mas eu sabia o que aquilo significava. E minha mãe também, já que ela passava tanto tempo pesquisando sobre o câncer que ela poderia passar facilmente sobre uma prova e se tornar oncologista. Meu pai sabia apenas o básico, o que toda pessoa sabe.

Demi deu um sorriso triste. “Quem me dera ser assim tão fácil.” Ela negou com a cabeça. “Vou ter que amputar minha perna.” Declarou.

Meu pai engasgou de surpresa. Minha mãe a olhou com pena (já dissemos que odiamos esse olhar, porque insiste em fazer isso?!). Eu fiquei sem reação. Não chorei, não ri, não me surpreendi, não fiz nada, fiquei lá, olhando para o tapete da sala, como se ele fosse dar outra solução para o problema.

“NÃO TUDO.” Demi continuou, mexendo as mãos nervosamente. “Um pouco acima do joelho. E então vou usar uma prótese.”

“Mas seu tumor não está abaixo do joelho?” Meu pai perguntou, meio esperançoso.

“Todos os meus tecidos estão tomados pelo câncer. Se eu cortar exatamente onde está o maior problema, ele não vai embora. Amputar é a única chance agora, nenhum tratamento vai conseguir acabar com um câncer desse tamanho, e tirar um pouco a mais é uma forma de prevenir que ele volte.” Demi esclareceu.

Ficamos em silêncio de novo. Um silêncio pesado, totalmente diferente das vezes que eu e Demi ficamos em silêncio, que parecia tão confortável e fácil.

A única coisa que eu pude pensar em dizer foi: “Você está sem o chapéu.” Ridículo, não?

Demi passou a mão por seus cabelos e suspirou. “Pois é, eu saí correndo de casa, peguei as primeiras roupas que vi.” Ela apontou para seu figurino nada elegante.

Me ajoelhei na sua frente e arrumei os botões de sua camisa. Quando eu terminei, fiquei olhando para minhas mãos paradas no último botão por alguns segundos, antes que me joguei para frente, abraçando a cintura de Demi e comecei a chorar. Não sei porquê eu estava chorando, afinal quem ia ter que amputar a perna é Demi.

Não, eu sei, claro que sei. O câncer estava levando uma parte dela, ele estava vencendo. Eu não iria suportar que ele ganhasse a guerra. Ele não podia ganhar. Eu sei que Demi vai ser forte, se manter firme e aguentar qualquer coisa que for colocada à sua frente. Mas eu não sei se sou tão forte quanto ela, sei que vou quebrar se essa amputação não funcionar.

E se ela tirar sua perna e o câncer voltar? E se ela não se acostumar com a prótese? E se essa cirurgia der errado e ela morra lá na mesa? E se essa cirurgia não for a única solução e eles estejam tirando sua perna precipitadamente? E se...

Demi, assim como da primeira vez que eu chorei na sua frente, não tentou me acalmar, não sussurrou palavras de conforto, nem disse que eu não devia chorar. Ela apenas me abraçou apertado e esperou que minhas lágrimas desaparecessem. Dessa vez, demorou bem mais que da primeira. Eu simplesmente não conseguia parar de chorar.

Acho que demorou meia hora para que minhas lágrimas parassem de cair e ela me levantou para sentar em seu colo. Eu me agarrei ao seu pescoço como se minha vida dependesse disso e ela me abraçou pela cintura, dando um beijo em meus cabelos.

“VAI FICAR TUDO BEM.” Demi sussurrou depois de alguns minutos. “Afinal, alguém incrível como eu não precisa de duas pernas para continuar sendo incrível e sexy.”

Não tinha graça nenhuma. Ela estava fazendo piada de sua desgraça, de sua doença. Mas eu ri mesmo assim, não porque eu achei engraçado, mas porque ela havia voltado à sua personalidade de antes: convencida.

Eu me afastei um pouco, secando minhas lágrimas com uma mão, enquanto a outra continuava agarrada ao seu pescoço. “Não mesmo.” Concordei.

Demi sorriu e beijou minha testa. “Sou tão incrível que ficaria irresistível até sem as duas pernas, caolha, careca, faltando alguns dedos e parecendo um zumbi.”

Revirei os olhos. “CONVENCIDA.”

“EU POSSO.” Ela beijou minha bochecha.

Eu podia sentir que meus pais ainda estavam ali, apesar de não poder vê-los, mas eu queria um pouco de privacidade com Demi agora. “Quando vai ser sua cirurgia, Demi?” Minha mãe perguntou.

Demi olhou-a. “Ainda não está marcado, mas não pode demorar muito ou pode ficar ainda pior.”

“Vamos pro meu quarto, podemos ter conversas sobre o câncer depois.” Falei, levantando e estendendo a mão para Demi. Ela segurou minha mão e me seguiu até o quarto, bem mais lenta que de costume.

Assim que ela fechou a porta do quarto, eu me virei e comecei a desfazer os botões de sua camisa, enquanto beijava a pele que era revelada. Ela suspirou. “Ally, seus pais estão lá embaixo.” Ela murmurou.

Nunca havíamos feito amor na minha casa, afinal, minha mãe sempre estava aqui e meu pai estava pelo menos 5 dias por semana. Mas na casa de Dulce não tinha ninguém o dia inteiro. Seu irmão ia para a faculdade e seu pai ia trabalhar. A casa era toda nossa o dia inteiro. Não que fossemos maníacas por sexo, que vivíamos nos agarrando.

Depois da nossa primeira vez, talvez tenhamos feito amor mais umas 15 vezes. Era sempre tão incrível. Mas nunca havíamos feito nada na minha casa, além de nos beijarmos.

“Eles não vão escutar.” Sussurrei, arrastando seu calção para baixo.

Nesse meio tempo, acabei descobrindo que ela não usava calcinha, mas sim cueca box, porque, segundo ela, é mais confortável. Eu havia usado algumas dela enquanto estava na sua casa, principalmente quando eu queria descer na cozinha e beber algo, mas não achava de jeito nenhum minha calcinha, mas eu não vi nada de especial em usá-las. Demi amava usá-las e tinha várias de diversos modelos.

Aquele dia não era diferente, ela usava uma cueca box do Capitão América.

 •Demally• √ U͜͡n͜͡r͜͡e͜͡a͜͡c͜͡h͜͡a͜͡b͜͡l͜͡eDonde viven las historias. Descúbrelo ahora