Capítulo 12 - Encontro Marcado

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Felipe estava há séculos sem "ver ação", se é que o entendiam bem. Não queria explanar, mas era isso. "Todo mundo tem suas necessidades", demorou a admitir para si mesmo, que dirá aos amigos, sempre perguntando sobre "a boa de sexta". Desde de acidente de moto, há dois anos, vivia trancado em casa, apesar de não ter tido grandes sequelas. Uma dúzia de sessões de fisioterapia e Felipe começara a entreter a ideia de que fosse hora de "viver de verdade" novamente. Como não soubesse bem o que era isso, começou a investigar o que queria fazer, além de ganhar o dinheiro de todo dia e curti-lo em álcool aos fins de semana. Chegava à conclusão de que o sexo com certa regularidade e o tal viver eram como duas retas que se encontravam no infinito ou alguma outra conexão vaga do gênero.

Quando Rodrigo, o colega de infância, insistiu que saísse com aquela a quem chamou de "pobre vítima", apresentou-lhe uma coleção detalhada de características, nas quais certamente não acreditava. Antônia era divertida, confiável, "engraçadas pacas", sabia conversar, gostava de futebol ("Mentira!!"), lia muito, tinha feito faculdade, era experiente (fora casada por um ano e pouco), jovem...

– Bonita? – Felipe perguntou.

– Eu acho.

–  Do tipo "eu pegava"?  

– Total!  

– Cara, não sei...

– Tô te falando!  

– Ela é mãe solteira, né?  

– E o que é que tem isso?  

– É ou não é?  

– É. Como é que tu sabe?  

– Chutei. Bom demais pra ser verdade. 

–  E qual é o problema de ela ter uma filha?

– Quantos anos ela tem, Rodrigo?

–Vinte e três, fez agora.

– Cara, como é que tu me marca um encontro com uma mulher de 23 que já tem filha?

– Preconceito seu! Desde quando você tem limites de idade?  

– Cara, com mãe solteira não se brinca. Todo mundo sabe.

– Ô, Felipe, para de palhaçada! Dá uma chance. Todo mundo adulto nessa porra!  

Felipe acabou se aprontando o melhor que podia numa para buscar na porta de casa a mulher que mudaria sua vida. Era uma sexta à tarde e o sol já não estava tão quente. Sentia-se um tanto arrumado demais com a camisa social escolhida sobre a calça jeans. Por sorte, não suava muito – o ar gélido do carro ainda grudado em sua pele. Quando chegou ao prédio recuado de esquina, Antônia já abria a porta da entrada, carregando a filha pela mão. A menina parecia ter passado as últimas duas horas em uma batalha pela vida imersa em um tanque de areia bolorenta. Antônia cumprimentou-o, nervosa, apontando os portões de uma vila próxima e movendo os lábios sem som: "casa da vovó."

Acompanhou o balançar de sua bunda, enquanto a jovem mãe seguia até uma casa decorada com azulejos portugueses, coloridos entre o azul e o verde piscina. Era uma bunda charmosa, segundo Felipe, uma bunda dotada de personalidade própria. Sim, pensou que poderia lidar com aquilo tudo, para, depois, vestir seu lado mais amável. Logo, sentia-se cavalheiresco, o queixo empinado e os olhos doces, um homem acima de qualquer repreensão. Vovó abriu a porta da casa, acenando de longe para ele e dando passagem à menina, que vomitou o que parecia ter sido seu almoço. Felipe achou que aquele estímulo romântico estava um pouco além do que precisava.

O Messias de AntoniaWhere stories live. Discover now