CAPÍTULO 32 - O Duelo

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— E alguma vez eu não confiei, meu pai? — questionei arqueando a sobrancelha.

Papai sutilmente semicerrou os olhos.

— Foi só uma pergunta retórica. — alegou, exibindo um pequeno sorriso nos lábios.

— Perguntas retóricas não levam a lugar nenhum. Você, como, um sábio druida, deveria saber disso. — repliquei, com dureza.

Meu pai franziu a testa demostrando o incomodo que minhas palavras provocaram dentro de si.

— Parece que você se tornou mais sabia do que eu um dia eu fui. — alegou, ele, com certo orgulho.

— Deve ser porque sofri mais que você. O sofrimento nos deixa mais forte e também mais sábio. — proferi, ainda em tom rude.

Já não éramos mais os mesmos, havia muita mágoa entre nós.

Notei que meu pai intensificou o seu aperto no cajado que segurava em uma das mãos. Seu maxilar estava trincado em uma expressão de austeridade. Algo do que eu disse, havia alabado as emoções.

— Você sempre soube, não é? Sempre soube pelo que eu passaria.

O druida abriu a boca tentando articular qualquer fala, mas nada escapou por seus lábios. Talvez a culpa fosse grande demais para sair de dentro de si.

— Não precisa dizer nada! Suas palavras de nada servirão para modificar o que passou. Elas não serão capazes de apagar as cicatrizes em meu corpo, tampouco as marcas de abusos cravadas em minha alma. Nada poderá ser feito para desfazer as lembranças das vezes que fui estuprada e nem os dias em que quase morri de fome. Então não me peça desculpas, não diga que se lamenta e não me implore por perdão, porque eu não vou te perdoar. Esse é o seu fardo, carregue-o até que você deixe de existir. — declamei cada palavra com fúria e toda mágoa que guardava dentro de mim.

Os olhos verdes do meu pai se encheram de lágrimas. Alguém choraria naquela situação e não seria eu.

— Eu não posso mudar o que passou, porém tenho a possibilidade de te ajudar a transpor a dificuldade que enfrenta nesse momento. É por isso que estou aqui. Vim lhe mostrar como fará para partir de Asgard. — revelou, em um tom neutro que escondia qualquer sentimento que carregava.

Lancei um olhar desconfiado para o druida. Seus olhos me encaravam revelar qualquer indicio que demonstrasse as verdadeiras intenções por detrás de suas palavras.

— Por que decidiu me ajudar logo agora? — inquiri, desconfiada.

Ele segurou o seu olhar nos meus. A forma como me encarava, fez com que um arrepio percorresse minha espinha.

— Você tem uma missão a cumprir. Erieanna. Eu estou aqui para ajudá-la a obter o êxito. — respondeu, mantendo a expressão de austeridade em sua face.

Soltei uma risada irônica que se misturou no ar e juntou-se ao barulho das ondas do mar revolto.

— Não está aqui por mim! Tudo se trata dessa maldita missão que, a propósito, nunca me disse qual é! — acusei, enfurecida. Deixei evidente o rancor que sentia por ele.

— Pode me odiar o quanto quiser. Não vai mudar no fato de que eu te amo e sempre me importarei contigo. Você é minha filha, é o meu legado. Nunca quis que carregasse o peso dessa missão, tentei evitar que ela ocorresse. Mas, como já te disse uma vez, é algo grande, algo que vai além da vontade dos deuses. — Seu olhar se tornou sereno. — Tenha paciência e no momento certa tudo será esclarecido. — concluiu, brandamente.

𝐒𝐀𝐂𝐑𝐈𝐅Í𝐂𝐈𝐎Where stories live. Discover now