ATO 19

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Querer a verdade é confessar-se incapaz de a criar.

          O sol estava começando a surgir, pincelando e mesclando o céu em um tom laranja, com o azul bebe

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      O sol estava começando a surgir, pincelando e mesclando o céu em um tom laranja, com o azul bebe. As nuvens brancas foram atingidas pela cor intensa dos raios ultravioleta e agora mais parecia a pintura de um belo quadro do que a paisagem celeste. O tigre ficou completamente visível devido a luz que alastrava-se. Ele paralisou por um tempo, olhando-me com seus olhos pequenos e negros. Tudo em minha volta ficara em borrões, focalizando apenas nele. Frente a frente com uma besta sobrenatural, um velho companheiro de batalha.

      O impossível era mesmo possível. Agora só restava saber se iríamos ter o mesmo destino que Joice e os demais cadáveres no campo. Antes que pudéssemos reagir, a conexão de olhares fora interrompida quando o tigre olhou para o casarão. O primeiro andar dali estava sendo consumido por grandes labaredas.

      — DROGA! AS CRIANÇAS ESTÃO LÁ DENTRO! VOU BUSCA-LAS, FIQUE LONGE DO TIGRE! — alertei a Brok.

      Seria uma missão complicada, depois de toda a batalha que tivemos, meu corpo já estava muito debilitado, piorando qualquer possibilidade de tal resgate. Pior se eu conseguisse salva-las e me deparasse com Brok morto pela criatura quando eu voltasse. Duas crianças indefesas, ou um amigo cego.

      — Deus, eu só queria ir para casa — resmunguei.

      Entrando pela cozinha, um bafo quente me atingira. Já não conseguia respirar direito. As chamas produziam uma fumaça escura, castigadora. Minha pele ardeu e meus olhos lacrimejaram. O sitio era feito com paredes de madeiras, um prato cheio para o fogo. A sala já estava irreconhecível, tudo fora engolido pelas chamas, inclusive, a maldita vitrola e o pavoroso tapete de centro.

      Meggie e Eleonor não estavam ali.

      Subi as escadas com um dos braços tampando a vista. Meus pulmões pareciam explodir a qualquer instante, a falta de ar puro me deixara com tontura. Se eu não morresse queimada, morreria por intoxicação. Agora não dava mais para voltar.

      Um estrondo surgiu logo atrás, o teto da cozinha acabara de desabar, aumentando o nível de fumaça preta e dando mais espaço para as labaredas. Continuei subindo os degraus até chegar no corredor de quartos. Um buraco se abriu no meio do piso impossibilitando minha passagem para além dele. Eu escutava os gritos de Eleonor pedindo ajuda vindos de seu quarto.

      — ELEONOR, MEGGIE! — Gritei a elas. Eleonor apareceu no corredor, aos prantos.

      — Fomos atacadas! Meggie... ela tentou matar uma daquelas crianças selvagens e incendiou tudo! Está desmaiada! — soluçava a garota. Prendi a pouca respiração que tive, dei três passos para trás e joguei meu corpo para frente, pulando o buraco e espatifando-me do outro lado. Após aquilo, minhas tosses aumentaram. Me senti em um oceano, sendo puxada para o fundo, afogando-me lentamente, mas no lugar da agua, fogo. Mal conseguia falar. As chamas já haviam alcançado o andar de cima, portanto me levantei rapidamente e entrei no cômodo onde Meggie estava.

III - Liberdade Para IrrecuperáveisWhere stories live. Discover now