ATO 2

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Não culpo ninguém pelos meus fracassos, sinto orgulho deles

Não culpo ninguém pelos meus fracassos, sinto orgulho deles

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     Lembrar das coisas sempre me foi um martírio. Passando de taxi, de volta para casa em uma das avenidas que levavam ao meu bairro, lembrei do dia que mudara a vida como eu a conhecia.

     Se encontrassem uma criança de doze anos no meio de uma estrada, com roupas rasgadas, manchas de sangue e hematomas por todo o corpo, o que faria? Iria parar o carro e socorre-la, ou aceleraria o veiculo para o mais distante possível?

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     Se encontrassem uma criança de doze anos no meio de uma estrada, com roupas rasgadas, manchas de sangue e hematomas por todo o corpo, o que faria? Iria parar o carro e socorre-la, ou aceleraria o veiculo para o mais distante possível?

     Tia Betty fez o inevitável. Ela não parou o carro, ela me atropelou e depois derrapou o veiculo para fora da estrada em uma sequencia que quase a matou. Ninguém ali tinha culpa de tal acidente, afinal era uma criança no meio de uma estrada a noite.

     Felizmente tanto eu quanto ela sobrevivemos. Alguns arranhões a mais não iriam piorar minha situação naquela hora. Para Tia Betty, horrorizada ao sair do carro, me vendo jogada, inconsciente na interminável estrada para Londres, me ergueu com seus dois braços fortes e me levou até o carro.

     — Maldição, o que foi que eu fiz? — sussurrava enquanto abria a porta do carro, ajeitando-me na poltrona da frente, puxando o cinto de segurança e me prendendo o mais firme possível. Meus olhos ainda fechados, não impediam-me de saber o que estava acontecendo. Escutei o barulho do motor ligando novamente, partindo estrada adentro.

     Quando os resquícios de luz surgiam no céu escuro, abri os olhos passando a mão na cabeça. Arvores curvas e magras passavam por nós, iluminadas pelo farol que permanecia aceso apesar do crepúsculo. A estrada limpa, mais parecia uma esteira gigante, sem fim nem começo, esticando-se para um horizonte nubloso, onde era visível pequenas formas retangulares cumpridas, que logo reconheci ser os prédios de Londres. O céu tomou tons de azul e lilás, unindo-se na imensidão.

     — Me diz uma coisa, criança, como você veio parar nessa estrada, em uma situação dessas? — a senhora, de expressão curiosa, não obteve uma resposta — Você arruinou a minha viagem! Onde estão seus pais? — novamente o silencio a incomodou. Não consegui responder absolutamente nada. Mau olhava para ela. Minha vista permanecia para frente, meu pescoço, imóvel, não mexia para direção alguma. Por mais que eu quisesse dizer algo, nada saía. Talvez eu só não quisesse ter de contar tudo o que havia acontecido a quilômetros atrás. Minha atitude soava desrespeitosa, mas não me importava.

III - Liberdade Para IrrecuperáveisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora