SEMANA 1

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quinta-feira        
Hoje acordei calma. Tenho que ir fazer exame de urina, de sangue e ir para a escola.
Me arrumei,peguei o bilhete da passagem do ônibus e fui com o ex namorado da minha tia. Ele é bem cuidadoso e divertido. Eu e ele vamos encontrar a minha mãe no Tatuapé,pois ela foi mais cedo para levar a minha avó em uma consulta.
Estávamos no ônibus e eu estava do lado de um moço de terno. Ele parecia bem culto, até que me deparei com o que ele estava ouvindo.
Por incrível que pareça, ele estava ouvindo uma das minhas músicas favoritas do Slipknot. Eu comecei a cantar baixinho,para ninguém ouvir. Como era a música que eu mais gostava, eu não consegui ficar parada.
Chegamos ao lugar certo e encontramos a minha mãe. Ela estava alegre, coisa que dificilmente acontece pois ela é atolada de coisa para fazer, e então fica estressada facilmente.
-Oi vó. Oi mãe.
-Oi.
Minha irmã mais nova tinha exame no mesmo prédio que eu,porem era em andar diferente.
-Alyssa, voce vai ter que passar na sala da doutora sozinha. Ela vai tirar teu sangue e depois vai te entregar um pote para você urinar. Voce vai urinar e levar para ela.
-Ok. Te encontro no 3° andar quando acabar.
-E depois de terminar os exames, voce vai ir no balcão de recepcionista e vai pedir uma ficha. E ai voce poderá tomar um café assim que solicitar na máquina.
Me despedi delas e fui aguardar a chamada.
-Alyssa Andrade? Traga-me o RG e venha até a sala 1.
Peguei o RG e entreguei a ela. Sentei na cadeira e estiquei o braço.
-Não está saindo sangue. Vou furar em outro lugar.- Disse a moça que eu nem conhecia, com uma agulha na mão e cara de sono me furando com brutalidade.
-Ok. - digo tentando manter a paciência.
-Não saiu de novo. Vou furar em outro lugar.  -Disse a moça furando pela terceira vez.
Eu não sou enfermeira e nem formada nisso,mas a forma que ela posicionou a agulha no meu braço estava completamente errada. Para a coleta de sangue, a agulha tem que estar posicionada em um ângulo de 30° a 45° com o bisel voltado para cima. Na primeira tentativa, ela colocou a agulha a um ângulo de aproximadamente 90°. Na segunda tentativa, em um ângulo de 10° e na terceira colocou em um ângulo de 15°.
-Consegui. Está doendo?
Sim, é claro que estava doendo. Mas eu fiquei quieta com uma expressão não muito agradável. Com certeza foi a primeira vez que ela coletou sangue.
-Sim. Está doendo. - eu disse sem demonstrar emoção alguma, olhando para o meu braço.
-Muito?
-Não. O necessário.
Ela terminou a coleta e me entregou o pote para urina.
-Vire a esquerda, primeira porta a direita após o corredor. Depois volte aqui e me entregue.
  Eu fui até o banheiro. Fechei a porta, abaixei a calça e urinei. Meu xixi saiu completamente verde, pois eu tinha tomado remédios que alteravam a cor da urina por conta dos componentes químicos. Me sequei, levantei a calça, lavei minhas mãos e voltei a sala da doutora.
A doutora ficou assustada ao ver a cor da urina, e então perguntou:
-Verde?!
-Sim. Tomei alguns remédios nesta semana que alteraram a cor do meu xixi. Haverá alguma alteração no exame?
-Ah sim,não haverá não. -Disse a doutora aliviada.
     Sai da sala e fui direto a recepção.Eu estava morrendo de fome, e então fui pedir uma ficha.
-Olá. Acabei de fazer exame de sangue e eu gostaria de tomar café. Você pode me entregar uma ficha,por favor?
-Claro. Insira na máquina e peça o que quiser -disse a recepcionista me entregando a ficha.
Eu fui até a sala que havia as máquinas e inseri a ficha. Pedi uma bolacha de água e sal com café puro. Quando eu abri, minha mãe apareceu na porta:
-Oi filha. Fez o exame certinho?
-Sim,mãe. Estou morrendo de fome, então vou comer. Você quer?
-Quero não,obrigada. Pode comer, quando você terminar iremos em uma cafeteria e pedimos algo para comer. Ok?
-Ok. Obrigada.
Minha irmãzinha estava me olhando com cara de "quero". Eu logo percebi que ela estava olhando as bolachas e o meu café. E então perguntei:
-Voce quer? -e logo em seguida ela me olhou fixamente e estendeu a mão
- Quero.
Então eu dividi a minha única bolacha com ela.
-Vamos. - Disse a minha mãe.
      Chegamos na cafeteria e pedimos pão de queijo. Como eu amo pão de queijo! E por sorte, o pão de queijo era esplêndido e enorme. Satisfez até o momento em que cheguei em casa.
Cheguei em casa, tomei banho e comi. Me arrumei e fui correndo para a escola.
Eu não estava muito bem, estava com uns pensamentos péssimos,apesar de um dia normal.
Cheguei na escola e meu amigo Marco percebeu. Ele me chamou e começou a contar piadas. Lemos uns livros digitais com alguns erros ortográficos, ouvimos músicas e vimos alguns vídeos de terror que ele havia baixado no celular. Sabe, faz pouco tempo que eu entrei nessa escola, mas ele foi um dos únicos que me entendeu completamente.
Neste dia ele também ficou muito ruim. Ele tem crise do pânico. Começou a se sentir inseguro, como se algo fosse machucar ele. Ele ficou inquieto, me abraçando e me segurando. Eu realmente não sabia o que fazer. Eu apenas tentei fazer ele rir,contei algumas piadas,compramos salgadinho na cantina e algumas balas. Eu tentei fazer ele se sentir o mais seguro possível, por mais que isso fosse impossível. Eu tento ser para algumas pessoas o que ninguém nunca foi comigo.
As aulas passaram, minha felicidade também. Quanto mais o tempo passa, mais paranóias vem na minha cabeça. Na verdade, não podemos chamar algo de paranóia se realmente existe. É complicado fingir ser algo que não é. É complicado explicar algo que nem você entende.
Bateu o sinal para a saída, e eu não aguentava mais ficar naquele cubículo de sala, com gente palerma e estulta.
Corri para casa, e confesso que no caminho minha mente teve uma reviravolta. Eu comecei a chorar como louca. Para a minha sorte, a rua de casa é um ermo. Super vazia, assim como minha alma.
Cheguei em casa e meu pai estava lá. Fazia 19 dias que eu não o via. E então ele me abraçou e disse:
-Oi filha.Como está?
-Estou bem pai.
-Que ótimo. Voce chorou?
-Não, eu estou gripada apenas. Vou jantar,ok? Depois me conte as novidades.
-Ok filha.
Fui ao banheiro, lavei as mãos e o rosto. Me olhei no espelho por um tempo e é como se uma voz dissesse por mim "VOCÊ É FORTE. VOCÊ NAO É GORDA,VOCE NAO É FEIA E MUITO MENOS INÚTIL. PARA DE BOBAGEM,LAVE ESTE ROSTO,LEVANTE A CABEÇA E GRITE "EU SOU FORTE!". VOCE AGUENTOU 5 ANOS DE SUFOCOS. VAI DESISTIR DEPOIS DESSES 5 ANOS? NAO NÉ? SABE O POR QUE? POR QUE VOCE É CAPAZ DO QUE QUISER.VOCE É MUITO MAIS DO QUE PENSA. SEUS PROBLEMAS SAO MENORES QUE VOCE!"
E então eu me motivei mais uma vez para continuar. Dei um sorriso e fui jantar, já que eu estava faminta.
A janta era macarrão com molho de calabresa, brócolis ao molho branco e filé a milanesa. Confesso que comi como uma louca,parece até que eu nunca tinha visto um prato de comida na minha frente.
Terminei de comer e fui terminar de compor uma música. Ela se chama "Universo".
Bom,eu não posso (e acredito que ninguém possa) tomar banho em seguida da refeiçãoentão fui procurar alguma coisa para fazer até a digestão fazer efeito.
     Terminei a composição e fui pro banho. Eu lavei o meu cabelo e decidi fazer chapinha nesse dia. Sai do banho,me troquei e fui me arrumar.
Peguei o secador e sequei o meu cabelo.  Passei chapinha e fiz a sobrancelha. Fazia tempo que eu não me arrumava e me sentia bem.
Eu estava exausta,e então dormi.

APENAS UMA FASEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora