Capítulo 1

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30 de setembro de 1.957

— Takashi! Pega a marreta para mim!

O menino, que até então se divertia driblando com uma pedra que fingia ser uma bola, voltou a atenção ao avô que consertava um pedaço de cerca. A enxurrada dos últimos dias havia provocado o desmoronamento de uma parte do solo, deixando três mourões pendurados em seu caminho.

— Mas eu não sei onde está, Ditian! – gritou o menino de volta, após inspecionar a caixa de ferramentas que estava próxima.

— Vai ver perto do lago. Acho que deixei por lá. – Instruiu o velho senhor, limpando o rosto com a manga da camisa. O frio aquele ano havia sido mais intenso que o normal, mas assim que a primavera chegou, era como se alguém tivesse mudado a "chave" e agora o calor era quase sufocante naquele meio de manhã do fim de setembro.

O menino, muito ágil da altura de seus dez anos, desceu a trilha com rapidez e quando os arbustos deram lugar à margem do Lago da Moça, ele viu o objeto que procurava. Ali, não havia propriamente uma descida suave até as águas agora barrentas devido às chuvas. Naquele trecho íngreme, a divisa entre a terra e as águas era um barranco e assim, com cuidado, o garoto se aproximou e abaixou-se para pegar a ferramenta solicitada pelo avô. Já se preparava para retornar à trilha quando um movimento na superfície do lago lhe atraiu a atenção. Tapando o sol com a mão, estreitou os olhos em direção ao objeto misterioso. Primeiramente, pensou tratar-se de um pedaço de tronco que pudesse ter-se desprendido de alguma das árvores do entorno, porém, ao olhar com mais atenção...

Ditian! Ditian! Venha aqui!

— Mas o que é, Takashi? Traz logo a marreta!

Ditian, o senhor tem que ver isso!

Massatomi estava a ponto de ignorar o moleque, mas, preocupado que ele pudesse ter escorregado para dentro das águas pela forma como gritava, desceu a trilha também, encontrando-o são e salvo em terra firme.

— O que há de tão urgente que eu peço para você me ajudar e acaba me atrapalhando? Se fosse para vir pegar aqui, eu mesmo tinha vindo! Não tinha pedido para você... – O homem se interrompeu ante o silêncio anormal do neto que costumava falar sem parar. Sem entender nada, focou seu olhar no menino até seguir para onde o braço magrelo apontava.

Ali, nas águas, há poucos metros, Massatomi entendeu o que tinha acontecido a ponto de deixar o neto sem fala. Tirou o chapéu de palha e fez o sinal da cruz.


Ditian: Avô em japonês

A Árvore dos Frutos Envenenados - Degustação Where stories live. Discover now