Conforto

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Capítulo 15

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"Foi quando ficamos mais tempo em silêncio e continuamos a conversar, felizes, aquele conforto todo para a alma sem necessidade de palavra, que eu entendi com mais nitidez a beleza do que existia entre nós."

(Ana Jacomo)

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Kayla suspirou ao sentir a água morna contra seu corpo, relaxando os músculos tensos e aquecendo sua pele gelada. Nunca imaginou que Jaoki fosse tão atencioso com sua aparência despojada e jovial, mas foi surpreendida com a suave sugestão para que usasse o banheiro antes dele e trocasse depressa a roupa molhada.

O apartamento era pequeno e desajeitado, com roupas espalhadas pelos cômodos e pôsteres de bandas punk rock. Foi preciso conter o riso ao ver uma cueca sobre o chão do banheiro ser apanhada por ele rapidamente para, então, ser escondida no cesto repleto de roupas sujas. Oposto ao Oreki, o guitarrista não pareceu se importar com o piso de madeira quando entraram molhados e não foi preciso tirar os sapatos. Sim, Jaoki era muito diferente do amigo perfeccionista. O interessante é que não havia sujeira no apartamento, apenas a desorganização típica de um homem solteiro.

Lembrou-se de que ocupava o único banheiro, algo completamente inesperado considerando que Jaoki poderia viver em um lugar muito maior, e apressou-se em lavar os longos fios vermelhos com o shampoo que encontrou. Tímida, aproveitou a espuma para banhar o corpo, evitando ser desrespeitosa e usar o sabonete alheio. Após o banho, vestiu a camiseta preta que Jaoki oferecera e a bermuda listrada de um pijama, agradecida pelo sistema de calefação deixar o ambiente aquecido. A camiseta com o emblema do Sex Pistols era mais uma amostra das preferências do guitarrista.

Pendurou a toalha em um dos ganchos vagos e abriu a porta do banheiro à procura do seu anfitrião. Segurava o vestido e sua lingerie molhados sem saber onde poderia deixá-los para secar, totalmente envergonhada por não estar usando nada sob a roupa emprestada.

Encontrou Jaoki na cozinha com uma chaleira no fogo e lavando a louça que, provavelmente, já estava lá antes mesmo de chegarem. Kayla sentiu o rosto aquecer pela situação constrangedora, sem saber exatamente como agir. Eram desconhecidos completamente um ao outro e, ainda assim, pediu que dormisse em sua casa! Céus, que absurdo até para si mesma...

— Você pretende ficar com essa expressão apavorada por toda a noite? — Jaoki interrompeu seus devaneios, e a ruiva prendeu o fôlego ao ser flagrada em seu desconforto.

Obrigou-se a manter a compostura e sorriu, elevando a face para encará-lo.

— Hm... — começou, incerta e tolamente. — Obrigada... pelo banho e por sua... solidariedade?

Jaoki riu com o jeito dela e virou-se novamente para a pia, onde concluiu a limpeza de um último utensílio. Depois secou os longos dedos no pano de prato e aproximou-se da ruiva, mantendo-se a cuidadosos três passos de distância.

— Não se sinta tímida, Kayla — pediu com uma expressão gentil. — Minha casa não é elegante ou tradicional como a do Oreki, mas pode ficar à vontade. Tenho uma lavadora com secadora ali. — Indicou a pequena lavanderia anexa à cozinha. — Pode colocar suas roupas nela.

Kayla sorriu agradecida, sentindo-se comovida pela atitude acolhedora do guitarrista. Sem responder, seguiu até a máquina e ocupou-se em fazê-la funcionar. Ao retornar, notou que Jaoki segurava um par de canecas e sobre o balcão havia ervas para chá.

— Deixe-me fazer o chá enquanto você se troca. — Aproximou-se e retirou as canecas das mãos masculinas, colocando-as sobre o balcão a tempo de sentir como os dedos dele estavam gelados. — Você deve estar com muito frio! — Tocou-o repentinamente, suas mãos pequenas sobre as grandes dele. — É preciso se aquecer, por favor, vá direto para o banho!

A Garota DelesWhere stories live. Discover now