Piedade

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Capítulo 7

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"Embora eu possa respirar normalmente, parece que estou desmoronando."

(Calm Envy – the GazettE)

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Kayla piscou as pálpebras, perguntando-se quando permitiu que a situação fugisse do seu controle.

Há pouco mais de uma hora, forçou a memória, estava sentada graciosamente no sofá vermelho de Oreki, bastante constrangida sob os olhares atentos daqueles cinco rapazes que formavam uma das mais conhecidas bandas de rock do Japão.

E agora encontrava-se sentada sobre os joelhos, no confortável tapete felpudo ao redor da mesa de centro, com aqueles mesmos cinco rapazes, rindo e jogando cartas.

— É sua vez, Kayla. — A jovem piscou de novo, contendo um gemido assustado ao ouvir a voz murmurada de Satoshi tão perigosamente próximo ao seu ouvido.

Ela se questionou, ainda com sua pouca lucidez, onde fora parar o sufixo –san que acompanhava seu nome.

— Está cansada de jogar? — perguntou Daisuke, encarando-a com um sorriso divertido.

— É o que acontece depois de perder seguidas vezes — respondeu com humor, fechando o leque de cartas em suas mãos. — Você costuma ter tanta sorte?

O baixista estufou o peito, orgulhoso, provocando risos entre o grupo.

Kayla sentia sua sanidade abandoná-la a cada minuto que passava naquele simples jogo de cartas. Iniciou-se como uma estratégia para passarem o tempo, mas, no meio do caminho, tornou-se um momento de intimidade enquanto conversavam sobre trivialidades.

Ela precisou ignorar, algumas vezes, o calor do corpo de Satoshi quase a tocá-la quando o sentia ainda mais perto. Era nesses momentos que acabava se inclinando para o lado esquerdo, desejando que Kyohei não se importasse. Céus, ela estava entre ambos os morenos sem saber com qual deles se sentia mais envergonhada.

— Podemos fazer uma pausa — sugeriu o baterista. E, sem sequer esperar resposta, lançou sobre a mesa as suas próprias cartas.

— Você está aproveitando a ocasião para fugir! — gritou Jaoki, o indicador apontando o peito do amigo de forma acusatória. — Estava sem jogo nenhum, não é?

As risadas ecoaram na sala. Kayla flagrou-se achando adorável a forma como Kyohei simplesmente baixou os ombros em derrota, limitando-se a sorrir culpado.

— Eu sabia! — afirmou Oreki, jogando as cartas sobre as do amigo. — É incrível como o Kyo sempre perde. — Diversão ainda se desenhava em seus lábios enquanto apanhava um cigarro e o acendia, tragando-o de forma lenta.

Ela leu nas entrevistas que o anfitrião costumava fumar, mas era a primeira vez que o via fazê-lo. Seus gestos firmes revelavam intimidade com o cigarro entre os dedos.

Voltando-se para o baterista ao seu lado, Kayla expressou condolente:

— Parece que temos algo em comum, Kyohei. — Pousou uma mão sobre o ombro dele com naturalidade, inconsciente de que o sufixo respeitoso também morrera naquelas poucas palavras.

Era notável que aquela inocente diversão serviu para construir uma relação mais pessoal com o grupo, mas Kayla ainda lutava para manter certa distância profissional. Não queria prejudicar o trabalho que desenvolveriam juntos pelos próximos meses.

Ela só estava adquirindo o lamentável hábito de se esquecer disso.

— Daisuke sempre teve a péssima mania de ganhar — escarneceu Satoshi com um estalo de língua. Parecia incomodado com a forma carinhosa de Kayla referir-se ao Kyo.

A Garota DelesWhere stories live. Discover now