Ter a boca dele na minha novamente é como estar em casa, e eu não sabia quanto sentia falta de casa até ter um pouco novamente. O beijo não para por minutos, e alguns homens fingem vomitar ao ver a nossa interação. Beijo esse que é interrompido por outro gol.

— Hahaha, o que eu disse amigos? Eu vou acabar levando todos os aperitivos de vocês para casa.

Recebo o saco de batatinhas e guardo na bolsa.

— Qual é a próxima coisa que você vai levar? — o Will pergunta divertido.

— As bolas dele. — ele engasga, e eu aponto as miniaturas de bolas de cada esporte — Ele está vendendo por duzentos dólares o conjunto. Um terceiro gol e elas são minhas de graça.

— Não seriam só aperitivos?

— Ninguém espera três gols além de mim, eu digo o que quero e é meu.

— Se for uma goleada então, você levará as chaves do bar?

Brinco:

— Quem sabe?

O próximo gol demora, mas chega. Eu quase subo no balcão, tamanha alegria. Recebo as miniaturas, que guardo com carinho.

— Da próxima vez, me lembre de fazer você comandar as apostas aqui, ao invés de apostar comigo. — o homem resmunga.

Brinco com a bolinha do futebol da televisão, mostrando ao Will como se joga, aproveitando a parada pra hidratação. Ganho um suco de presente de um algum dos homens do bar, e ofereço ao Will primeiro.

— Tem gosto de álcool ou veneno?

Ele ri.

— Você é impossível, Heaven. É só suco.

O jogo acaba e eu levo, além de tudo, um troféu de um campeonato de golfe, que eu nunca joguei, mas achei bonitinho, pela vitória do meu país.

— Você mora onde? — pergunta.

— Descendo a avenida, à direita. Quer ir lá? Tenho alguns livros para emprestar, você sabe como é.

Nos últimos meses de namoro, emprestar livros se tornou um código para meu Deus, eu preciso beijar você. Ele caminha comigo, sem responder.

— Você tem lido o quê?

Balela. Ele segue as minhas redes sociais, sabe o que leio.

— Ficção científica. Um pouco de coisas falsas para me ajudar a suportar o mundo real.

Ele para de andar, e eu só percebo quando já estou na enseada. Rio do fato dele ter ficado tão pra trás, mas ele corre e logo me alcança.

— Por que o mundo real está difícil de enfrentar? — pergunta na minha frente, curioso. Preocupado.

Olho para cima, para o céu. As estrelas brilham forte na noite limpa. Sei que eu não deveria dizer para ele, mas... mas...

— Eu me sinto só. Morar em um lugar estranho, com pessoas estranhas e um clima estranho, é desafiador, e eu não estou com muito ânimo para isso tudo.

— E? Você vai fazer algo sobre isso?

— O que eu poderia fazer?

— Eu sou um estranho, Heaven?

Isso me surpreende. Sei que ele não é mais aquele garoto que tinha medo de olhar pra mim no hospital, mas nunca parei pra perceber o quão longe dele está.

— Vem pra casa comigo. — pede. — Não permanentemente, mas hoje. Eu sinto sua falta.

— Fazer o quê?

— Ler. Ver um filme. Cozinhar, ou me assistir queimar comida, se você prefere a verdade.

Entorto a cabeça, entediada.

— Nah. Isso eu faço em casa.

— O que você quer fazer? — ele me deixa escolher, e eu deixo claro no meu sorriso a resposta. — Ah Heaven... se o mundo soubesse o que tem escondido nessa cabecinha com esse sorriso inocente.

— Você pode me culpar? Tudo que tenho conseguido são os aperitivos daquele bar, e uma garota precisa de mais que isso.

— O que, necessariamente, você precisa para sobreviver?

Não respondo, mas ele não continua se movendo rumo a casa dele. Esperando uma resposta. Sei o que ele quer ouvir, mas não sei se consigo dizer. Não conseguir viver sozinha, me acostumar a isso, foi uma decepção grande demais.

— De comida saudável, para começar, de livros novos, de tempo para ler os livros novos, de férias.

— Heaven.

— O quê? Você acha que eu preciso de você para sobreviver? Não sabia que tinha mudado seu nome para Oxigênio. Oxigênio Bradbury soa como o inferno, me desculpa.

Ele pisca.

— Mas para viver... uma garota qualquer eu não sei, mas eu preciso... preciso de você, Will. Talvez seja só o fato de que não consigo mais deitar na cama e ela estar fria como neve, ou o de que meu arroz é o pior do mundo, mas eu preciso de você. Não o tempo todo, não para tudo. Só que é um saco acordar e ter que fazer o café, ao invés de receber ele pronto.

— Você estava indo tão bem. — ele ri, e me toma nos braços — Eu também sinto sua falta, Coração de Gelo. E também preciso de você para viver. Venha comigo?

— Só por causa do apelido.

A risada dele expurga as lágrimas dos meus olhos. O apelido surgiu da leitura dele de Trono de Vidro, que eu refiz quatro anos atrás, antes do lançamento do último da série e ele me acompanhou. Se na história tem uma Coração de Fogo, eu sou a Coração de Gelo. Não que tenha poderes ou coisa do tipo.

— Sabe, na última temporada eu quebrei o nariz treinando. Me lembrou daquela vez no último ano que você me acertou quando te assustei.

Olho para ele.

— Você mereceu. Eu poderia ter morrido do coração.

Chegamos na casa dele, e eu não sabia naquele momento, mas aquele lugar seria para mim um refúgio e um aconchego ao mesmo tempo. Mesmo nos piores momentos que estariam por vir. Ainda que chovesse ou nevasse. Não por causa da construção ou da localização.

Mas por quem estaria ao meu lado novamente, de agora... para o resto das nossas vidas.

Bom gente, cá estou eu novamente! Este capítulo surgiu há algumas semanas, durante um jogo do Brasil - e por isso a temática - e, se não me falha a memória, seria a comemoração do Wattys caso ganhássemos. Não ganhamos, eu fui escrever outras coisas e eu esqueci dele. Então, houve outro jogo do Brasil há poucas semanas, eu lembrei dele, voltei a escrever e estou finalizando agora. Não está "pronto" ainda, como não reli a história para escrever, pode ter furos de enredo. E algumas partes provavelmente mudarão também, nada muito grande, mas é só para que saibam caso venham aqui e algo esteja ~diferente~. Espero que tenham gostado, não vou me prolongar mais pois isso já tá muito grande, risos.

Amor Falso - Série Endzone - Livro 3Where stories live. Discover now