CAPÍTULO 27 - O Passeio

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Qual é a diferença entre viver e existir? Quer saber? Não existe diferença alguma, no máximo, uma questão de perspectiva. Poetas e trovadores costumam romantizar o ato de viver, como se a vida fosse o maior espetáculo de todos os tempos. Mas, na verdade, somente existimos em um mundo insano repleto de pessoas egoístas que sequer se importam com o fato de que fora sacrificada e jamais perguntarão se está feliz em habitar num lugar do qual jamais fará parte.

O fato de eu estar viva ou morta, já não me importava. Tinha pela consciência de que estava presa em Asgard e fadada a morar com os deuses nórdicos até que o Ragnarök finalmente chegasse. E talvez eu fosse a única que ansiasse pelo Ragnarök, quem sabe, depois que tudo tivesse um fim, eu finalmente poderia ser livre.

— Está contemplativa, hoje? —questionou, Balder, caminhando rumo o tal lugar secreto que ele tanto ansiava em me mostrar.

— Estou pensando na minha vida, se é que tenho uma. — Fechei a cara, mal-humorada.

— Estou certo de que está morta, Erieanna. Infelizmente, os mortais não podem chegar em Asgard, eles não devem conviver conosco. Para que uma humana permaneça entre nós, é necessário que se faça uma reunião de modo a definirmos se a maioria dos deuses é de acordo com a decisão de permitir que uma mortal viva em Asgard. Além disso, essa pessoa tem que passar por três perigosos testes e vencê-los, provando que é merecedora imortalidade. — Seus belos olhos se encontraram com os meus que o fitavam com atenção — Atualmente estamos lidando um caso assim. Creio que deve ter conhecido Acme, certo?

— Sim, eu a conheço. — respondi — Mas devo confessar que, apesar das inúmeras evidências, eu ainda nutria esperança estivesse viva. — lamentei, visivelmente chateada.

— Talvez Loki tenha preparado uma surpresa para ti. Ele é cheio dessas artimanhas. Pode ser que esteja tentando convencer os deuses de que também merece a imortalidade. — argumentou, Balder, empolgado, como se realmente quisesse acreditar em suas palavras. — De qualquer forma, Erieanna, caso esteja morta, saiba que esse fato não tem a menor importância em Asgard. Você ainda sangra, seu coração ainda bate e ainda pode deixar de existir se Odin assim decidir. É apenas um outro conceito a respeito de uma existência. — sintetizou, tentando fazer com que eu enxergasse a situação a partir de outra perspectiva.

— É exatamente essa ilusão de vida que me deixa irritada. Não era assim que imaginava o meu pós-morte, se é que eu posso chamar assim. Eu esperava, ao menos, reencontrar meus pais. No entanto, aqui estou eu... — Abri largamente os braços tentando demostrar que não pertencia àquele lugar — completamente perdida em Asgard, residindo com deuses que nunca se importaram comigo ou com qualquer mortal.

— Ah, minha Eri! — Balder interrompeu a caminhada e me puxou em seus braços. — Se eu pudesse consertar as coisas, juro que faria. — Soltou um suspiro que fez seu peito subir e descer lentamente. — Contudo, minha querida, infelizmente, não sei como fazer isso. — Beijou o topo da minha cabeça, como se fossemos íntimos, o que não era o caso.

Eu sorri contra seu peito, e ignorei o fato de que havíamos acabado de nos conhecer. Estranhamente me senti confortável ao ouvir as fortes batidas do seu coração.

— O que foi? — O belo deus sutilmente se afastou para me olhar.

— Você me chamou de Eri. Só meus pais me chamavam assim. — Meus lábios se curvaram em um largo sorriso.

— Se importa se eu te chamar dessa forma? — indagou, inseguro.

— Não. — Dei de ombros. Realmente não me importava. Balder era um deus gentil e talvez pudéssemos nos tornar amigos.

Depois de uma longa caminhada, finalmente havíamos chegado a um ponto do caminho, na qual reconheci de imediato. Estávamos próximo ao grande portão que demarcava tanto a entrada, como a saída de Asgard.

𝐒𝐀𝐂𝐑𝐈𝐅Í𝐂𝐈𝐎Onde as histórias ganham vida. Descobre agora