09- Amanda

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Em minha vida cheguei a noivar duas vezes e me lembro que, aos términos, a insistência por um retorno, ou recomeço, era sempre muito grande, cheguei a voltar algumas vezes por imaturidade, que me fazia achar que talvez os amasse, sem realmente amar... enfim, a insistência era tanta que depois de um tempo sempre me sentia forçada a ser ainda mais clara, ou grossa, em minhas respostas, mesmo que isso os machucasse.

Como dizer pra minha melhor amiga que, além de não sentir mais nada por ela de forma sexual e sentimental, meu coração se via apaixonado por outra pessoa? Eu errei? Errei... normal já... infelizmente, mas é difícil saber sempre qual é a melhor ação a se tomar, creio apenas que o mínimo é reconhecer quando erramos e tentar aprender e mudar, pra que não machuquemos mais as pessoas que amamos, ou que ao menos temos carinho.

Eu a conheço desde 2010, foram ao menos dois anos intensos de amizade antes de alguma coisa realmente acontecer, cheguei a ser noiva nesse meio tempo e fiz o que nunca fizeram por mim, terminei meu noivado, mesmo que não por ela em si, mas com ela fiquei, cinco dias depois estávamos envolvidas... eu fiquei, o máximo que pude e consegui pelos sofridos dois anos seguintes, em meio as idas e vindas, longe das vistas de todos, mas fiquei, apaixonada, sem olhar pro lado, sem me encantar por mais ninguém, até porque, por mais que tenha sido noiva, não me apaixonava a dez anos antes dela, mas o fato era que sempre fomos amigas, nosso amor nasceu dali, da amizade, e foi o que sempre tentamos preservar.

Minha história com Amanda daria um outro livro, – Riu. – infelizmente faz muito mais tempo e não tenho os mesmos recursos pra me lembrar de tudo que vivemos... cheguei a pedi-la em casamento, mesmo que não com todas essas palavras... eu a venerava, fazia de tudo por ela, minha menina que conheci quando ela tinha apenas dezenove anos, imatura e geniosa, que me deu muita dor de cabeça por ser tão teimosa e impulsiva, nunca ouvindo meus conselhos, mas sempre voltando e dizendo "é... você tinha razão"... minto, "sempre" é uma palavra forte, – Riu. – mas várias foram as vezes que fez isso sim.

Lembro, voltando ao período de Alice, que minha autoestima estava tão baixa que, por telefone, perguntei:

– O meu beijo é ruim?

Não era uma pergunta feita por quem se gaba, quando a fiz estava quase chorando enquanto sentia uma angústia horrível no peito, pois já havia me dado conta que nas vezes que fiquei com Alice, ela havia evitado me beijar e nossa, como isso machuca, mas lembro que tentei me prender à ideia de que fazia isso por causa de Diogo... eu sempre arrumava uma desculpa pra absolvê-la, mesmo que no fim a machucada fosse eu, coisa que ainda nem percebia acontecer.

– Claro que não! – Respondeu ela. – Seu beijo é muito gostoso, foi o melhor beijo que tive na vida.

– Levando em consideração sua experiência no assunto, então eu devo me sentir melhor. – Brinquei ainda arrasada, pois na adolescência, e pré-juventude (caso seja o nome certo a chamar), Amanda havia beijado muito.

– Palhaça. – Riu. – Bê, tudo que você faz é muito gostoso, não sei o porquê de você estar se sentindo tão mal assim.

– To bem não amor... muita coisa acontecendo, meu trabalho tá uma merda, eu brigo direto dentro de casa, não tenho paz.

Era difícil dizer mais do que isso, não sabia realmente como fazer, só sei que ela chegou, bem cedo, e constatou meu estado deplorável quando me viu, mas era tão bom estar em sua presença, me afundar em seus braços, parecia "seguro"... amo Amanda de todo meu coração, mas não mais como amante e eu lhe disse isso antes daquela visita, cheguei a compará-la como a uma irmã, o que a ofendeu na época, mas ela parecia decidida a reviver algo que não existia mais em mim.

– Você não vai dormir sem me fazer "sentir". – Disse ela rindo se referindo a gozar.

Se fosse a alguns anos atrás ela nem precisaria me dizer isso, na verdade não precisaria dizer nada, já estaríamos na cama e sim, eu já a teria feito gozar... conheço o caminho, conheço os atalhos e nossa, o prazer que aquilo me causava era tão intenso que chegava a quase gozar junto sem nem ao menos me tocar... mas não me sentia mais assim, não havia mais tesão.

Lembro que só de beijá-la já me sentia excitada, mas beijá-la já não era mais o meu desejo... Amanda estava insistente, a saudade e o desejo estavam estampados em seus olhos e como queria poder estar retribuindo aqueles sentimentos, já que ela foi a pessoa que mais amei em minha vida, mas realmente acreditei quando me disse que acabou, quando escolhemos continuar na Igreja e parar com nossas práticas homossexuais, coisa que víamos como algo errado.

Eu a fiz gozar, da maneira que me havia exigido, tentando ser o mais natural possível durante todo o processo, mas com um desejo profundo de que terminasse logo... eram seis ou sete da manhã quando chegou... gozou, virou pro lado e dormiu... olhei pro teto em silêncio, não fiquei chateada, pois já esperava devido a longa viagem, mas acho que já pressentia como seriam aqueles dias e isso era triste pra mim.

Amanda é taurina, não sei se isso faz dela uma pessoa prática, sinceramente ainda não entendo muito dessas coisas, por mais que já tenham me explicado milhões de coisas mais de mil vezes, mas sua praticidade as vezes não combina com meu jeito, já que dizia querer apenas sexo, independente do que sentisse por mim... sou muito prática também, quando não estou emotiva, do contrário algumas coisas são muito difíceis de lidar e naquela época eu estava com as emoções à flor da pele.

Não me lembro quantos dias ficou, mas lembro que em todos o que menos fez foi me ouvir, ou me dar colo... tentei, muito, insisti, reclamei, mas ela não conseguia pensar em outra coisa que não fosse sexo, bastava cinco minutos a sós e o assunto surgia, mesmo assim sua presença me fez me sentir melhor, não sei como, mas fez, acho que esse é poder que ela tem, me irrita, mas sempre me faz bem no final.

O longo "ano" de agosto parecia não ter fim e meu gatinho, meu pequeno travesso, continuava desaparecido e consegui ir até onde minha mãe mora, rodei o lugar por duas horas a pé num dia e duas horas a pé no outro dia, chamando, gritando, enfim, fiz de tudo possível pra tentar encontrá-lo... nada.

Finalmente terminou àquele mês fatídico, que levou embora uma das melhores partes de mim, meu pequeno chatinho e carinhoso, que dormia sobre mim todas as noites, afastando sua irmãzinha por ciúmes, que me acordava às cinco da manhã pra deitar sobre o meu peito e lamber o meu queixo, que me assistia com olhar de apaixonado a lavar a louça como se fosse divertido, que piscava os olhinhos pra mim enquanto miava fininho quando queria me engambelar e pedir algo, que me deixava beijar sua barriga e seu pescoço sem reclamar, pelo contrário, chegava a levantar a cabeça pra facilitar... enfim, que recomecem as aulas então.

Obs: Comentem e curtam. Bju ;)

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 2Where stories live. Discover now