04- André

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Meu irmãozinho, meu caçula, garoto afobado que adorava gritar o tempo inteiro sem motivo algum pra isso, menino ansioso que sempre amei, embora não tivesse muita paciência, afinal nunca gostei muito de criança e nossa diferença de idade é enorme já que eu já era adolescente quando ele nasceu... meu menino, fisicamente tão eu, emocionalmente tão minha irmã mais velha... esse capítulo será seu.

Não sei se já comentei a respeito, mas há muitos anos meu pai saiu de casa por causa da mãe de André quando eu estava prestes a fazer nove anos de idade e com ela formou uma nova família tradicional, tendo finalmente seus filhos homens tão desejados, assim como minha mãe nos contou por diversas vezes ser dele este sonho.

De uns anos pra cá, começando a partir de seus seis anos, ele começou a apresentar alguns problemas psicológicos e quando falo sobre isso não estou me referindo a problemas mentais, afinal são coisas completamente diferentes. André é muito inteligente e consciente, rapaz notável, carismático e esperto, tanto que costumamos dizer que é impossível estar muito tempo em sua companhia e não rir com alguma de suas "brincadeiras", mas a questão era que ele trazia dentro de si uma tristeza acompanhada de outros transtornos que nós não entendíamos.

Borderline... sim, ao que tudo indica, além de depressão e transtorno de ansiedade, meu irmão tem, ou possa ter, borderline, ou seja, ninguém conseguia compreender, principalmente antes deste nome ser mencionado, o porquê do mesmo ser depressivo, já que nada lhe faltava, mas o problema era o que essas coisas lhe causavam.

Como uma moeda de troca, na esperança de poder ajudá-lo de alguma forma, refleti e decidi que aquele jovem ser humano talvez pudesse ser o apoio do qual estava precisando, até porque o havia visto, por diversas vezes, criticar pessoas homofóbicas como o meu próprio pai, entrando inclusive em discussões a respeito do tema... foi o que fiz.

Eu não me encontrava muito bem, afinal já havia passado por boa parte dessa minha história com Alice e não tinha com quem conversar a respeito já que Sophia não havia se demonstrado muito aberta a ouvir desde o começo, assim como minha amiga lésbica, sendo ela e nada a mesma coisa, e minha melhor amiga, que ainda demonstrava estar apaixonada por mim, então, num dia em que estava na casa do meu pai, quando sozinha com André fiquei, disse-lhe:

– Vou te contar uma coisa, mas pelo amor de Deus André, não conta isso pra ninguém... é sério.

– Ih Ana, relaxa, não sou mais fofoqueiro não. – Riu. – Pode falar.

– Então... – Ri. – eu sou bissexual.

Como já era esperado houve espanto e chegou a dizer, em alguma de nossas várias conversas, que não tenho jeito de sapatão, embora não seja o que muitas das demais pessoas acham a meu respeito. – Ri.

Foi ali que André se tornou o primeiro membro de minha família a saber da minha sexualidade, mas não só por eu pensar em usar disso pra tentar extrair alguma informação a respeito de seus problemas, mas sim porque senti que poderia confiar, senti que ele seria o único dentre todos que poderia me compreender, não com o intuito de aprovação, mas com o objetivo de ter alguém que ouça sem julgamento, independente do que pudesse me dizer em retorno.

Contei-lhe então sobre Alice e todo o meu drama vivido até ali e, com isso, várias conversas surgiram onde, por muitas vezes, ele foi meu colo amigo, mesmo sendo apenas um rapaz de quatorze anos na época, chegando ao nível de que não precisávamos mais falar, nós nos abraçávamos e era isso, ou ele chorava, ou eu chorava... até playlist de casal criou pra mim e Alice... cheguei a mostrar pra ela, que demonstrou gostar.

André ainda era virgem em todos os sentidos e tinha muitas curiosidades, tanto em relação a beijo quanto em relação a sexo e estes foram assuntos que muito nos aproximaram. Independente de mais nada fico muito feliz por isso, mas minha preocupação ainda continuava, pois meu irmãozinho ainda tinha seus momentos de crise, sobre as quais ainda irei mencionar durante essa história.

Toda a questão é que vivi até aquele momento com uma linha de raciocínio, ou seja, possuía opiniões formadas a respeito de tudo, por mais confusa que estivesse, até que Agosto chegou em minha vida com o intuito de tirar o meu chão e me mostrar que tudo que cria saber era questionável e, provavelmente, diferente... ou não... enfim, só continuando pra saber, pois garanto... reviravoltas estão por vir.


Obs: Comentem e curtam. ;)

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 2Where stories live. Discover now